Ricardo Baraçal: Até quando compraremos moeda estrangeira em papel?
Com a instalação da pandemia do Covid-19 em diversas regiões do globo, o papel-moeda, que para muitos já vinha sendo gradativamente deixado de lado, parece prestes a entrar em extinção. Com as orientações de isolamento social e uma série de estabelecimentos fechados, muitos passaram a consumir via e-commerce e aplicativos de entrega, que dão preferência por pagamentos com cartão ou com carteiras digitais.
De acordo com uma pesquisa do Instituto Locomotiva divulgada no último trimestre de 2019, cerca de 70% dos brasileiros ainda utilizavam o dinheiro em espécie como principal método de pagamento. Ainda não temos um estudo equivalente com os impactos da pandemia, mas um levantamento recente da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) revela que as compras com cartão aumentaram mais de 14% no primeiro trimestre de 2020 — período que abrange apenas o início da pandemia aqui no Brasil.
No mesmo intervalo, o crescimento do uso de cartões pré-pagos foi de 77,6%. Nesta categoria, muito provavelmente temos pessoas que até então não acessavam o sistema bancário formalmente, mas que foram obrigadas a se digitalizar para seguirem consumindo em tempos de isolamento social. A tendência é que esta variação seja significativamente maior entre abril e junho desde ano, meses mais afetados pela crise.
A ideia de uma sociedade sem dinheiro é promissora, principalmente quando os cuidados globais com a higiene aumentam e são adotados em larga escala. Não à toa, alguns países já começaram a tomar medidas para a desinfestação do papel-moeda, principalmente de notas repatriadas. Diante deste cenário, fazemos o seguinte questionamento: até quando fara sentido vendermos o papel-moeda àqueles que viajam ao exterior? Obviamente que esta demanda ainda segue represada, mas tende, pouco a pouco, a voltar à normalidade.
No Brasil, temos ainda um grande obstáculo a ser vencido, o tão conhecido IOF (Imposto sobre Operações de Crédito). Enquanto a alíquota que incide sobre a compra de papel-moeda é de 1,1%, a taxa sobre os volumes gastos em cartão de crédito ou mesmo nos cartões pré-pagos é de 6,38%.
No último caso, o usuário ainda tem de arcar com taxas para a emissão do cartão e para saques — que por sua vez são limitados no exterior. Tamanha taxação acaba, naturalmente, desincentivando a adoção por meios digitais pelo consumidor viajante.
Em novembro, o Banco Central deve implementar o PIX, seu sistema de pagamento instantâneo, que permitirá transferências e pagamentos entre pessoas, empresas e governos 24 horas por dia, sete dias por semana. Isso a baixo custo e, obviamente, de forma menos burocratizada.
Sem dúvida alguma, a ferramenta contribuirá ainda mais para o abandono de notas e moedas internamente, uma vez que até mesmo a passagem do ônibus poderá ser paga instantaneamente, seja por um cartão ou mesmo celular, sem a necessidade de instituições intermediárias.
Muito provavelmente este será um passo definitivo para uma futura extinção do dinheiro em espécie. Com o pagamento instantâneo gestado em terras brasileiras, talvez seja a hora de começarmos a pensar também em como facilitar e baratear as transações de câmbio. O mundo segue pelo caminho do paper free quando o assunto é meio de pagamento. O caminho é longo, mas viabilizar pagamentos no exterior de forma rápida, segura e cada vez mais acessível, é algo que deve beneficiar a todos.