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Ricardo Baraçal: a pandemia e as fintechs já mudaram o comportamento de compra de câmbio

30 jul 2020, 18:33 - atualizado em 30 jul 2020, 21:39
“A pandemia surgiu como um daqueles fatores que nos forçam a mudar”, disse o colunista (Imagem: Unsplash/@bermixstudio)

Se há uma certeza neste momento em que vivemos é que nada será como antes. A palavra de ordem é ADAPTAÇÃO. E nós, seres humanos, apesar de muito adaptáveis, temos dificuldades em mudar certos hábitos.

Nós mudamos nossos padrões de comportamento somente com muito condicionamento ou quando somos forçados a mudar por agentes externos, que nos tiram da zona de conforto.  E isso é muito forte quando associamos esta peculiaridade ao nosso comportamento de compra.

A pandemia surgiu como um daqueles fatores que nos forçam a mudar. Tivemos que nos adaptar, não houve outro caminho.  E muito desta mudança está na forma em que passamos a comprar determinados produtos, levando a um aumento de tráfego estrondoso em todas as plataformas de e-commerce.

Segundo o indicador de consumo MCC-ENET, desenvolvido pelo Comitê de Métricas da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico (camara-e.net) em parceria com o Movimento Compre & Confie, o e-commerce praticamente dobrou suas vendas no mês de abril, com uma alta de 99% em relação ao mesmo período do ano passado. Quando analisamos o faturamento, este número registrou crescimento de quase 82%.

Com o câmbio não será diferente. Apesar de uma dificuldade natural enfrentada pelo câmbio turismo com a redução drástica das viagens, o setor tem buscado se transformar digitalmente e agora já sente um aumento da demanda por meio desta modalidade de compra.

A experiência digital de compra de produtos financeiros de alto valor agregado e absoluto sempre gerou um certo receio por parte do cliente.  Hoje, uma simples compra que custe US$ 1 mil em papel moeda, por exemplo, representaria cerca de R$ 5,5 mil em cotações atuais. Trata-se de um valor alto, especialmente para comprar de alguém que você não vê e não ouve diretamente.

“A experiência digital de compra de produtos financeiros de alto valor agregado e absoluto sempre gerou um certo receio por parte do cliente”, disse o colunista (Imagem: Divulgação/ Frente Corretora)

Esse receio, porém, começou a cair por terra com a impossibilidade de um cliente se dirigir a uma loja para recorrer a algum serviço de câmbio presencial (que tem como único benefício tangível o conforto psicológico).

Atualmente já é possível comprar papel moeda por e-commerce, solicitar a entrega por delivery, pagar da forma que desejar – cartão, boleto, TED –, agendar a entrega e ainda receber em casa. Além disso, fazer remessas internacionais através das fintechs, especialmente aquelas que utilizam a tecnologia blockchain, possibilita realizar transferências internacionais de modo mais rápido e barato, de forma 100% digital.

Por isso, uma vez que o atual cenário estimulou  essa experimentação  do modelo digital de compra de câmbio, nada mais será como antes.

Isso vai impactar de maneira muito relevante o setor  e redirecionar o foco dos grandes players, que hoje operam com preços muito altos devido aos altos custos de manutenção de uma ampla rede de lojas e franquias. Custos como condomínio, aluguel,  segurança, estoque de moeda em espécie e logística sempre irão impactar no valor final da compra

A transformação digital cruzou a sua última fronteira dentro do mercado financeiro e ela é o câmbio. Essa é uma equação que une mudança de comportamento, ferramentas que consigam atender aos processos regulatórios e que tragam uma experiência segura, fácil e barata ao cliente. Essa transformação mudará de vez este mercado nos mesmos moldes do que já se viu no mercado segurador e de investimentos. A palavra da vez é conveniência.

A experiência do cliente deve estar no centro das futuras decisões de qualquer companhia. Não será diferente com o câmbio, que não deve ser burocrático, lento e caro. Esta visão já  é uma realidade: os novos players de mercado estão atentos para uma retomada muito mais digital do que se imaginava.