Mercados

Revisão da B3 (B3SA3) mostra que apenas fluxo estrangeiro não pode guiar investidor local

23 maio 2022, 16:47 - atualizado em 23 maio 2022, 16:48
Área interna da B3, operadora da Bolsa brasileira
Economista cita como elemento a ser monitorado para o estrangeiro a incerteza em torno da economia da China. (Imagem: Kaype Abreu/Money Times)

A revisão de dados de fluxo estrangeiro anunciada pela B3 (B3SA3) mostra que a entrada do investidor de fora do país não pode ser a única baliza para a tomada de decisão dos agentes locais, disseram analistas nesta segunda-feira (23).

A operadora da bolsa brasileira informou que o saldo em 2021 passou de positivo em R$ 70,8 bilhões para negativo R$ 7,2 bilhões, enquanto a revisão do ano anterior foi de negativo em R$ 31,8 bilhões para negativo em R$ 39,7 bilhões.

Economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack diz que o discurso de que a Bolsa estaria tão barata que estrangeiros estariam comprando tem que ter “sustentação”. “Não dá para generalizar, porque há dezenas de setores”, afirma.

Abdelmalack avalia que faz sentido dizer que as ações de “alguns setores” estão descontadas porque a Bolsa tem um histórico recente de perdas enquanto os mercados globais estavam em alta. Mas, destaca, o fato de estarem “baratas” não garante ganhos futuros.

“É preciso fazer um trabalho a mais [de análise]”, afirma.

Para o fundador e estrategista-chefe da SaraInvest, Marco Saravalle, a revisão anunciada pela B3 é válida para que se repense teses de investimento. “Não vamos comprar Bolsa apenas porque meu vizinho está comprando”.

O economista defende que o investidor compre Bolsa porque deseja ser sócio de boas empresas e participar do lucro no longo prazo. “Cada um precisa fazer sua análise e conhecer companhias em que está investindo”, afirma.

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Dúvida

Saravalle avalia que fica uma dúvida de como medir o ânimo real dos investidores em relação à oferta e Brasil. “Essa é uma incerteza momentânea”, comenta, ressaltando que não acha que a B3 perde credibilidade com o episódio.

“Não devemos perder a confiança nos dados disponibilizados pela B3 – principalmente os dados que são cruciais, que envolvem operações financeiras”, diz. “Não foi grande erro, mas o que faltou foi maior transparência em relação à metodologia de cálculo”.

A B3 revisou os dados de fluxo estrangeiro porque detectou um erro na metodologia que usava anteriormente. Os saldos do mercado secundário neste ano já haviam sido revisados em abril.

O analista da Toro Investimentos Lucas Carvalho diz que a revisão não muda a percepção que se tinha da entrada dos investidores de fora do país, já que o dado de 2022 continua positivo – entrada de R$ 49,3 bilhões até 18 de maio.

“É um fluxo que justifica o câmbio e o Ibovespa, que iniciou o trimestre muito bem”, avalia, destacando que a casa vai acompanhar “todas as movimentações”, já que a participação do estrangeiro no total da Bolsa é relevante.

O que esperar

Abdelmalack, da Veedha, vê o ambiente político ganhando uma relevância maior para a tomada de decisão do investidor estrangeiro a partir do segundo semestre.

“Quando a gente tem o tema de contas públicas e responsabilidade fiscal vindo à tona, aumenta a percepção de risco”, afirma. Segundo ela, o estrangeiro não reage bem a esse ambiente – o que pode, avalia, abrir espaço para a Bolsa cair mais.

Muito relevante para a tomada de decisão está ainda o aperto monetário em todo o mundo, em especial nos Estados Unidos. O movimento tende a enxugar os recursos para os mercados emergentes.

A economista ainda cita como elemento a ser monitorado a incerteza em torno da economia da China, impactada pela política de fortes restrições para conter o avanço da covid-19.

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