Economia

Reversão do encurtamento da dívida será gradual, diz Funchal

18 set 2020, 10:26 - atualizado em 18 set 2020, 10:26
Bruno Funchal
O ambiente de maior aversão ao risco nos mercados, provocado pelas incertezas fiscais, vem pressionando a curva de juros futuros (Imagem: Edu Andrade/Ministério da Economia)

O encurtamento do perfil da dívida pública em 2020 será revertido gradualmente à medida que a agenda de reformas avance, o PIB reaja e as incertezas fiscais se dissipem, disse o secretário do Tesouro, Bruno Funchal, em entrevista.

O Tesouro teve de aumentar a venda ao mercado de títulos de dívida com prazos mais curtos em razão do menor apetite por risco dos investidores. Segundo o secretário, houve busca por liquidez diante do déficit fiscal elevado devido ao aumento dos gastos para combater a pandemia.

O ambiente de maior aversão ao risco nos mercados, provocado pelas incertezas fiscais, vem pressionando a curva de juros futuros. Na semana passada, o Tesouro ofertou volume recorde de papéis prefixados, o que surpreendeu os investidores. Nesta quinta-feira, a oferta foi reduzida para menos da metade da anterior, o que trouxe alívio.

Apenas avanços na direção das reformas “farão com que toda a curva se reduza e que possamos, no médio e longo prazo, surfar numa economia de juros baixos”, afirmou em entrevista por email. A Selic em mínimas históricas trouxe redução do custo médio da dívida, conforme o secretário.

Colchão

Os ajustes na estratégia de financiamento e a transferência de R$ 325 bilhões de lucros do Banco Central para o Tesouro foram insuficientes para sustentar um limite tradicional de seis meses para o colchão de liquidez da dívida. Este limite prudencial acabou sendo encurtado para três meses em 2020.

O secretário disse que esse é um movimento natural diante da pandemia. Segundo Funchal, a expectativa, no entanto, é manter o colchão sistematicamente acima do parâmetro prudencial.

Desafios

A rolagem da dívida é “muito desafiadora”, disse Carlos Kawall, diretor do Asa Investments e ex-secretário do Tesouro, em entrevista.

Depois dos vencimentos de R$ 362,5 bilhões da dívida no terceiro trimestre, o Tesouro tem obrigações de R$ 152,7 bilhões no quarto trimestre e de R$ 437,2 bilhões nos três primeiros meses de 2021.

Para Kawall, nesse cenário, é fundamental que governo emita sinal forte de redução das incertezas fiscais até fim do ano. “O mercado de dívida pública está emitindo sinais de que a estratégia de endividamento do governo tem limites.”

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