Reversão de colapso da confiança no Reino Unido exige reviravolta na política econômica, dizem economistas
A confiança dos investidores no Reino Unido só vai se recuperar se o ministro das Finanças, Kwasi Kwarteng, desistir do plano econômico que desencadeou enorme turbulência nos mercados financeiros, alertaram importantes economistas, investidores e bancos nesta terça-feira.
A libra atingiu uma baixa histórica de 1,0327 dólar na segunda-feira e os títulos do governo britânico foram vendidos em um ritmo feroz, conforme os mercados perderam a confiança no novo governo da primeira-ministra Liz Truss. Alguns provedores de hipotecas, incapazes de precificar empréstimos, suspenderam as vendas.
O economista norte-americano Larry Summers disse que o primeiro passo para recuperar a credibilidade era “não dizer coisas incríveis”, depois que Kwarteng sugeriu que haveria mais cortes de impostos além dos 45 bilhões de libras em cortes financiados por dívidas que ele anunciou na semana passada.
Summers, ex-secretário do Tesouro dos EUA, apontou o aumento das taxas de juros sobre a dívida britânica como uma “marca de que a credibilidade foi perdida” e disse que a crise afetará a viabilidade de Londres como centro financeiro global.
“Meu palpite é que a libra ficará abaixo da paridade com o dólar e o euro”, acrescentou.
Huw Merriman, parlamentar conservador que apoiou o rival de Truss, o ex-ministro das Finanças Rishi Sunak, na corrida para se tornar primeiro-ministro, disse que a vencedora parece estar “perdendo nossos eleitores com políticas contra as quais advertimos”.
“Para o bem de nosso país e a subsistência de todos em nosso país, ainda espero estar errado”, disse ele no Twitter.
O parlamentar conservador Andrew Bridgen disse à BBC Radio que conversou com Kwarteng desde sexta-feira e que espera que ele corte os gastos do governo nas próximas semanas.
Em resposta à turbulência, o Banco da Inglaterra e o Tesouro divulgaram declarações após o fechamento das bolsas de Londres na segunda-feira, na esperança de tranquilizar os investidores, com o banco central dizendo que não hesitaria em aumentar as taxas de juros, se necessário.
Isso imediatamente derrubou a libra ainda mais, já que alguns investidores apostaram em um aumento emergencial da taxa, embora a moeda tenha se recuperado parcialmente nesta terça-feira.
Os rendimentos dos títulos do governo britânico também caíram acentuadamente, mas revertendo apenas parcialmente os aumentos históricos observados na sexta e na segunda-feira.
O economista Allan Monks, do maior banco dos Estados Unidos, J.P. Morgan, disse que a intervenção verbal do BoE e do Tesouro foi “medida”.
“Mas ainda não há um sinal claro de que a fonte do problema -a estratégia fiscal do governo- esteja sendo revertida ou reconsiderada”, disse Monks.
“Isso precisará acontecer antes de novembro para evitar um resultado muito pior para a economia.”
Chris Scicluna, chefe de pesquisa econômica da Daiwa Capital Markets, disse que não há razão para que os mercados dêem ao governo o benefício da dúvida antes do anúncio fiscal de Kwarteng no final de novembro.
“O mercado pode forçar sua mão e ainda pode haver um aumento de taxa de emergência antes da próxima reunião do BoE”, disse ele, referindo-se ao próximo anúncio de política monetária agendado para 3 de novembro.
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