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Reunião do CMN: Meta de inflação é decisiva para futuro da Selic; entenda

26 jun 2023, 14:44 - atualizado em 26 jun 2023, 17:14
CMN, meta de inflação
Tradicionalmente, a reunião de junho do CMN é destinada para definir a meta de inflação. Este ano, atual sistema será debatido.(Montagem: Money Times)

Na quinta-feira (29), o Conselho Monetário Nacional (CMN) se reúne para o que deve ser o seu encontro mais importante. Tradicionalmente, é na reunião de junho que o grupo define a meta de inflação. Neste ano, a meta que será definida é a de 2026.

No entanto, esta edição do CMN promete pegar fogo. Isso porque os integrantes Fernando Haddad, Simone Tebet e Roberto Campos Neto deve debater uma mudança nas metas de inflação já definidas. As atuais metas para 2023, 2024 e 2025 são de 3,25%, 3% e 3%, nesta ordem.

A revisão das metas entrou no radar do mercado no começo do ano, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva questionou se não era melhor aumentar a meta para ajudar o Banco Central na redução da Selic.

“Você estabeleceu uma meta de inflação de 3,7% [a meta estipulada para 2023 é de 3,25%] e quando faz isso é obrigado a arrochar mais a economia para poder atingir a meta. Por que não 4,5%, como nós fizemos?”, disse Lula no dia 18 de janeiro em entrevista a GloboNews.

Ainda não está clara a proposta do governo, mas os economistas do Itaú apontam que deve ser confirmada a meta de inflação em 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual. O que deve mudar é que a meta deve passa de ano calendário para contínua.

Com isso, a política de verificação de cumprimento da meta é redefinido, mas segue o padrão internacional, deixando para o Banco Central definir o horizonte de convergência.

Se a projeção se confirmar, será algo bem-visto pelo mercado. A preocupação era de que uma nova meda poderia pressionar as expectativas inflacionárias.

“Essa discussão começou em janeiro desse ano e com muito ruídos, em meio à possibilidade de a meta ser elevada para 4,0-4,5%, inclusive para os anos de 2023, 2024 e 2025 […] O objetivo inicial parecia oportunístico, acreditando-se, erroneamente na nossa visão, que uma meta de inflação maior daria flexibilidade para a política monetária, eventualmente culminando em maior espaço para cortes de juros”, diz o relatório do Itaú.

Os economistas completam, destacando que uma elevação da meta resultaria em expectativas inflacionárias e inflação mais elevada, prejudicando especialmente a população de menor renda, e traria riscos para o cenário econômico.

Já a mudança de ano calendário para contínua pode trazer uma certa flexibilidade para a meta. “Com a mudança, o BC passaria a perseguir o nível determinado para a inflação acumulada em 12 meses em um período mais flexível, que ainda não está claro se será de 18 ou de 24 meses. Atualmente, a definição é feita por ano-calendário”, afirma Rafael Passos, analista da Ajax Capital.

Basicamente, se objetivo de inflação for perseguido por um período mais longo, o Banco Central poderia abrir um pouco a mão na sua política monetária. O Comitê de Política Monetária (Copom) começou a elevar a Selic em março de 2021, até chegar em 13,75% ao ano em agosto do ano passado. Desde então, a taxa básica de juros segue no mesmo patamar.

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Copom cauteloso

Na semana passada, o Copom jogou um balde de água fria no mercado, que esperava uma sinalização de corte nos juros a partir de agosto. O comunicado do Banco Central não trouxe muita abertura para a ideia, ainda assim os economistas consideram que a autarquia está esperando justamente a reunião do CMN.

David Beker, chefe de economia para Brasil e de estratégia para América Latina do Bank of America, aponta que, de uma maneira geral, o comunicado é mais um passo na comunicação do Banco Central rumo a uma postura mais dovish – ou seja, disposto a baixar os juros.

“O conselho não depende apenas dos dados, mas também aguarda a decisão do CMN na próxima semana e novas melhorias nas expectativas de inflação antes de cortar as taxas. Continuamos esperando que o ciclo de flexibilização comece em agosto, com um corte inicial de 0,50 pp. A taxa Selic deve fechar o ano em 11,75%, com a taxa terminal desse ciclo em 9,50% alcançada em 2024”, afirma.

Como funcionam as metas de inflação

As metas de inflação foram implementadas em julho de 1999 pelos, então, ministro da Fazenda, Pedro Malan, e o presidente do Banco Central, Armínio Fraga.

O sistema busca um parâmetro de referência para as expectativas de inflação e que deve ser perseguido pelo Banco Central. Por exemplo, a meta de 2023 é de 3,25%. Logo, a autoridade monetária deve tomar medidas para tentar trazer a inflação para esse patamar.

Vale destacar que o sistema também prevê um intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo.

Quando a meta não é cumprida, o presidente do Banco Central precisa escrever uma carta ao ministro da Fazenda justificando o motivo.

Desde que o modelo foi implementado, a inflação ficou fora da em sete vezes: ficando abaixo da banda tolerável em 2017; e acima em 2001, 2002, 2003, 2015, 2021 e 2022.