Reta final: Esses fatores devem ditar o último mês do Ibovespa em 2022
O ano de 2022 está perto de acabar. No acumulado, o Ibovespa avança mais de 6%, mas a volatilidade causada pelas incertezas com a situação fiscal do Brasil e a composição do governo Lula a partir de 2023 pressiona o índice e levanta dúvidas em alguns analistas quanto a um potencial rali de fim de ano.
Régis Chinchila e Luis Novaes, da equipe de análise da Terra Investimentos, afirmam que, além da PEC da Transição, a postura do novo governo de não divulgar de imediato os planos econômicos para os próximos quatro anos e a falta do nome que estará à frente do Ministério da Fazenda impossibilitam que os investidores se comprometam com o mercado.
Os analistas avaliam que a proposta apresentada pelo governo eleito que permite um furo de até R$ 198 bilhões no teto de gastos a partir do próximo ano para cumprir com as promessas de campanha foi “uma grande quebra de expectativa sobre o desfecho das eleições”.
“O mercado já esperava que o governo fosse tomar medidas fiscalmente negativas para assegurar os recursos dos programas sociais. Entretanto, a magnitude da PEC coloca em dúvida a estabilidade fiscal do país, caso aprovada”, explicam.
A Terra diz que o mercado está em modo de observação, à espera do desfecho para se posicionar.
“Assim, o índice deve seguir lateralizado até que esse ou outros fatores modifiquem a perspectiva dos investidores”, completa a corretora.
Graficamente falando, o Ibovespa apresenta dificuldades em iniciar um movimento de recuperação, aponta uma análise do Itaú BBA.
Incerteza, a vilã
Leonardo Neves, especialista em renda variável da Blue3, lembra que o investidor gosta de ter clareza sobre o que ele pode enfrentar mais à frente. Quanto mais previsibilidade ele tem, mais à vontade ele fica na hora de tomar riscos, reforça.
Pensando nisso, Neves ressalta que a sensação de que pode haver um descontrole fiscal no próximo ano assusta tanto investidores estrangeiros quanto locais.
“Essa sensação de que o teto de gastos pode ser ultrapassado em um valor exorbitante pode assustar os estrangeiros e os investidores aqui no Brasil”, diz.
Para Neves, a partir do momento que houver uma definição, a Bolsa brasileira pode sair favorecida e até aproveitar um rali de fim de ano tardio em 2022.
O analista e co-fundador da Escola de Investimentos Rodrigo Cohen não está tão otimista. Ele acha difícil ter uma boa expectativa para o Ibovespa no fim do ano, citando também a incerteza como fator.
Na avaliação de Cohen, o cenário político não está precificado.
“Lula ainda é uma incógnita e está atuando de forma bem diferente do que era esperado”, comenta.
Victor Paganini, analista da Quantzed, afirma que os investidores podem esperar, no mínimo, um fim de ano altamente volátil, com uma combinação ruim de incerteza e um cenário macroeconômico desfavorável, atrelado ao contexto político.
Paganini acredita que as chances de recuperação do mercado em dezembro são mínimas.
“Temos menos de um mês e um mercado sem sinal de que vai se recuperar. Essa questão de incerteza vai ficar no radar. É muito difícil esperar um movimento positivo neste fim de ano”, avalia o analista.
Impacto do exterior
O analista da Quantzed observa um efeito de descolamento dos mercados globais com o mercado local. Ultimamente, as Bolsas internacionais têm experimentado uma tendência positiva, enquanto o risco fiscal e os juros ainda elevados jogam pressão sobre o Ibovespa.
Segundo Paganini, como o foco principal do Ibovespa está no cenário político brasileiro e o mês de dezembro é o mais importante por conta da transição, o mais provável é que o movimento doméstico continue descolado com o desempenho lá fora.
Cohen, da Escola de Investimentos, destaca que o cenário exterior está mais frouxo.
“[Jerome] Powell deu a entender que fará altas de juros em ritmo menor. Também não há nenhuma notícia nova em relação à Rússia e à Ucrânia. A China está caminhando para diminuir as políticas de Covid Zero, o que o mercado vê de forma muito positiva. Com isso, o cenário exterior tem ficado mais frouxo”, resume o analista.
Cohen diz que o peso do exterior só fará grande efeito se acontecer algum imprevisto que pegue o mercado de surpresa. Como Paganini, ele reforça que o ambiente doméstico está pesando mais para o Ibovespa.
Neves, da Blue3, observa que, caso os riscos externos e a situação no Brasil mostrarem desfecho mais favorável para a economia em geral, pode-se esperar um rali de fim de ano – ainda que não tão forte quanto no passado.
O especialista ressalta, no entanto, que o movimento contrário também pode acontecer.
“Se esses dois assuntos trouxerem aspectos negativos para a economia, a gente pode ver a Bolsa não só não ‘performar’ um rali de fim de ano, como também acabar tendo uma queda mais expressiva durante o último mês do ano”, completa.