Resultados do 4T22: Veja as empresas que devem chamar a atenção (para o bem ou para o mal)
O mês de fevereiro começou há pouco, mas a verdade é que parece que já estamos na metade de 2023 dada a quantidade do fluxo de notícias.
Começamos o ano com um bate-cabeça do governo. Em uma série de equívocos de comunicação, o novo governo trouxe na mala uma grande dose de incerteza. Repercutiu muito mal as falas sobre uma possível reversão da Reforma da Previdência, mudanças de regulação em setores vitais para a economia, na meta de inflação e eventual fim da autonomia do Banco Central.
Pouco depois, tivemos o caso Americanas (AMER3). Embora já tenha sido bastante destrinchado pela mídia, ainda guarda uma série de dúvidas por parte de todo o mercado. Qual será o caminho a ser perseguido pelos acionistas de referência? Qual será o valor e quando será feita a capitalização da companhia?
É possível realizar a venda de ativos para reduzir a dívida e melhorar a sua estrutura de capital? Existe mais alguma inconsistência contábil no balanço da Americanas? Ainda não temos essas respostas e à medida que o tempo passa, novas perguntas vão surgindo…
Enquanto vivíamos a saga Americanas (como sou o responsável pelo varejo de e-commerce na Empiricus, estive bastante envolvido nos recentes debates, entrevistas e podcasts), ganhou força a narrativa em torno da retomada da economia chinesa. Os dados provenientes do país asiático, especialmente após o feriado lunar, que era considerado o primeiro teste da economia após o fim da política de covid-zero, foram animadores.
Não por menos, os grandes destaques da Bolsa brasileira em janeiro foram as empresas ligadas à commodities, como Vale (VALE3), CSN (CSNA3), CSN Mineração (CMIN3), Metalúrgica Gerdau (GOAU4), etc.
Resultados do 4T22: Gigantes americanas começam com o pé esquerdo
Na sequência, iniciou-se a temporada de resultados americana (que segue aberta). Por ora, o que mais tem chamado a atenção foram os resultados das big techs americanas.
Embora não estejam dentro da minha zona de conforto, haja visto que concentro grande parte do meu tempo estudando o mercado brasileiro, conversando com meus colegas de equipe fica claro como houve uma importante desaceleração dessas companhias.
Na Amazon, o grande destaque dos últimos anos, a Amazon AWS, mostrou uma desaceleração acima do esperado, com seu ritmo de crescimento agora se normalizando num patamar de 20% ao ano, bem abaixo do ritmo de 2020 e 2021.
A Apple apresentou a maior queda em suas receitas trimestrais desde 2016, e a Microsoft o menor crescimento de receita desde o segundo semestre de 2017. Completando o quarteto, os números de Alphabet (dona do Google) também não animaram os investidores.
Taxa de crescimento trimestral da receita da Microsoft desde 2006. Fonte: Charlie Bilello
Esse resultado mais fraco das big techs poderia sugerir que o ano começou mal para as Bolsas americanas, né? Na realidade, não. O S&P 500 apresentou uma alta de 7% nos primeiros 21 dias do ano, o que se configura como o oitavo melhor começo de ano desde 1928.
Ranking dos 15 melhores começos de ano do S&P 500. Fonte: Charlie Bilello
4T22: Resultados de empresas brasileiras começam a sair
Agora, os holofotes dos investidores brasileiros se viram (mesmo que parcialmente) para a temporada de resultados referente ao 4T22. Em função do prazo superior a 2 meses para divulgação, houve um deslocamento de resultados para março. De todo modo, entramos nessa temporada com uma Bolsa ainda atrativa apesar das altas de janeiro.
De acordo com os dados da Bloomberg, o lucro estimado pelo consenso de mercado para o Ibovespa para os próximos 12 meses está em torno de 7,7 vezes, o que se configura um desconto de 33% em relação à média histórica. Ao expurgarmos Vale (VALE3) e Petrobras (PETR4), o múltiplo ainda é atrativo em 9,7 vezes – desconto de 27% em relação ao histórico.
Fonte: Empiricus
Olhando setorialmente, os bancos costumam ser os primeiros a apresentar seus balanços e já é possível identificar algumas tendências. O Santander (SANB11) divulgou números consideravelmente abaixo da expectativa de mercado.
Além do problema de inadimplência, que já vem sendo debatido há algum tempo no setor, o episódio da Americanas (AMER3) também pesou. Já o Itaú (ITUB4), divulgou seus números ontem à noite, que vieram em linha com o consenso.
Ainda no setor financeiro, teremos nesta próxima sexta-feira a divulgação de resultado da Porto (PSSA3), que deverá ser o grande destaque da semana. De acordo com os dados da Superintendência de Seguros Privados (SUSEP) divulgados no final de janeiro, a Porto obteve um lucro líquido de R$ 142 milhões em dezembro.
No trimestre, a minha estimativa é de que o lucro tenha sido de quase R$ 500 milhões, o que fica 20% acima do consenso de mercado. Em relação aos prêmios, houve crescimento de 26% na comparação anual (como era a nossa expectativa) e queda forte na sinistralidade por conta dos menores custos.
Outro setor que será interessante analisar é o varejo de moda, especialmente porque espero uma grande dispersão de resultados. De um lado, o varejo voltado para classes mais baixas, que deve apresentar resultados mais fracos e, de outro, o varejo mais premium, que tem poder de repasse de preço e tem performado bem nos últimos trimestres.
Graduado em Engenharia Mecânica pela UFRJ e com MBA de Finanças pela mesma instituição, Fernando Ferrer atua na Empiricus como analista de investimentos há 5 anos. Atualmente, é responsável pela série best-seller As Melhores Ações da Bolsa e faz parte da equipe que comanda o Carteira Empiricus, o portfólio multimercado que é o carro-chefe da casa. Colunista da newsletter Day One, Fernando passou a integrar o time de colunistas do Money Times com sua série semanal Entre Altas e Baixas.