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Responsáveis pela liquidação da corretora Cryptopia sofrem críticas de vítimas do hack

03 ago 2020, 9:25 - atualizado em 03 ago 2020, 9:25
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A saga Cryptopia parece não ter fim: vítimas do ataque à corretora alegam que os liquidadores da Grant Thorton não cumpriram com suas obrigações (Imagem: Facebook/Cryptopia)

Desde o lançamento de seu terceiro relatório sobre a liquidação da hackeada corretora Cryptopia em junho, liquidadores Grant Thornton estão sob ataque das vítimas do hack por ter pagado mais de US$ 1,7 milhões de dólares a si mesmos em taxas — que totalizados com outras despesas totalizam mais da metade dos fundos da Cryptopia que foram assegurados desde que a corretora está sob liquidação.

Vítimas insatisfeitas da falida corretora Cryptopia contrataram o escritório de advocacia neozelandês Chapman Tripp para investigar os liquidadores da corretora Grant Thornton pelo que dizem ter sido uma falha da empresa em cumprir com suas tarefas de liquidadores sobre a Lei de Empresas da Nova Zelândia.

Atuando em nome do projeto blockchain de aprendizagem de máquina GNY, advogados da Chapman Tripp afirmam que liquidadores falharam em cumprir com suas tarefas de aceitar ou rejeitar pedidos o mais rápido possível, de agir imparcialmente pelos interesses do órgão completo de credores, tratar partes com interesses distintos da mesma forma, proteger, realizar e distribuir os ativos da Cryptopia de uma forma razoável e eficaz e realizar a liquidação com o devido cuidado e aptidão.

A observação do Chapman Tripp aos interesses particulares das vítimas do hack à Cryptopia em sua notificação aos liquidadores que, apesar da Grant Thornton conseguir assegurar US$ 11 milhões de dólares neozelandeses dos fundos da Cryptopia desde o início do processo de liquidação, gastou US$ 1,7 milhão em taxas à Grant Thornton, US$ 1,2 milhão em despesas jurídicas, US$ 649.187 em hospedagem de servidores, US$ 714.143 em salários a funcionários da Cryptopia e US$ 489.104 em pagamentos de taxas sobre bens e serviço ao departamento de receita do país.

Referindo-se à falha da Grant Thornton em cumprir com suas tarefas “em andamento” em nome de seus clientes GNY, Chapman Tripp finalizou sua carta ao pedir que Grant Thornton tome inúmeras ações remediais até o dia 28 de agosto — incluindo informações à GNY sobre como pretende realizar o restante das liquidações e distribuir os ativos restantes.

Até agora, não há uma resposta pública da Grant Thornton além de negar qualquer falha em suas tarefa sob a lei.

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Em dezembro de 2019, os liquidantes da Grant Thornton relataram que aproximadamente US$ 7,15 milhões foram recuperados desde o início da liquidação, no dia 14 de maio de 2019 (Imagem: Crypto Times)

Panorama sobre a liquidação da corretora Cryptopia

Cryptopia era uma corretora de criptoativos operada por Rob Dawson e Adam Clark entre 2014 e 2019. A corretora era sediada em Christchurch, na Nova Zelândia. Dawson e Clark eram mais conhecidos pelos nomes de usuário “Hex” e “sa_ddam213”.

Dawson disse que ele e Clark resolveram criar a Cryptopia após experiências negativas com outras corretoras e “um desejo de criar um site que nós mesmos desejaríamos usar”.

Após dois anos de operação, Dawson e Clark se demitiram de seus empregados para operar a Cryptopia em tempo integral. O auge de popularidade da plataforma foi na bull run de 2017, quando o valor do bitcoin (BTC) e de outros criptoativos disparou.

Em 2018, a Cryptopia tinha mais de 80 funcionários e uma base de usuários de 1,4 milhão.

Em 15 de janeiro de 2019, a conta no Twitter da Cryptopia anunciou que a plataforma de negociações havia sofrido uma grande violação de segurança resultando em “perdas significativas”.

Serviços de negociação foram suspensos e uma investigação policial foi iniciada naquela noite. Isso resultou em um fechamento e investigação física da sede da empresa no dia seguinte.

O hack comprometeu mais de 70 mil carteiras e mais de US$ 23 milhões em ether (ETH) e tokens ERC-20 foram roubados. Um segundo ataque aconteceu em 28 de janeiro, em que mais US$ 284 mil de 17 mil carteiras foram roubados.

Em maio de 2019, foi anunciada a liquidação da corretora. Um relatório investigativo do site de notícias local Stuff sugeriu que houve conflitos e tensões pessoais entre os membros fundadores e equipes executivas da Cryptopia. Até agora, ninguém foi acusado do roubo.

David Ian Ruscoe e Malcolm Russell Moore, da Grant Thornton New Zealand Limited, foram escolhidos como os liquidadores da Cryptopia Limited. A empresa lançou seu terceiro relatório de liquidação sobre a situação da Cryptopia no dia 12 de junho.

O relatório afirma que clientes não tinham carteiras individuais e seria impossível determinar governança individual usando apenas as chaves criptográficas registradas nas carteiras da Cryptopia.

Cryptopia operava como uma corretora centralizada e as negociações de clientes aconteciam no registro interno da corretora sem qualquer confirmação em blockchains como Bitcoin e Ethereum.

Grant Thornton também afirmou que um processo detalhado de reconciliação entre as bases de dados de clientes e os criptoativos detidos em carteiras da Cryptopia nunca foi completada por operadores da corretora.

Os liquidadores encerraram seu terceiro relatório sobre a falha da Cryptopia ao declararem que “neste momento, não é possível estimar uma data de finalização para a liquidação”.

No dia 8 de abril, o Supremo Tribunal de Christchurch emitiu um julgamento afirmando que os liquidadores estimaram que Cryptopia tinha criptoativos equivalentes a quase 170 milhões de dólares neozelandeses na época dos hacks.

Entre 9 e 14% de seus criptoativos foram roubados, segundo o documento do tribunal.

A decisão também deu a Moore e Ruscoe a permissão de começar o processo de reconciliação de ativos perdidos pela Cryptopia. Antes da decisão, não havia esclarecimento se os criptoativos nas carteiras da Cryptopia eram mantidos num fundo para detentores de contas.

Juiz Gendall afirma que o tribunal teve de esclarecer preocupações sobre a natureza e o status legal dos criptoativos e seus interesses possivelmente igualitários: se criptoativos podem ser considerados e se os detentores das contas na Cryptopia tinham direitos a essa propriedade.

A decisão havia sido direcionada pelo fato de que criptoativos são “propriedade” para os propósitos da Lei das Empresas de 1993.

Os criptoativos dos detentores de contas eram mantidos em um fundo pela Cryptopia em nome dos usuários. Um fundo separado existe para cada tipo de criptoativos que a corretora detinha.

Em sua decisão, o juiz Gendall explicou que, ao seu ver, criptoativos eram propriedade, pois possuíam “certo grau de permanência ou estabilidade”, um requisito do Artigo 2º da Lei das Empresas.

Isso significa que criptoativos são pertencentes aos detentores das contas e não farão parte do pool de ativos disponíveis para credores não assegurados.

Em relação ao novo relatório de liquidação, “este é o primeiro julgamento final de uma base completamente contestada que considerou se criptoativos satisfazem a definição legal de propriedade do direito comum”.