Resgate dos fundos de investimentos: Cuidado com a precipitação
O fundo Magellan, gerido pelo gestor Peter Lynch ao longo da década de 80, teve um dos maiores retornos de fundos em 10 anos e, mesmo assim, somente poucos investidores ganharam dinheiro.
A explicação? Cotistas ficavam avaliando prejuízos e tomando decisões quando o fundo caia ou subia. Quando caia, “este fundo é ruim, gestor horrível, vou resgatar”.
Quando subia, “ahh gestor é ótimo, agora está acertando, vou aportar”. Este é justamente o movimento que destrói valor no tempo e toda literatura sobre investimento mostra que deveria ser o oposto. E foi o que ocorreu no Brasil durante 2022.
A captação líquida dos fundos de investimentos ficou negativa em R$ 162,9 bilhões no ano passado, com queda de 139,5% na comparação a 2021.
O destaque de queda ficou com as categorias de renda fixa, com resgates líquidos de R$ 48,9 bilhões no ano (contra captação positiva de R$ 232,7 bilhões em 2021), de ações e multimercados, com saídas líquidas de R$ 70,5 bilhões e de R$ 87,6 bilhões, respectivamente, de acordo com os dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
O movimento está relacionado, em grande parte ao momento político-econômico do Brasil e ao cenário externo. A confusão retórica do novo governo foi sendo precificada no mercado e provocou os resgates em alguns fundos e a busca por investimentos de menor risco.
Em outras palavras, o mercado precificou o risco do País frente a um novo governo cujo mote fiscal é a expansão de gastos sem espaço no orçamento e sem encontrar as fontes de receitas. E este comportamento afetou o desempenho da indústria de fundos muito rapidamente.
Na renda variável, a volatilidade no preço de ativos é algo comum quando se investe em ações. Em anos de eleição os riscos são ainda maiores. Entretanto, o prejuízo nos investimentos depende não somente dos ativos que compramos, mas quando se aporta e pelo tempo que se faz isto.
Sempre vale relembrar o incentivo perverso que é ter que publicar cota diária de fundos que compram empresas, modelos de negócios e que precisam de tempo para maturar.
É uma armadilha cognitiva que leva bons investidores potenciais e tomar decisões erradas.
Se você conhece o gestor, sabe do que ele é capaz e entende o que faz, quando o fundo cai por preço, não é porque os ativos foram mal adquiridos, ou porque as empresas quebraram, mas somente porque existe volatilidade no mercado.
Em momentos de perda, se o investidor não tiver necessidade de utilizar os recursos no curto prazo, o ideal é que espere um momento melhor para fazer o resgate. Sacar na baixa significa realizar o prejuízo.
Antes de qualquer decisão, verifique quais ativos compõem a carteira do fundo para se ter uma ideia de quanto tempo é preciso para que as perdas sejam revertidas.
E a depender da análise, talvez chegue a conclusão de que a oportunidade é de aportar ainda mais capital. Sabemos, entretanto, que as pessoas não se comportam desta forma. E este foi o motivo que ao longo de 2022 tantos bilhões saíram do mercado de renda variável e fundos de ações.
O ano de 2023 será desafiador e, em momentos como este, aumenta a aversão ao risco, o que impacta principalmente os fundos multimercados mais alavancados e os de renda variável.
Mas, de forma geral, quando investimos em negócios, sempre nos fazemos uma pergunta, que também deve ser feita por quem investe em fundos de ações: você confia no trabalho de quem está tomando as decisões a frente do negócio?
Porque se não confia ou não entende, talvez o melhor seja sair ou, nem entrar. Mas se confia, talvez se aprofundar na estratégia do empresas seja mais eficiente, pois quanto maior o aporte em cotas mais baixas, maior a margem de segurança em quedas e melhor o retorno no tempo.