Reservas internacionais tiveram em 2019 melhor rentabilidade em pelo menos 10 anos
O Banco Central apontou nesta quarta-feira que as reservas internacionais tiveram a melhor rentabilidade em pelo menos dez anos em 2019, com resultado positivo de 4,33% em dólares, na esteira do afrouxamento monetário nos Estados Unidos.
“Ao longo do ano, verificou-se uma queda de juros nos EUA, com a reversão do ciclo de alta de juros do Fed (BC norte-americano), em resposta aos dados econômicos. Esse movimento, somado ao ganho com carregamento, gerou resultado positivo com juros de 4,25%”, afirmou o BC, em seu Relatório de Gestão das Reservas Internacionais.
Além disso, houve ganho com paridade de moeda de 0,08% no ano, prosseguiu o BC.
Quando as taxas de juros dos EUA caem, os títulos comprados no passado –quando os juros eram mais altos– passam a valer mais. A marcação a mercado, então, gera lucro ao BC.
Segundo o economista Josué Pellegrini, diretor da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado Federal, a perspectiva é que isso volte a ocorrer este ano, já que o Fed reduziu novamente os juros básicos para combater os efeitos do coronavírus na economia.
No mês passado, o Fed cortou a taxa de juros duas vezes em caráter emergencial. O primeiro corte, de meio ponto percentual, foi em 3 de março e o segundo, de um ponto, aconteceu em 15 de março, o que levou a taxa de empréstimos overnight do Fed para os bancos de volta a quase zero.
A redução busca manter em patamar baixo o custo dos empréstimos para os bancos –e, por extensão, a seus clientes– para garantir que os mutuários tenham amplo acesso ao crédito durante a crise.
Pellegrini ponderou que os juros nos EUA já estão em nível muito baixo, razão pela qual não há mais margem para ganhos expressivos com nova redução monetária. De qualquer forma, ele ponderou que o aumento da rentabilidade do BC com as reservas acaba gerando uma gordura para a autoridade monetária vender parte do estoque.
“É a mesma coisa que aumentar reservas”, afirmou.
Antes do ano passado, a melhor rentabilidade em dólares das reservas internacionais havia sido alcançada em 2011, quando chegou a 3,60%, conforme série disponibilizada pelo BC no documento, com início em 2010.
Quando medida em reais, a rentabilidade das reservas no ano passado foi de 8,53%, terceiro pior resultado da série, atrás de 2010 (-2,57%) e 2017 (+3,80%).
Procurado, o BC ponderou, via assessoria de imprensa, que as reservas internacionais são aplicadas em ativos no mercado financeiro internacional e a conversão do retorno dos investimentos para reais não é adequada para avaliar a gestão das aplicações.
“A variação da taxa de câmbio do real frente ao dólar levaria a conclusões equivocadas sobre o processo de investimento”, disse.
O dólar subiu 3,54% sobre o real em 2019, ano marcado por diversos choques como incertezas sobre a reforma da Previdência, guerra tarifária entre EUA e China e crise na Argentina. Neste ano, a moeda norte-americana acelerou a alta com a pandemia do Covid-19, tendo avançado 29% apenas no primeiro trimestre.
No relatório desta quarta-feira, o BC também destacou que, como a volatilidade do real é significativamente mais alta que a do dólar frente a seus pares, o resultado da rentabilidade em reais das reservas “sofre ainda mais influência das flutuações cambiais”.
Sobre o tema das reservas internacionais, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, afirmou na quinta-feira passada que há interpretação “às vezes muito assimétrica” sobre o que é o seguro proporcionado por esse estoque, e que o tema é bastante discutido dentro do BC.
“Obviamente, você, quando tem um estoque de reservas e o câmbio desvaloriza, você tem um seguro que é implícito nisso que está na sua dívida líquida, porque o valor da sua reserva sobe e a sua dívida cai”, afirmou.
“Então obviamente quando o câmbio desvaloriza já tem um seguro implícito na baixa da dívida porque você está com ativo em dólar que se valorizou sendo ‘fundeado’ (financiado) por um ativo em reais”, acrescentou.
O Brasil fechou 2019 com reservas internacionais de 356,88 bilhões de dólares pelo conceito caixa, num recuo frente aos 374,72 bilhões de dólares de 2018, principalmente pela venda de 36,861 bilhões de dólares à vista em intervenções cambiais –movimento que ajudou o país a reduzir sua dívida bruta.
Até o dia 27 de março, o estoque das reservas internacionais havia caído para 345,331 bilhões de dólares diante das novas atuações do BC no mercado de câmbio. As vendas de dólar à vista somaram 19,309 bilhões de dólares até a mesma data, conforme dados mais recentes do BC, atualizados nesta tarde.