CryptoTimes

Repressão da China sobre o bitcoin afeta USDT e taxa de processamento da rede

24 maio 2021, 12:19 - atualizado em 24 maio 2021, 12:22
Taxa de câmbio USDT/CNY sofre prêmio e queda na taxa de hashes da rede Bitcoin são algumas das consequências da recente repressão chinesa (Imagem: Tether)

Os comentários mais recentes de repressão da China na mineração e na negociação de bitcoin (BTC) resultaram em receios entre investidores locais e mineradores conforme tether (USDT) passou por vendas em relação ao yuan chinês após a notícia.

O Conselho Estatal da China, órgão do governo central do país, publicou alguns momentos de uma reunião na última sexta-feira (21) do Comitê de Desenvolvimento da Estabilidade Financeira.

A reunião comentou sobre uma “repressão sobre a mineração e negociação de bitcoin” como parte das iniciativas do comitê em evitar riscos financeiros.

Esse é o primeiro exemplo conhecido de comentários especificamente sobre a mineração e a negociação de bitcoin durante uma reunião do Conselho Estatal — um sinal de nível elevado.

Ainda veremos se ou como esse comentário principal será executado e a qual extensão. Porém, parece que a notícia já assustou alguns investidores locais.

Momentos depois da reunião, HT, OKB e BNB — os tokens das corretoras Huobi, OKEx e Binance, que atendem investidores chineses em cripto — caíram 17%, 19% e 10%, respectivamente.

A queda se estendeu nos próximos dias. Enquanto isso, BTC e ETH caíram cerca de 10% após a notícia mas, desde então, se recuperaram para US$ 38 mil e US$ 2,4 mil, respectivamente.

Além disso, a taxa de câmbio entre tether (USDT) em relação ao yuan chinês (CNY) por meio de mesas de mercado de balcão (OTC, na sigla em inglês) começou a despencar para um prêmio negativo em comparação à taxa de câmbio entre o yuan e o dólar (USD).

Isso significa que muitos investidores locais, incluindo mineradores, então vendo um crescente volume de ordens de liquidação de USDTs para yuans chineses em mesas de OTC em meio à incerteza gerada pelos comentários do conselho chinês.

Dovey Wan, sócia-fundadora do Primitive Ventures, tuitou que “sabia que alguns grandes mineradores já haviam agido nas últimas seis horas desde que a notícia saiu, venderam ‘sem dó’ e acessaram todos os canais possíveis para converter em fiduciárias”.

Cotas em tempo real para 1 USDT nas mesas de OTC da Huobi, OKEx e Binance estão em 6,42 yuans, mas haviam caído de 6,5 yuan, antes de notícia, para 6,2 yuans.

Enquanto isso, dados em blockchain mostram que a taxa de hashes — de processamento da rede Bitcoin — em tempo real, ligada a grandes pools de mineração — grupos de mineradores que combinam seus recursos computacionais para transmitir um bloco de transações ao blockchain, garantindo a segurança de uma rede —, passou por quedas baixas a moderadas nas últimas 24 horas desde a notícia.

Porém, o pool de mineração da Huobi passou por uma grande queda de 29% nas últimas 24 horas. Ao todo, houve uma queda significativa na taxa de hashes desde a semana passada por conta da limitação energética em algumas usinas elétricas na província chinesa de Sichuan.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Ranking da taxa de hashes por cada pool (Imagem: BTC.com)

E agora?

A reunião da última quinta-feira (20) é algo regular no Comitê de Desenvolvimento da Estabilidade Financeira, a fim de discutir suas altas prioridades no setor financeiro e foi liderada pelo vice-premier chinês Liu He, considerado como o braço direito do presidente Xi Jinping.

Liu também era conhecido por liderar o grupo de delegados chineses durante conversas cambiais com a administração Trump durante os anos.

Com base nas notas sobre a reunião, o comitê apresentou três áreas de foco: “garantir que a indústria financeira atenda melhor a economia”, “se comprometer em evitar riscos financeiros” e “continuar a aprofundar a reforma”.

Além de reprimir as atividades de mineração e negociação de criptomoedas, a parte referente à “prevenção de riscos financeiros” mencionou outras prioridades, como reduzir riscos de crédito, implementar regulações sobre atividades financeiras de empresas, manter a estabilidade dos mercados de ações, títulos e câmbios, dentre outras.

Os comentários feitos na reunião não são uma ordem ou regulação formal. Para que sejam executados, precisam haver regras mais concretas em termos de qual agência governamental irá liderar a execução.

Por exemplo, em setembro de 2017, foi o Banco Popular da China (PBoC), junto com outros ministérios governamentais, que emitiu a proibição sobre ofertas iniciais de moedas (ICOs) e negociação de fiduciárias e cripto.

Porém, os comentários sobre a mineração de bitcoin vêm numa época em que a China está aumentando seus esforços em atingir sua missão de neutralidade em carbono, prometido pelo presidente Xi em comentários recentes.

Sob esse cenário, um grupo de estudiosos de universidades chinesas publicaram um artigo de pesquisa na Nature Communications, afirmando que a mineração de bitcoin será uma grave ameaça à missão de neutralidade em carbono da China sem uma intervenção política adequada, apesar de o artigo ter sido baseado em uma hipótese enganosa e infundada.

O governo da Mongólia Interior já tomou uma série de medidas para expulsar as operações de mineração de bitcoin da região, onde grande parte da energia é baseada em carvão.

Esta semana, criou um endereço postal e de e-mail, bem como uma linha telefônica para que o público geral dedure a localização de qualquer fazenda ativa de mineração de bitcoin.

Dito isso, se os comentários sobre a repressão a atividades de mineração de bitcoin sejam executados nos próximos meses, poderá acelerar a descentralização global da taxa de hashes do bitcoin para fora da China, onde a dominância pelo poder computacional já está sumindo.

Neste momento, nenhuma grande operadora de mineração de bitcoin dentro da China, exceto pela B.Top — serviço conjunto de corretagem de equipamentos e mineração do pool chinês BTC.top —, realizou mudanças comerciais imediatas enquanto tomam uma abordagem de “esperar para ver”.

No último sábado (22), Jiang Zhuo’er, fundador e CEO da BTC.top, disse, na rede Weibo, que o serviço não irá mais atender clientes que estão dentro na China:

B.TOP não recebeu nenhum requisito regulatório de agências governamentais. Porém, considerando o sinal regulatório mais recente e que o negócio da B.TOP dentro da China compõe uma pequena parte de nossa própria operação de mineração, não há necessidade de continuar a oferecer serviços de corretagem de mineração para clientes chineses e tomar riscos regulatórios extras.