Renova energia tenta se reerguer com novo parque eólico
Em recuperação judicial desde outubro de 2019, a Renova Energia tenta virar a página de sua crise com a entrada em operação do parque eólico Alto Sertão III, na Bahia – única unidade eólica que ficou com a empresa após a venda de vários ativos para pagar dívidas no mercado.
Com capacidade para 432 megawatts (MW) – o suficiente para abastecer quase 1 milhão de residências, o parque vai gerar R$ 250 milhões de caixa (Ebtida) por ano. “Esse será o pilar para liquidar as dívidas da empresa”, diz o presidente da companhia, Marcelo Milliet.
Os testes do parque eólico começaram dia 12 de dezembro e espera-se para os próximos dias a liberação para a operação comercial.
No total, foram investidos R$ 2,5 bilhões no complexo que terá 155 aerogeradores e 208 quilômetros de linhas de transmissão, distribuídos em seis municípios da Bahia (Caetité, Igaporã, Pindaí, Licínio de Almeida, Riacho de Santana e Guanambi).
O projeto ficou paralisado durante cinco anos por problemas financeiros da empresa e foi retomado apenas em abril deste ano.
A Renova foi uma das pioneiras no investimento de energia eólica no Brasil.
Criada pelos empresários Ricardo Delneri e Renato Amaral durante a pior crise elétrica do País, em 2001, a companhia teve suas ações lançadas na Bolsa e atraiu a atenção de gigantes do setor, como Light (LIGT3) e Cemig (CMIG3), que viraram acionistas.
Depois de uma parceria frustrada com a americana SunEdison, que logo após o negócio entrou em recuperação judicial nos Estados Unidos, a Renova Energia foi obrigada a fazer um rígido ajuste em suas estruturas.
Com as perdas decorrentes do negócio, os sócios tiveram de aportar recursos na empresa e projetos foram renegociados.
A situação, no entanto, se complicou e a maior empresa de energia eólica do País teve de vender seus principais parques para cobrir dívidas.
Sobraram apenas algumas Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) e Alto Sertão III, que agora é a grande aposta da empresa para se reerguer. Mas esse caminho tem envolvido uma série de transações e mudanças.
A retomada das obras do parque eólico, por exemplo, só foi possível depois de um empréstimo de R$ 360 milhões na modalidade DIP (devedor em posse) – um tipo de financiamento para empresas em recuperação judicial.
Outra operação que reforçou o caixa foi a venda da Brasil PCH, por R$ 1,1 bilhão. Com o dinheiro, houve o pagamento parcial do empréstimo DIP e de alguns credores, diz Milliet.
A empresa também vendeu o Complexo Hidrelétrico Serra da Prata (Espra), por R$ 265 milhões.
O negócio ainda depende de autorizações de órgãos regulatórios. As vendas vão ajudar a reduzir o endividamento de R$ 2 bilhões da empresa, que vencerão ao longo de dez anos.
6 GW de projetos em carteira
A Renova Energia tem uma carteira de projetos de 6 gigawatts de potência. Uma parte será vendida para outros investidores do setor. “Uma outra fatia vamos reservar para a empresa”, diz o presidente da companhia, Marcelo Melliet. Ele diz ainda que há projetos híbridos, de energia eólica e solar, para serem desenvolvidos, inclusive em Alto Sertão III.
A construção de novos empreendimentos pela Renova, no entanto, deve seguir um ritmo menos acelerado que no passado.
Em vez de megaprojetos, a empresa deve apostar em parques que serão construídos em partes menores. “Temos capacidade de voltarmos a ser um grande player do mercado.”
Melliet lembra que, em novembro, a Cemig deixou o posto de principal acionista da Renova. O grupo Angra Partners comprou a participação da estatal mineira.
Com 30,3% do capital votante da companhia, a gestora passa a fazer parte do bloco de controle da Renova.