Gestão Trump nos EUA pode trazer oportunidades na renda fixa, mas cenário ainda é cheio de incertezas, diz especialista da Nomad
Donald Trump assumiu a presidência dos Estados Unidos (EUA) pela segunda vez nesta segunda-feira (20), adotando uma postura expansionista, com aumento nos gastos públicos e políticas protecionistas. Tais medidas podem impulsionar a inflação e os juros americanos.
Além disso, políticas como a taxação de importações e restrições à imigração, pautas constantes para Trump, podem intensificar essa tendência, elevando os custos de produção. Diante desse contexto, a head de conteúdo e research da Nomad, Paula Zogbi, afirma que o mercado já começou a questionar a continuidade do ciclo de corte de juros nos Estados Unidos.
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“Pode não ter muito espaço para que o ciclo de afrouxamento monetário seja na velocidade da expectativa no ano passado. Agora, o mercado precifica só um corte para esse ano, provavelmente lá pelo meio do ano. Alguns lugares apontam um ou dois cortes e já tem alguns players falando da possibilidade de não ter corte ou até do Federal Reserve ter que subir os juros”, afirma.
No entanto, Zogbi também vê um movimento do mercado dando o “benefício da dúvida” para Trump, acreditando que as políticas não serão tão duras quanto as promessas feitas em campanha. Um exemplo disso são as taxas de importação, que ainda não saíram do papel.
Renda fixa: Onde investir neste cenário
Pensando no cenário base, de que haverá cortes de juros ainda, Zogbi avalia que a renda fixa continua pagando taxas bastante atraentes nos Estados Unidos, em patamares historicamente elevados e que seguem estressados.
“Poucas vezes vimos a renda fixa pagando taxas como as atuais. Para o brasileiro, investir em renda fixa americana é um retorno bastante significativo, somando a variação do dólar com essa taxa atraente”, explica.
Para aqueles que investem e não mantém o títulos até o final, essas questões sobre inflação e menos cortes nos juros podem gerar uma maior volatilidade nos títulos americanos. No entanto, para os investidores que desejam seguir com o ativo até o final, Zogbi destaca os títulos de médio prazo. Para reservas de emergência, os títulos de curtíssimo prazo são mais indicados.
Pensando no crédito privado, a head de conteúdo também pondera a possibilidade de investir em empresas brasileiras que emitem dívidas lá fora. Normalmente, essas companhias pagam dólar mais 7% ou 8% ao ano, o que equivale ao retorno do Tesouro IPCA+.
No Brasil, a Selic deve aumentar pelos menos mais dois pontos percentuais até março, segundo a última ata do Comitê de Política Monetária (Copom). O que deixa a renda fixa local bastante atrativa.
“É muito difícil projetar até quando vai essa alta, o relatório Focus do BC tem mudado semanalmente. Nesse cenário, títulos pós-fixados ou atrelados ao IPCA fazem mais sentido, principalmente em prazo mais longo”, ressalta.
Zogbi não recomenda prefixados no momento justamente pela falta de previsibilidade. Mesmo que as taxas estejam um patamares bastante elevados, é possível que os juros ainda possam subir ou que a inflação avance, impulsionada pelas políticas nos EUA, na alta do dólar e na questão fiscal brasileira.
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O impacto sobre os juros também deve ser significativo. As políticas expansionistas de Trump, que incentivam fusões, aquisições e maior dinamismo econômico, podem manter o crescimento elevado. Isso, por um lado, é positivo para o mercado de trabalho e para o PIB, mas, por outro, dificulta a condução da política monetária.
Para o Brasil, o cenário também se torna mais desafiador, especialmente devido às incertezas fiscais. Apesar de a bolsa brasileira parecer descontada em comparação com outros mercados, o ambiente de instabilidade pode piorar antes de apresentar uma recuperação sustentável.
Já na renda fixa, oportunidades podem surgir conforme o diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos se altera e, portanto, os investidores devem se manter atentos à Super Quarta, marcada para a próxima semana.