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Renan Poli: no centro do debate

21 set 2021, 22:44 - atualizado em 21 set 2021, 22:53
João Dória
O governador paulista é um dos candidatos do PSDB (Imagem: REUTERS/Amanda Perobelli)

Encerraram ontem (20) as inscrições para as prévias do PSDB para candidato a Presidente da República nas eleições de 2022. Foram seis inscritos, com atendimento dos requisitos da comissão por quatro deles: Arthur Virgílio Neto, ex-prefeito de Manaus, Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, João Dória, governador de São Paulo e Tasso Jereissati, senador pelo Ceará. Trata-se da mais ousada empreitada partidária no campo democrático na história brasileira.

Com um progressivo inchaço de partidos, atingindo hoje a marca de 35 entidades, há no Brasil muito fisiologismo e poucas ideias em debate. Na escolha de seus candidatos, os partidos, via regra, seguem por dois caminhos: colocam seu político de maior visibilidade em campanha ou abstém-se de lançar candidato próprio, quer por apoio a candidatos em outros entes federativos, quer por espaço em futuros governos.

No caso dos interesses mais espúrios consistem simplesmente na participação na distribuição de verbas eleitorais, para a perpetuação de lideranças das “legendas de aluguel” em alguma posição de menor destaque, que assegure a eternidade na diretoria partidária e repartição das sobras.

Nos partidos de marca mais forte, quer por terem participado de conquistas históricas da sociedade, quer por marcarem posição ideológica mais clara – aqui sem os juízos de valor –, a tendência é mesmo a primeira. Lula para o PT, Ciro para o PDT ou Eymael, o democrata cristão, são alguns dos exemplos do que a “unanimidade” de vozes dos filiados que clamam por seus líderes traz: perpetuação nas candidaturas sem qualquer debate propositivo.

O caso do mandatário atual, leva ao extremo o personalismo do enfraquecimento partidário: Jair e sua trupe de eleitores querem um partido para ser dono, como expressamente verbalizou há algum tempo.

É público e notório que durante o período eleitoral, há pouco tempo para debate e os formatos tendem a ser limitados para o aprofundamento de questões que seriam importantes aos eleitores, visando conhecer seus candidatos. Segundo a legislação eleitoral, as pré-campanhas, de rigor, iniciam-se um ano antes dos pleitos, podendo os pré-candidatos exporem ideias e se apresentarem ao público com a intenção de concorrer, mas sendo vedado se apresentarem como candidatos ou pedirem votos. Com seus pré-candidatos já alçados de antemão, a corrida por ocupar esse espaço é intensa.

Eis que, em meio à mais tóxica guerrilha eleitoral, antecipada desde 2019 – e atropelando-se as regras eleitorais em antecipação de campanha, em razão comportamento belicoso do presidente, os espaços têm sido ocupados pelos “candidatos natos” em clara queimada de largada.

Onde faltam propostas de país, sobram ataques, picuinhas e polarização: fascistas vs comunistas seria a alcunha apropriada para o fantasioso duelo que nada entrega em termos de ideias de um futuro sustentável e socialmente responsável para os brasileiros.

Onde faltam propostas de país, sobram ataques (Imagem: REUTERS/Ueslei Marcelino)

Por essa razão, surge de modo ousado a proposta do PSDB. A despeito das recorrentes críticas sobre a falta de unidade do partido, e o suposto suicídio político em se seguir com prévias, a iniciativa pode mudar o modo de pensar eleitoral. A concepção é de unir ideias e ter nos filiados a resposta sobre o mais preparado a levá-las ao debate eleitoral. Neste caso, não importa quem seja o candidato selecionado pelos tucanos, o importante é que este, após aclamado nas prévias, seja capaz de levar as melhores proposições ao público amplo.

Para isso ocorrer, haverá diversos debates, para que não só os filiados, mas a população, passem a assimilar a ideia de construção de uma candidatura por diferentes pensamentos – no caso, todos condizentes com os preceitos da social-democracia – e não apenas a criação de uma figura candidata, durante a inquestionada cultuação de um líder sedutor. Em tempos de autoritarismo, nada mais renovador.

A legislação eleitoral brasileira avança e evolui, cambaleante. Por vezes, melhora, como no esteio das manifestações de 2013 e propostas de combate a corrupção, com o surgimento da vedação ao financiamento empresarial de campanhas. Mas também retrocede, como se vislumbra da apressada proposta de código eleitoral recém aprovada na Câmara dos Deputados.

Nem sempre lá surgem as melhores ideias. Os mandatos em bancada – trazidos pela iniciativa popular sem qualquer regulamentação na lei eleitoral – trouxeram boas intenções, mas já esbarraram em dificuldades da vida prática partidária, com uma série de incertezas, em razão da falta de leis.

Nesse sentido, talvez a ideia de prévias do PSDB não sejam capazes de iluminar demais partidos a fazerem o mesmo, principalmente por falta de leis que obriguem as dezenas de legendas a saírem de sua zona de conforto fisiológica. No entanto, é impossível não se pensar que tal modelo de prévias – inclusive aplicado nos EUA, com acompanhamento da corte eleitoral – seria o ideal para a construção de uma terceira via.

Debates equilibrados, com propostas consistentes para um de país em crise e necessárias ao amadurecimento da democracia brasileira. Em tempos de polarização, este deve ser o centro do debate.

Renan Poli é advogado, engenheiro, biólogo e empresário. Atualmente atua como coordenador geral dos vereadores suplentes do PSDB da Capital de SP.