Relator de PL defende 35% de etanol na gasolina o quanto antes; açúcar vai ‘amargar’ para as usinas?
O governo federal quer dar “gás” ao Projeto de Lei do “Combustível do Futuro” e elevar a mistura de etanol na gasolina dos atuais 27,5% para 35%, acima dos 30% que constam no PL 4.513/2023, em tramitação na Câmara dos Deputados.
A proposta de uma mistura de 35% de biocombustível no combustível fóssil foi defendida pelo relator do PL, deputado Arnaldo Jardim (Cidadania – SP), que ressaltou ser necessária viabilidade técnica para isso seguir em frente.
O PL tem como foco o uso cada vez maior de biocombustíveis no país e deve atuar como um dos principais instrumentos do governo brasileiro no fomento à transição energética.
- Os investimentos preferidos do mercado para março: saiba quais são as top picks dos maiores players do mercado em ações, dividendos, fundos imobiliários e BDRs.
Existe viabilidade para a mudança?
Para Marcelo Bonifácio, analista de açúcar e etanol na StoneX, ainda há muita incerteza sobre o assunto, incluindo o prazo para que a proporção de 30%, que consta no texto original do PL, seja atingida.
“Existe muita incerteza se o aumento da mistura será implementado imediatamente ou até 2030 como era proposto. Não sabemos se esse aumento será gradual ou se vamos para 30% ou 35% de forma direta. Em termos de capacidade de produção, caminhamos para um mercado de etanol com uma boa oferta, seja pela ampliação de novas usinas de etanol de milho e pela forte produção no Centro-Sul“, explica.
Para 2024, o analista destaca que as projeções apontam para uma produção de mais de 7 bilhões de litros de etanol de milho. No Centro-Sul, na safra 24/25 de cana-de-açúcar, ele projeta 7,2 bilhões de litros.
Os desafios para o açúcar
Bonifácio enfatiza os desafios com a safra de cana-de-açúcar, que vão estar focados na flexibilidade das usinas.
“O mercado de açúcar precisa estar de olho nessa mistura, já que os preços que ditam as escolhas das usinas quanto ao mix produtivo. Mas por outro lado, temos capacidade para esse aumento, com o etanol de milho cada vez mais protagonista, ou seja, em termos de produção, a oferta não deve ser um problema, mas sim os preços pagos, já que a disponibilidade cana será um grande driver”, diz.
Quanto aos preços da gasolina, o analista ressalta que os preços da gasolina devem cair com esse aumento da mistura.
No início da semana, nos dois primeiros pregões, houve uma recuperação nos preços do açúcar em Nova York.
“O mercado segue bem sensível no momento por conta do Centro-Sul, com algumas estimativas apontando para uma queda na moagem maior que o esperado por conta das menores chuvas desde novembro do ano passado, algo que pode sustentar essa volatilidade”, aponta.
“A queda nos preços do açúcar (que atingiram até US$ 0,27 no fim de 2023) vinha acontecendo por conta de uma oferta bem elevada no curto prazo pelas exportações brasileiras, que estão batendo recorde em janeiro e fevereiro. É um mercado bem volátil, que caiu bastante e agora passa por correções“, finaliza.