Economia

Reduzir inflação no Brasil e desinflacionar serviços é desafio duro, diz diretor do BC

04 nov 2022, 10:03 - atualizado em 04 nov 2022, 11:59
Banco Central
Na apresentação, ele afirmou que o BC evita falar sobre política fiscal (Imagem: REUTERS/Adriano Machado)

O desafio para que as taxas de inflação reduzam no Brasil ainda é grande à frente, disse nesta sexta-feira o diretor de Política Monetária do Banco Central, Bruno Serra, classificando a tarefa de segurar a alta de preços no setor de serviços como desafio duro.

“Se a gente quer ter inflação ancorada na meta de 3% a partir de 2024, precisa desinflacionar serviços. 8,5% de (inflação de) serviços não é consistente com uma meta de 3%, a gente precisa trazer serviços de volta para o que era no pré-pandemia. Esse é talvez o desafio mais duro”, disse.

Em evento promovido pelo Bradesco Asset Management, Serra afirmou esperar que a dinâmica da atividade econômica distensione daqui para frente, com uma convergência da inflação para a meta a partir do primeiro ou segundo trimestre de 2024.

Na avaliação do diretor, o fato de o mercado de trabalho estar mais apertado do que os patamares vistos antes da pandemia de Covid-19 é um desafio a mais para a desinflação de serviços.

Ele ponderou que o impacto da reforma trabalhista aprovada durante o governo Michel Temer tende a baixar a taxa estrutural de desemprego no país, o que ainda daria margem para criação de novas vagas sem pressionar a inflação.

O diretor afirmou que indicadores econômicos já mostram impacto do aperto monetário promovido pelo BC para debelar a alta de preços. Segundo ele, o país passou a registrar recuo nas vendas do varejo, especialmente em categorias mais ligadas à concessão de crédito, como veículos, eletrodomésticos e construção.

“Está, sim, batendo a política monetária”, afirmou.

Ele também mencionou que a inflação no Brasil está mais baixa do que em outros países da América Latina, ressaltando que a deflação recente “vai bater” nos preços de bens ao consumidor, um “sinal auspicioso” à frente.

Nesse contexto, Serra afirmou que o Brasil chegou antes de seus pares num ponto em que o ajuste nos juros “pareceu suficiente”.

Em outubro, o BC decidiu manter a taxa Selic em 13,75% ao ano, pela segunda reunião consecutiva, após promover o mais duro aperto monetário desde a criação do regime de metas para a inflação. Em seus comunicados, a autoridade monetária tem afirmado, porém, que não hesitará em retomar os ajustes nos juros se considerar necessário.

Fiscal

Na apresentação, o diretor afirmou que o BC evita falar sobre política fiscal, principalmente num momento de transição de governo, mas afirmou que os mercados globais têm reagido mais fortemente a políticas de expansão de gastos públicos.

“A gente passou por um período em que os mercados estavam mais lenientes com o fiscal e, finalmente, com o juro mais alto, os mercados estão reagindo a esse tipo de evento”, disse.

O diretor ressaltou que em um ambiente de juros mais elevados no mundo o custo de rolagem de dívidas públicas aumenta, em meio a um cenário de alta no estoque do endividamento dos países. Segundo ele, esse cenário deixa os mercados “muito mais ariscos do lado fiscal”.

Serra também destacou dados positivos relacionados ao Brasil, citando que o real é a moeda com a melhor performance neste ano e que a bolsa brasileira só não foi melhor do que a da Turquia.

Na apresentação, ele mencionou as revisões para cima feitas pelo mercado ao longo do ano para as projeções do crescimento da atividade brasileira em 2022, afirmando que isso ocorreu por ter havido um excesso de pessimismo diante de um “país dividido”.

Por outro lado, ele traçou um cenário global desafiador à frente, com baixa liquidez nos mercados e deterioração econômica na China e em outras economias avançadas.

(Atualizada às 11:58)

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