Economia

Reduzir imposto não diminui inflação no médio e longo prazo, diz Campos Neto

22 fev 2022, 18:20 - atualizado em 22 fev 2022, 18:20
Roberto Campos Neto
Na avaliação de Campos Neto, a inflação vai permanecer alta e começará a acelerar a queda entre abril e maio. (Imagem: REUTERS/Ueslei Marcelino)

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que diminuir imposto ou abrir mão de receita não ajuda a reduzir a inflação estrutural.

“Esse elemento [de alta de preços] tende a prevalecer no médio e longo prazo”, afirmou nesta terça-feira (22) em evento promovido pelo BTG Pactual.

Mais cedo, o ministro da Economia, Paulo Guedes, comentou que o governo pretende reduzir em 25% o Imposto sobre Produtos Importados (IPI). Setores do governo e do Congresso chegaram a sugerir em mais de um momento a redução de impostos sobre os combustíveis.

Para Campos Neto, é com “alguma curiosidade” que se vê que, para combater a inflação que foi gerada em parte por estímulo fiscal, propõe-se um solução fiscal. No entanto, o presidente do BC disse que não estava falando do Brasil.

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Trajetória da inflação

Na avaliação de Campos Neto, a inflação vai permanecer alta e começará a acelerar a queda entre abril e maio. O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) acumula alta de 10,38% nos últimos 12 meses, segundo dados do IBGE em janeiro.

O presidente do BC disse que IPC, sem alimentos e energia, está muito alto no Brasil, “mas na média de emergentes”. “Os serviços tiveram um número no núcleo bastante elevado no mês passado, mas a gente tem colocado em perspectiva com o que tem acontecido em outros países”.

Campos Neto ponderou que, com exceção de Brasil e Rússia, grande parte dos países está abaixo da taxa de juros neutra. “O Brasil foi o país que saiu na frente em termos de ajuste [de taxa de juros]”.

O presidente do BC destacou, com base em dados dos EUA, que houve um grande deslocamento do consumo de bens com a pandemia.

“Por outro lado, houve uma queda de serviços que ainda não voltou a tendência pré-pandemia”, disse. “O deslocamento está muito mais persistente do que se imaginava”.

Para Campos Neto, os auxílios fiscais geraram um aumento de demanda. “Havia uma tese de que o problema não era a demanda, mas a oferta. Essa premissa não se mostrou verdadeira”, afirmou.

“A gente vê que o gargalo aumentou, prazos de entrega ficaram mais longos, mesmo com a produção subindo. Teve um grande gargalo em tecnologia, por uma ruptura na parte de chips”, comentou.