Recorde da Bolsa ignora cautela dos analistas para janeiro
Embalado pelo otimismo no mercado internacional, o Ibovespa subiu pela nona vez seguida na quinta-feira (4), estabelecendo novo recorde acima dos 78 mil pontos. O ânimo na Bolsa brasileira contrasta com o viés cauteloso para o mês preconizado por boa parte dos analistas antes do julgamento do ex-presidente Lula no TRF-4 em 24 de janeiro.
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Em meio ao ceticismo quanto à votação da reforma da Previdência em fevereiro, prevalece a expectativa de retomada nos lucros das empresas na esteira do crescimento do PIB. Mas se, por um lado, a esperança por algum avanço nas reformas em 2018 é baixa, por outro, investidores apostam fichas na vitória de um candidato pró-mercado na eleição ao Palácio do Planalto.
Por isso a importância de saber se Luiz Inácio Lula da Silva participará ou não da corrida presidencial. Atenta ao evento de 24 de janeiro, a equipe do BB Investimentos mostra certo otimismo para o ano, mas alerta que a tendência de curtíssimo prazo está indefinida. Além disso, “mesmo com o recesso parlamentar, deverá influenciar o mercado a articulação do governo em busca de votos para a aprovação da reforma da Previdência”.
Para o time do BTG, o cenário de ausência das reformas em 2018 parece precificado, então qualquer novidade neste front é lucro. E, em caso de Lula confirmado fora da disputa, o noticiário eleitoral jogaria a favor. “As eleições presidenciais do Brasil, que são altamente imprevisíveis, devem aumentar a volatilidade, pois o resultado pode causar mudanças radicais nas políticas econômicas. O ex-presidente Lula, que lidera todas as pesquisas, pode ter sua candidatura bloqueada pelos tribunais brasileiros.”
A Socopa, por sua vez, destaca dúvidas sobre o pleito mesmo em caso de condenação de Lula em segunda instância. “No limite, a inviabilidade de participação no processo eleitoral aconteceria apenas depois de esgotado os demais recursos jurídicos. A decisão final deverá ser construída pela corte suprema às vésperas da corrida eleitoral”, diz o analista Nicolas Takeo.
Neste contexto, assim o analista Mario Roberto Mariante resumiu a montagem da carteira recomendada da Planner para janeiro: “Considerando que o começo de 2018 promete ainda mais incertezas no campo da política do que alguma confiança de que as coisas vão mudar no curto prazo, optamos por uma carteira com papéis de empresas menos expostas aos riscos do mercado.”
Voltando à sessão da quinta-feira, simultaneamente à alta da Bolsa, o dólar comercial voltou a cair (-0,25%), cotado a R$ 3,234, ampliando para 2,44% a desvalorização acumulada frente ao real nesses primeiros dias do ano.
Outro termômetro é o risco Brasil medido pelo contrato de swap de default de crédito (CDS, na sigla em inglês) de cinco anos. O indicador desceu para 148 pontos, na mínima do governo Michel Temer. O Credit Default Swap é uma espécie de seguro contra o calote de dívidas públicas ou privadas. Quanto maior a pontuação, maior é o risco atribuído ao tomador de recursos.