Coluna do Fernando Luiz

Recorde da Bolsa: Hora de rever estratégias

11 set 2024, 12:03 - atualizado em 11 set 2024, 12:03
Ibovespa
(Imagem: iStock.com/Edson Souza

Taxas de juros mantidas em patamar elevado, déficit fiscal descontrolado, ameaça de recessão nos Estados Unidos. Estes são alguns fatores que justificam o patamar recorde do Ibovespa alcançado nos últimos dias.

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Ironia à parte, não há fundamentos tão fortes que justifiquem os recordes seguidos e, a máxima infalível do mercado é realizar em momento de alta e comprar na queda.

Claro que a possibilidade de nova queda de juros nos Estados Unidos provoca uma onda de aportes nos mercados emergentes e, com isso, as ações das companhias brasileiras sobem, mas será um movimento de longo prazo, ou apenas aquelas euforias que já vimos tantas vezes?

O fato é que em uma conjuntura como a atual, não há como esperar que a onda de otimismo se mantenha por muito tempo. Afinal, os fundamentos não mudaram, mesmo com a indicação de Galípolo para a presidência do Banco Central.

Temos uma dívida pública gigantesca e ainda longe de estar controlada, como tenta argumentar o ministro Fernando Haddad. A meta de déficit fiscal zero pode até ser cumprida neste e no próximo ano, mas a dívida deve continuar crescente.

Em outras palavras, entregar o déficit zero não quer dizer que as contas públicas estão resolvidas. Talvez esse seja apenas um protocolo a ser cumprido, através das maravilhas que a contabilidade criativa pode oferecer. No último relatório Prisma Fiscal, que data deste mês, os economistas consultados pelo Ministério da Fazenda projetam que a dívida pública chegará a 77,72% do PIB ao final de 2024 e a 80,32% do PIB no próximo ano.

O descontrole das contas públicas de um governo historicamente gastador bate de frente com a política monetária, como o próprio Copom deixou claro na última decisão de manter a Selic em 10,5% ao ano.

“O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária”, consta no comunicado da reunião de junho. As projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência situam-se em 4,0% em 2024 e 3,4% em 2025.

No cenário externo, ainda há a possibilidade de recessão nos Estados Unidos, algo ainda prematuro para ser afirmado, mas que não pode ser descartado.

O UBS Global Wealth Management, por exemplo, aumentou as chances de uma recessão nos EUA de 20% para 25%, citando fraqueza decorrente do crescimento mais fraco de empregos. O último dado sobre a geração de emprego de julho acendeu o sinal vermelho.

As 114.000 vagas de empregos no mês ficaram muito aquém das expectativas de 175.000 novas vagas. A perspectiva agora se volta para o Banco Central americano – Fed – que deve decidir por reduzir a taxa de juros. E se o corte for de 0,5 ponto porcentual, a sinalização é preocupante e deve ampliar o movimento de aversão ao risco no cenário global.

Há muitas variáveis que precisam ser observadas quando avaliamos o momento atual da bolsa. Tanto que estamos presenciando um movimento de forte volatilidade, com os investidores realizando lucro, depois dos ganhos do dia anterior.

Uma boa estratégia neste cenário, não é se empolgar com a valorização dos papéis e sair comprando para não ficar de fora, como muitos fazem. Investimentos em ações requerem estudo dos fundamentos, não só macroeconômicos, mas também das empresas que comporão a carteira.

É preciso avaliar a solidez do negócio e não apenas os altos e baixos do dia a dia. Isso deixamos para o day trade.

Gestores devem ver as estratégias de valor e carregarem em suas carteiras empresas que tiveram ótimos resultados e manter estratégias de arbitragem para reduzir a volatilidade de seus fundos. Afinal, gerar retorno com volatilidade alta é mais próximo de um cassino do que de estratégia de investimento.