Coluna da Alessandra Velloso

Recomeços pós-Carnaval: Economia, inovação e sistema financeiro

29 fev 2024, 13:06 - atualizado em 29 fev 2024, 13:06
juro real
O endividamento ainda é um ingrediente que enfraquece o consumo, reduz a produção e deixa o crédito mais caro (Imagem: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

Há quem diga que o ano só começa depois do Carnaval, mas não é bem assim para o mercado financeiro. Os resultados dos balanços anuais dos bancos, revelados nas últimas semanas, evidenciam grandes obstáculos na economia, que precisam ser superados com estratégia e leitura precisa do cenário nacional.

A inadimplência – que reduziu de 29,9% em janeiro de 2023 para 28,3% no mesmo período deste ano – é um dos indicadores que está sendo muito observado, já que os juros continuam elevados, apesar de quedas consecutivas da Selic. A Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) informou que, em janeiro, o número de inadimplentes no Brasil somou 66,96 milhões de pessoas.

O endividamento ainda é um ingrediente que enfraquece o consumo, reduz a produção e deixa o crédito mais caro. O governo federal tem criticado o Banco Central, mas ainda não apresentou grandes planos para uma política econômica efetiva, que considere o médio e o longo prazo. De forma mais imediata, lançou o programa Desenrola e prometeu, para o início deste ano, uma edição da iniciativa voltada para pequenas e médias empresas.

Esse início de ano reforçou alguns sinais de alerta, confirmados na última segunda-feira (19) a partir da divulgação do Índice de Atividade Econômica (IBC-BR) pelo Banco Central, que foi de 2,45% em 2023. O dado, considerado a “prévia” do Produto Interno Bruto (PIB), ficou aquém dos 2,77% registrados em 2022, o que evidencia que houve, sim, uma desaceleração da economia brasileira no ano passado. Os desafios são grandes. E se para alguns o ano está recomeçando, o momento de ajustar o rumo é agora.

Perspectivas no âmbito tecnológico

Uma das perspectivas mais óbvias para o setor bancário em 2024 é a contínua evolução tecnológica. Segundo dados da Associação Brasileira de Fintechs, há 1.481 empresas dessa natureza no país. Uma verdadeira mudança cultural segue em curso, com cada vez mais pessoas administrando suas finanças pessoais na palma da mão, diretamente pelo celular.

Em 2024, a inovação seguirá sendo um ingrediente relevante capaz de redefinir a forma como os serviços financeiros são percebidos e utilizados pelos clientes. A praticidade é uma das principais vantagens apontadas pelos consumidores. Uma pesquisa divulgada recentemente pelo Sercom revelou que 64% dos brasileiros preferem o atendimento digital, pela conveniência e eficiência.

É fato que o avanço da digitalização e a crescente adoção de “carteiras digitais” fizeram as instituições financeiras tradicionais a investirem em inovação e segurança. Desafiadas a se adaptarem às novas demandas do mercado, integraram tecnologias como inteligência artificial, blockchain e big data para melhorar o atendimento e a eficiência operacional. Isso deve continuar avançando ao longo do ano.

Aliás, vale lembrar que toda essa transformação impacta também no ambiente regulatório. A busca pelo equilíbrio – entre proteger as instituições e os consumidores e manter a estabilidade do sistema  – é crucial. Para 2024, portanto, seguimos com novos e velhos desafios. Os bancos terão de se adaptar a uma regulação que evolui, em sintonia com as novas possibilidades que a inovação proporciona.