Coluna do Rodolfo Amstalden

Reclamar dos juros altos deixou de ser coisa de comunista; veja os motivos

08 mar 2023, 20:26 - atualizado em 08 mar 2023, 20:26
Juros
Embora o mandato do Copom seja focado em “uma ferramenta para um objetivo” – no caso, o uso da taxa básica de juros para controlar a inflação – não há mais como ignorar as ameaças de recessão e credit crunch (Imagem: REUTERS/Adriano Machado)

Não é só a Gleisi falando que a Selic está alta demais.

Nos últimos dias, acumulamos declarações embasadas de empresários e financistas – de Rubens Menin a Luis Stuhlberger – alertando para os efeitos colaterais dos juros salgados.

Relembrando: o juro básico no Brasil disparou em tempo recorde: de 2,00% em 17 de março de 2021 para 13,75% em 4 de agosto de 2022, sem cair desde então.

Esse aperto intenso e instantâneo comprovou a iniciativa do Bacen em um primeiro momento, mas acabou também escancarando os desequilíbrios naturais entre a economia real e a economia financeira – enquanto a primeira se move devagar, sujeita aos ciclos de negócio das cadeias de oferta, a segunda se move rapidamente.

Em termos práticos, isso significa que conquistamos uma desejada desinflação de 2021 para cá, mas aquém da (impossível) meta de IPCA e às custas de uma dura realavancagem financeira para as empresas e famílias brasileiras.

Em especial, dívidas corporativas até então gerenciáveis foram se tornando impagáveis, e o episódio da Americanas (AMER3) só complicou ainda mais as coisas.

Embora o mandato do Copom seja focado em “uma ferramenta para um objetivo” – no caso, o uso da taxa básica de juros para controlar a inflação – não há mais como ignorar as ameaças de recessão e credit crunch.

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Se Roberto Campos Neto for lembrado como aquele cidadão que foi absolutamente fiel ao regime de metas canônico, mas promoveu uma quebradeira geral e machucou o PIB, não será uma lembrança agradável para a posteridade.

Mais do que isso: Campos Neto, assim como os futuros presidentes do BC, é responsável pela cristalização da independência do Banco Central do Brasil.

Erros graves na gestão da política monetária e financeira serão usados como subterfúgios perfeitos da extrema-esquerda para criticar a independência, sob o risco de voltarmos em um importante avanço institucional.

Por isso, falamos da arte da política econômica — uma ciência aplicada só pode ser exercida em plenitude se combinada à arte.

As principais decisões dos formuladores de política econômica precisam ser tomadas sobre o improviso do palco, em contextos que escapam ao script do livro-texto.

Com a ajuda de Haddad e da sociedade civil, RCN tem dois meses para solidificar uma narrativa técnica que abra espaço para um primeiro corte da Selic, ainda que simbólico.

Em grande medida, o (relativo) sucesso de 2023 depende disso.

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