Comprar ou vender?

Recessão em 2022? Veja qual ação de banco comprar para se proteger e ainda ganhar gordos dividendos

16 nov 2021, 14:32 - atualizado em 16 nov 2021, 14:32
Até o momento, os principais nomes do setor têm sido deixados de lado pelo mercado (Imagem: Criação Money Times, Gustavo Kahil/Money Times e Angel Navarrete/Bloomberg)

A recessão está batendo à porta do Brasil em 2022. Com a alta da taxa Selic, que pode chegar a março em 12%, e uma inflação galopante, o crescimento do país fica cada vez mais comprometido. 

Dois grandes bancos já preveem um PIB (Produto Interno Bruto) negativo para o ano que vem: o Itaú  e o Credit Suisse projetam uma queda de 0,5%. No caso do Itaú, a principal justificativa é o impacto da alta da taxa de juros na economia.

Já o Credit Suisse acrescenta outro problema. “O atual nível de inflação deve permanecer elevado devido à alta inércia no país”, escreveu a economista-chefe do banco suíço, Solange Srour.

O que fazer nesse momento de incerteza? Um setor da Bolsa guarda nomes defensivos, com alto potencial de dividendos e que ganham com a elevação dos juros. Sim, são os bancos.

Ignorados

Segundo analistas ouvidos pelo Money Times, até o momento, os principais nomes do setor, como Banco do Brasil (BBAS3), Bradesco (BBDC4), Itaú Unibanco (ITUB4) e Santander (SANB11) têm sido deixados de lado pelo mercado. Os papéis desses quatro gigantes acumulam queda no ano de 19%, 13%, 25% e 17%, respectivamente. 

Observe no gráfico

De acordo com Vitor Miziara, sócio da Criteria Investimentos, os investidores deram prioridade para ações com exposição a commodities, como Vale (VALE3) e Petrobras (PETR4).

“Os papéis estão muito baratos. Essa queda se deve ao fato de que a maior parte do dinheiro que voltou para a renda variável nos últimos tempos foi para aproveitar ativos com risco maior”, argumenta. 

Segundo Matheus Amaral, especialista em equity research do Inter, as incertezas sobre o open finance e a competitividade para o futuro ainda afastam parte do mercado.

“Quando fazemos as contas, mesmo embutindo crescimento modesto de longo prazo, devido à competitividade e até mesmo queda em algumas linhas de receitas, como conta corrente, por exemplo, por conta do Pix e zeragem de tarifas para fazer frente à competidores, o valuation atual dos bancos ainda traz um desconto”, aponta. 

Casco duro

Em um cenário de economia mais fraca, dois são os impactos imediatos para o setor: elevação de provisões para crédito duvidoso, dinheiro reservado para calotes, e queda no crédito. Porém, se a recessão é ruim para os bancões, é ainda pior para as empresas menores, lembra o especialista em investimentos da Inversa, João Abdouni.

“O custo de crédito dos menores é maior do que os quatro grandes, que são mais capitalizados. Eles operam há décadas e sabem conviver com o risco Brasil. São quem sabe navegar melhor”, pontua.

Rodrigo Romero, cofundador da Inside Research, afirma que, apesar das transformações no sistema financeiro, como a elevação da concorrência e o crescimento mais limitado, os bancos ainda mostram poder de fogo para entregar lucros altos e com rentabilidade.

No terceiro trimestre, por exemplo, o lucro dos quatro bancos somados subiu 36% no terceiro trimestre ante o mesmo período do ano passado, somando R$ 21,3 bilhões, segundo a consultoria Economática.

Esse foi o terceiro maior lucro no período do levantamento, que começou em 2017.

“Nos níveis atuais, achamos que o investimento compensa bastante, principalmente por conta da resiliência em termos de resultado e da história de sucesso de players como Itaú e Bradesco”, afirma Romero, acrescentando que os grandes bancos continuam firmes, “mesmo diante dos desafios em relação às mudanças nos ciclos econômicos e toda dinâmica de novos entrantes com a chegada das fintechs.”

Apesar de ação barata, Banco do Brasil é deixado de lado por analistas por conta do risco político

Qual comprar?

Para os analistas, no momento, Itaú e Bradesco possuem as teses mais interessantes. “Ambos com operações bem diversificadas e com muito valor entregue no presente. Em momentos de volatilidade político-econômica e do aumento de taxa de juros, achamos que tanto Itaú quanto o Bradesco poderiam fazer parte do portfólio de qualquer investidor que tenha foco no longo prazo”, diz Romero.

Na visão de Amaral, o Banco do Brasil tem um perfil mais defensivo, dada a sua relevância nos ramos de crédito consignado e rural. Mas, em momentos de crises, o fator político pesa sobre o valuation do banco.

“Por isso, bancos conservadores em sua estratégia, como Itaú e Bradesco, são boas opções para momentos de crise e possuem uma carteira de crédito bem diversificada”, completa.

Abdouni, da Inversa, recorda que, apesar do Santander ter entregado o maior ROE (Retorno Sobre o Patrimônio) dos bancos, o papel está caro, negociado a 1,7 vezes o seu patrimônio. Já o Itaú reportou resultados com uma qualidade um pouco inferior ao do Bradesco por conta da elevação das provisões. 

“O Bradesco sofre menos com a concorrência de serviços das fintechs porque ele é mais diluído em crédito e seguro que Itaú e o Santander. O ROE dele veio um pouco menor, o lucro foi igual, mas consumiu menos provisão do estoque que tinha”, argumenta. 

Miziara acrescenta que o Itaú é o único dos quatro bancos que faz um hedge (proteção) forte de taxa de juros. “Então, em momentos defensivos e de incerteza, ele tende a performar melhor nos resultados, principalmente na parte de resultados financeiros”, diz. 

Na opinião de Romero, com os múltiplos nos níveis atuais e o elevado payout histórico dos bancos, essa é hora de encher o carrinho com papéis do setor (Imagem: Pixabay/Olichel)

Dividendos, gordos dividendos

No ano passado, por conta da pandemia, o Banco Central restringiu a distribuição de dividendos dos bancos a 25%. Isso, inclusive, é um outro fator que penalizou os papéis. Porém, a medida já caiu e as expectativas são animadoras. 

Pelos cálculos do especialista da Inversa, o Santander está com um dividend yield na casa dos 8%, enquanto Itaú e o Bradesco devem pagar dividendos na casa dos 6%, e o Banco do Brasil, pelo menos, 6% a 7%. “Para uma carteira de dividendos, os quatro fazem sentido”, completa.

Na opinião de Romero, com os múltiplos nos níveis atuais e o elevado payout histórico dos bancos, essa é hora de encher o carrinho com papéis do setor.

“É em momentos de maior pressão nos preços das ações que o investidor, focado em dividendos, deveria intensificar seus aportes naquelas empresas que são extremamente lucrativas, rentáveis e que possuem um histórico longo de distribuição de lucros, como é o caso dos bancos brasileiros”, diz.

Apesar disso, o especialista do Inter ressalta que as incertezas ainda não passaram completamente e que é necessário aguardar os resultados se consolidarem no patamar de lucratividade pré-pandemia. “Aí sim, a discussão de maiores payouts pode voltar à mesa”, conclui.