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Real Valor: por que comprar moeda não é exatamente investir?

25 set 2021, 14:01 - atualizado em 24 set 2021, 18:33
Dólar
Entenda por que moeda estrangeira não é investimento (Imagem: Pixabay/geralt)

Se você acompanha o Real Valor há um tempo, sabe que não é novidade nenhuma que falamos sobre a importância da diversificação da carteira.

Além disso, esse ano de 2020 veio para nos mostrar que além de diversificar a carteira em relação a produtos e ativos, é importante também que você olhe para mercados de outros países.

De fato, esse assunto ainda é uma novidade para a maioria dos investidores. Uma pesquisa feita no final de Julho mostrou que apenas 1% dos investidores brasileiro se expunha a investimentos no exterior.

Inclusive, analistas de mercado começaram a recomendar o aumento da diversificação internacional da carteira.

Antes o espaço para esse tipo de investimento era de 2%-3% da carteira, agora a indicação é entre 16% e 25% a depender do perfil de investidor.

Se estamos falando sobre investimentos internacionais, por que comprar moeda não necessariamente é considerado investimento?

Investir é quando aplicamos uma quantia de dinheiro com intenção de obter ganhos por um prazo determinado, ou seja, um rendimento sobre o dinheiro investido, como juros, dividendos e lucros. A partir do momento que você investe em um ativo, você espera um retorno do valor investido.

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Mas aí você vai me perguntar: ué, mas se eu comprar por exemplo o dólar a R$ 3,00 e daqui a um mês ele passar a valer R$ 5,00 e eu vender, eu vou ganhar dinheiro. Isso não é considerado investir?

Não!

Na verdade isso é considerado especular, que é parecido com investir, mas mais focado em ganhos de curto prazo.

Se você de fato comprar para manter a moeda por um tempo, temos um problema.

Moeda estrangeira não é investimento, vamos entender o porquê

A inflação vai “comer” uma parte do seu dinheiro. Se você comprou USD 1.000 hoje, daqui a 3 anos você vai continuar tendo os USD 1.000, mas o seu poder de compra será menor.

Suponhamos que teve uma inflação de 20% nesses últimos 3 anos. Digamos que uma camisa custa USD 100.

No ano que você comprou os dólares, você consegue comprar 10 camisas de USD 100. No ano 3 a mesma camisa vai custar USD 120. Ou seja, com os mesmo USD 1.000 você conseguirá comprar 8 camisas.

Além disso, por mais que uma moeda tenha tendência a se valorizar em relação a outra moeda, a inflação do país da moeda que se desvalorizou vai equiparar o poder de compra das duas moedas.

Veja esse exemplo:

O Dólar variou de R$ 2,69 para R$ 4,02 de jan/2015 para jan/2020.

Então temos o seguinte cenário:

  • Rentabilidade nominal: +49%
  • Inflação no período: 31%
  • Rentabilidade Real do dólar: 14% no período

A moeda é um ativo altamente volátil. Como hedge cambial, comprar dólar (ou outra moeda) faz sentido e vamos falar a seguir.

Mas e comprar dólar como investimento, faz sentido?

Vamos comparar com um dos tesouro diretos mais seguros, o IPCA+ 2035:

  • Rentabilidade nominal: +190% no mesmo periodo
  • Inflação do período: 31%
  • Rentabilidade Real do IPCA+ 2035: 121%

Investir em tesouro direto IPCA nesse caso, além de ser muito menos volátil e mais seguro, dá um retorno muito maior.

A taxa do IPCA+ para investir nesse período variou de IPCA+8% até IPCA+2,99%.

Anualizando a rentabilidade real do dólar de 14% em 6 anos, temos 2,18% ao ano de rentabilidade real.

Note que em 100% do período, o IPCA+ pagava mais, mesmo tendo menos risco. Por isso gostamos de falar que comprar dólar não costuma ser um bom investimento.

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Moeda como proteção

Você pode usar a compra de moeda como uma proteção contra riscos de mudança no câmbio.

Se uma pessoa resolver fazer intercâmbio para os EUA, ela terá que pagar os custos para seu estudo, moradia e estadia.

Suponhamos que essa mesma pessoa guarde e invista o dinheiro para custear esse intercâmbio. O melhor caminho é ela comprar moeda ou investir em um fundo cambial, assim o dinheiro fica protegido em relação a variação do valor da moeda.

No fundo cambial, você mantém seu poder de compra. Exemplo:

Para o intercâmbio, é necessário USD 10.000 e eu tenho R$ 40.000.

Digamos que o Dólar está a R$ 4 logo, entrando no fundo cambial eu consigo os USD 10.000.

A proteção então vem da seguinte forma

Se o dólar se valorizar em relação ao Real e passar a valer R$ 5, se eu converter para Real e vou ter R$ 50.000, ou seja, eu ganhei R$ 10.000.

Se meu objetivo fosse rentabilidade, eu poderia resgatar o valor e ficar com os R$ 50.000, mas o meu objetivo é o estudo, então continuo tendo os USD 10.000.

Agora se o dólar cair e for para R$ 3 os  USD 10.000 agora valem R$ 30.000.

Apesar de  ter  R$ 10.000 a menos do que quando eu comprei, o meu poder de compra continua o mesmo. Eu vou continuar conseguindo pagar os estudos com USD 10.000 apesar de perder dinheiro em Real.

E como ficam as criptomoedas?

Apesar de já estarem presentes na vida de uma grande parcela de pessoas, as criptomoedas não são bem vistas como moeda.

Quem tem criptomoedas não usa o bitcoin, por exemplo, para fazer pagamentos, geralmente compra para esperar ela se valorizar apenas. Até porque ainda tem uma série de questões em relação às transações.

Por isso, elas acabam sendo vistas como investimentos, mas é preciso olhar para isso e entender as particularidades desse ativo.

Quando se fala em inflação, o real tem inflação, o dólar tem inflação e se desvalorizam com o tempo.

E o bitcoin em relação à inflação?

Tem inflação também, porque cada vez mais tem bitcoin sendo minerado, então cada vez mais tem criptomoeda sendo criada.

Inclusive, existe um evento técnico que reduz 50% da remuneração dos mineradores: o halving. As consequências? Redução na oferta de novas criptomoedas no mercado.

Por falar em oferta, o principal driver do preço do bitcoin e das criptomoedas é oferta e demanda.

Demanda x oferta

E é um componente tão forte que é por isso que elas são encaradas como investimento hoje em dia, apesar de não ser enquadrarem em um investimento de longo prazo como uma ação, por exemplo.

Quando você adquire uma ação você está investindo em algo que está gerando riqueza.

A empresa pode estar promovendo inovação, crescimento de pessoal, fazendo mais receita. Já a criptomoeda não.

Você tem ela na carteira e a variação acontece de acordo com a oferta e demanda. Assim como acontece com o ouro. Não produz nada para o mundo, mas é uma forma de investir e fugir da inflação da moeda local.

O futuro do bitcoin e das criptomoedas como forma de pagamento ainda é incerto, não sabemos como vai ser, em algum momento, elas provavelmente vão desempenhar papel de moedas mesmo.

Como investir internacionalmente?

Se você tem interesse em saber mais sobre como se expor a outras moedas você tem algumas alternativas.

Você pode investir por exemplo em ações.

Hoje em dia está mais acessível investir em ações de outros países. Aqui é importante você entender melhor sobre as empresas, fazer uma análise delas e decidir se vai entrar ou não.

E por mais que tenha inflação nos países, se você fizer uma boa escolha em relação às empresas que for investir, a empresa crescendo, pode gerar mais lucro e você ter ganhos futuros.

Além disso, também tem ETFs, BDRs e fundos cambiais e internacionais disponíveis no mercado.

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