Reação dos mercados é “razoável” em meio a deterioração de percepção fiscal, avalia executivo do BofA
A reação negativa dos mercados de câmbio e juros à piora do sentimento relacionado à política fiscal é “razoável”, e tanto o Tesouro quanto o Banco Central precisariam ver comportamentos “mais violentos” antes de intervirem de forma agressiva no funcionamento dos mercados, disse Nuno Martins, chefe de estruturação e vendas de derivativos do Bank of America no Brasil.
O dólar chegou a 5,67 reais nesta quinta-feira, nas máximas em três meses, com o real mais uma vez liderando as perdas globais.
No mercado de DI, a inclinação entre os vencimentos janeiro 2025 e janeiro 2021 chegou a superar 400 pontos-base nos últimos dias, máxima desde maio.
Apenas em agosto, o dólar dispara 7,4%, enquanto o citado spread na curva de DI salta 65 pontos-base.
“O mercado tem piorado, mas não tem demonstrado ruptura técnica, nem nos padrões de oferta e demanda. Essa reação me parece adequada até aqui”, disse Martins à Reuters, lembrando que o BC voltou a atuar no mercado de câmbio com venda líquida de swaps cambiais e dólar à vista, enquanto o Tesouro reduziu o tamanho dos lotes em leilões primários de títulos (uma forma de amenizar pressões de alta nas taxas de DI).
O BC vendeu 1,140 bilhão de dólares em dois leilões de moeda à vista nesta sessão, depois de na véspera fazer oferta líquida de swap cambial operação retomada na semana passada após cerca de três meses de pausa.
Nesta quinta, o Tesouro reduziu de 150 mil para 50 mil o lote de NTN-F (papel longo e, por isso, mais vulnerável a mudanças de preços no mercado) ofertado em leilão, enquanto elevou de 500 mil para 750 mil o montante disponibilizado de LFT cujo rendimento é atrelado à Selic, portanto, um título de menor risco.
Em outras ocasiões de estresse no mercado, o Tesouro chegou a realizar operações extraordinárias de recompra de papéis, algumas vezes ao mesmo tempo que o BC fazia colocações programadas de liquidez no mercado para acalmar o câmbio.
“Ainda não estamos vendo movimentações diárias de 50 pontos-base, 70 pontos-base (nos DIs). Se houver alguma disfuncionalidade, acredito que o Tesouro deverá atuar.”
Sobre o real, Martins diz que a moeda segue afetada pelo “carry” (retorno) baixo, conforme a Selic está na mínima recorde de 2% ao ano, junto com maior percepção de risco.
Esse quadro, em sua avaliação, segue influenciando a debilidade dos fluxos de portfólio, que sofreram debandada nos meses seguintes ao estouro da crise do coronavírus.
Segundo ele, a alta do dólar até estimulou mais operações de fechamento de câmbio para exportação, mas nada que tenha fugido dos padrões para momentos de valorização da moeda norte-americana como o atual. “Esse fluxo (de exportação) continua bom”, avaliou o executivo do BofA.
Para Martins, a piora nos preços do dólar e dos juros futuros não parece diretamente associada à percepção de que o Banco Central possa ter ido longe demais no processo de corte da Selic, como defendem alguns no mercado.