Ray Nasser: houve o halving! E agora?
Bloco 630 mil. 16 horas e 23 minutos do dia 11 de maio de 2020. 3.134 transações. Mais de 20 blocos de transações na fila para serem verificadas (no chamado “mempool”). 6,25 BTCs + 0.969 BTCS foram para um minerador da Antpool. 87,50% dos bitcoins totais emitidos até esse momento.
E assim aconteceu um dos eventos mais esperados e interessantes do Bitcoin: o famoso “halving”, chamado por alguns de “meiada” ou “rachadinha”.
Halving é quando a emissão de bitcoins é cortada pela metade. Até então, tínhamos 1,8 mil bitcoins sendo emitidos diariamente por mineradores mundo afora. A partir desse momento, somente 900 bitcoins emitidos por dia pelos próximos quatro anos.
Dez notícias para entender o halving do Bitcoin
Em termos leigos, isso se traduz em uma oferta diária menor. Como alguns aprenderam na aula sobre economia na escola: com tudo estando mais constante (em especial, a demanda) e com a redução da oferta, a consequência é de alta no preço. Essa é a principal razão por que chamamos o bitcoin de ativo inflacionário a taxas decrescentes.
O bitcoin também é escasso porque só serão emitidas, ao todo, 21 milhões de unidades, em toda a sua existência. Escassez somada à inflação a taxas decrescentes o tornam em uma ótima reserva de valor; melhor, inclusive, que o ouro, como vimos nas últimas semanas de precificação de mercado.
Vamos a uma análise mais detalhada. Há três tipos de participantes do mercado de compra e venda de bitcoin.
1. Investidor institucional: representado por fundos de investimento, bancos, “family offices” e instituições de todos os tipos. Compram por especulação ou por proteção contra inflação e outros acontecimentos, e podem se desfazer de sua posição imediatamente. Não há grandes pressões de compra ou de venda.
2. Hodlers: são os “holders” de bitcoin; a maioria que compra para manter, na esperança de que o ativo tenha uma valorização substancial de longo prazo. Não estão interessados em vender sua posição, a não ser que precisem fazê-lo para pagar despesas.
3. Mineradores: são a espinha dorsal da rede, os que deram “all-in” no bitcoin. Têm contratos firmes com empresas de energia, “data centers”, pagam salários e são donos de um ativo ilíquido: as máquinas de mineração. Não tem a escolha de se desfazer de todos seus ativos do dia para a noite e precisam ponderar, com muito cuidado, toda e qualquer decisão feita.
Ao contrário dos outros dois participantes citados acima, o minerador é obrigado a vender seus bitcoins para pagar suas despesas de mineração.
Portanto, podemos concluir que a maior pressão de venda vem dos mineradores. Essa pressão acabou de ser reduzida pela metade, já que a emissão do protocolo passou pelo mesmo processo.
A um preço de US$ 9 mil por bitcoin, isso se traduz em aproximadamente US$ 3 bilhões por ano. Teremos US$ 3 bilhões de bitcoins a menos para vender no mercado do que previamente. São 328 mil bitcoins que deixarão de ser produzidos e vendidos anualmente.
Num sistema integralmente decentralizado, não há uma autoridade que regula a base monetária. No caso do bitcoin, a base monetária dos próximos 130 anos foi definida no primeiro dia de sua existência.
Ou seja, o algoritmo define, desde seu nascimento, como e quantos bitcoins serão criados e a qual velocidade. Não há possibilidade de mudar isso. Por isso, o bitcoin será inflacionário a taxas decrescentes até o resto de sua existência.
Enquanto isso, o brasileiro viu o dólar subir para praticamente R$ 6 no mesmo mês. Vimos a dívida americana passar de US$ 25 trilhões, com planos para imprimir acima de US$ 4 trilhões.
A política monetária de dinheiro fiduciário é feita por seres humanos e pode ser mudada a qualquer hora. Decisões feitas por uma dezena de pessoas podem afetar milhares.
O valor do seu dinheiro, da sua casa e das suas economias é decidido diariamente pelo mesmo número de pessoas que compõem um time de futebol.
Os Estados Unidos, com seu dólar, têm sido a epítome da confiança do mercado financeiro global. Na última década (até mesmo antes disso), governos em todo o mundo têm praticado o afrouxamento quantitativo (QE, na sigla em inglês).
O QE é, em essência, o oposto exato do halving do bitcoin. No QE, as taxas de juros vão diminuindo e a emissão de dívida e de moeda aumentam.
Até que ponto todo esse dinheiro emitido irá perder seu valor? Existe um limite? Haverá uma espiral inflacionária do dólar e de outras moedas fiduciárias simplesmente porque há um número excessivo desses ativos na economia?
Esse é justamente o medo de muitos dos melhores economistas do mundo. E se (ou melhor, quando) acontecer, como você pode proteger o seu patrimônio?
Para os investidores que se perguntam sobre o preço futuro do bitcoin: vejam o preço do ouro, do petróleo, das bolsas globais e do bitcoin nesses últimos dois meses de pandemia. Uma das melhores medidas de precificação para um ativo saudável é a sua resiliência.
A cada evento de halving, a resiliência do bitcoin aumenta. Quatro anos atrás, no último halving, podíamos dizer, em termos práticos, que o mundo ainda não tinha conhecimento da existência do bitcoin. Hoje, as coisas já são bem diferentes.
E no próximo evento, daqui a quatro anos? O que acontecerá com os outros ativos globais? E se houver uma nova guerra, uma outra pandemia, instabilidade política ou crise financeira? A realidade é que nada neste mundo é certo.
Portanto, aos que se perguntam como poderemos nos proteger, respondo com clareza: compre bitcoin.
Raymond Nasser é graduado em Economia e Finanças em Babson College, Massachussets e tem 15 anos de experiencia no mercado financeiro como gestor de family office e portfólios de derivativos financeiros. Trabalhou em Nova York de 2004 a 2011, estruturando e montando produtos financeiros para investidores. Em 2015, entrou para o mundo das criptomoedas, investindo em sua primeira operação de mineração. Criou o primeiro fundo de private equity de mineração em 2015. É fundador da Or Blockchain Investments e sócio-fundador da OR-HUB, uma plataforma para vender, comprar e investir em ativos imobiliários.