Mineração

Raro diamante rosa encarece com fechamento de mina na Austrália

23 out 2019, 15:31 - atualizado em 23 out 2019, 15:31
A mina Argyle deve fechar no final de 2020 porque sua reserva de joias economicamente viáveis se esgotou (Imagem: Carla Gottgens/Bloomberg)

Há 30 anos, o joalheiro John Calleija compra gemas raras da mina Argyle, que a Rio Tinto Group opera em uma área remota do oeste da Austrália, onde se encontram 90% dos cobiçados diamantes cor-de-rosa.

Em uma tarde chuvosa em Nova York, o joalheiro residente na Austrália analisou com lupa algumas das mais raras pedras rosadas e vermelhas que entrarão no leilão anual de diamantes cor-de-rosa da Rio Tinto, que envolverá 64 diamantes com 56,28 quilates somados. O silêncio solene na sala do Peninsula Hotel era interrompido apenas pelos murmúrios de aprovação de Calleija ao avaliar a lapidação e clareza das gemas.

As pedras são sempre de tirar o fôlego, mas o leilão deste ano tem um toque de nostalgia. A mina Argyle deve fechar no final de 2020 porque sua reserva de joias economicamente viáveis se esgotou.

“Está muito perto, é questão de meses”, conta Calleija. “Observamos um grande aumento na demanda no momento.”

Desde que foi inaugurada em 1983, a mina produziu mais de 865 milhões de quilates de diamantes brutos para as duas pontas de preço desse mercado. Agora restam os 150 quilates finais de diamantes polidos na cor rosa.

Sendo a maior produtora de diamantes em volume e com mais de três quartos da produção concentrados em diamantes marrons de menor valor, a mina Argyle é determinante do excesso na oferta global de diamantes baratos, que corrói os lucros do setor de maneira generalizada. A De Beers reduziu planos de produção no início deste ano em meio à enxurrada de diamantes polidos e à estagnação das compras por consumidores.

Segundo previsões da RBC Capital Markets e da Panmure Gordon, o encerramento das operações da mina pode impulsionar os preços, que vêm caindo desde 2011. Para os diamantes cor-de-rosa, o efeito pode ser enorme, acredita Larry West, proprietário da LJ West Diamonds em Nova York. “Estes são os diamantes mais raros do mundo”, diz ele. “Não há nada igual e a mina nunca poderá ser copiada.”

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Demanda por diamantes

Segundo a presidente da Alrosa PJSC na América do Norte, os preços dos diamantes rosados subiram 300% na década passada (Imagem: Pixabay)

Segundo Rebecca Foerster, presidente da Alrosa PJSC na América do Norte, os preços dos diamantes rosados subiram 300% na década passada.

“Como não existem outras fontes equiparáveis de diamantes cor-de-rosa, após o fechamento da mina Argyle ao longo do próximo ano, o mercado enfrentará escassez na oferta”, prevê ela.

Segundo Olya Linde, sócia da Bain & Co. em Moscou que analisa metais e mineração, o preço dos diamantes rosados varia de US$ 1 milhão a US$ 3 milhões por quilate.

Joalheiros preferem pedras com a “marca” Argyle a gemas de qualidade semelhante de minas da Rússia ou África do Sul. Todo diamante rosa Argyle vem com certificado de autenticidade.

As ofertas da Rio Tinto também são lendárias, com paradas em Perth, Cingapura, Londres e Nova York antes do encerramento dos lances. Os interessados submetem propostas seladas e o vencedor é notificado no prazo final.

A cultura pop tem seu papel nesse mercado. Ben Affleck pediu Jennifer Lopez em casamento em 2002 com um anel de diamante rosa intenso de 6,10 quilates da joalheria Harry Winston. Depois disso, as pedras coloridas viraram moda.

Para Quig Bruning, especialista em joias da Sotheby’s, sucesso chama mais sucesso na indústria de diamantes. “Algumas pedras são vendidas por valores altíssimos e recebem muita atenção”, lembra ele.

O CTF Pink Star, extravagante diamante rosa de corte oval misto de 59,60 quilates, extraído pela De Beers, bateu o recorde mundial em leilão: US$ 71,2 milhões. A venda foi realizada pela Sotheby’s Hong Kong em abril de 2017.