Ramagem “convidou” delegado Saraiva para ser superintendente da PF no Rio
O delegado da Polícia Federal Alexandre Saraiva afirmou que o colega delegado Alexandre Ramagem, atual diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), fez um convite por telefone para que ele assumisse a Superintendência da PF no Rio no início do segundo semestre de 2019, segundo depoimento prestado por ele nesta quarta-feira.
No depoimento, Saraiva, então superintendente no Amazonas, disse a Ramagem, de quem era amigo, que aceitaria a escolha. Contudo, afirmou que ela não se concretizou e pouco depois encontrou-se pessoalmente com o então ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, que perguntou a ele sobre sua ida para o comando da PF no Rio.
Saraiva, então, relatou a Moro o contato telefônico feito por Ramagem, tendo ressalvado que isso decorreria de um acerto prévio com o então diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, como condição para assumir o cargo.
Em agosto de 2019, o próprio presidente Jair Bolsonaro chegou a citar publicamente o nome de Saraiva para assumir o cargo de superintendente da PF no Rio.
No depoimento desta quarta, o delegado disse que, apesar da deferência de Moro, posteriormente se sentiu isolado pela administração de Maurício Valeixo.
Saraiva foi um dos depoentes desta quarta no inquérito aberto pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que investiga declarações do ex-ministro da Justiça de que o presidente tentou interferir indevidamente nos trabalhos da PF.
O delegado disse que esteve pessoalmente em 2018 com o então presidente eleito Jair Bolsonaro, oportunidade em que chegou a ser cotado para assumir o Ministério do Meio Ambiente. Afirmou ainda que não tem nenhum vínculo de amizade com Bolsonaro nem com familiares dele.
O delegado também destacou não ter conhecimento de nenhuma investigação na PF do Rio contra o presidente e familiares. Ele disse que, por ser um dos delegados mais longevos, tinha condições de assumir o cargo.
Nesta quarta, também depôs o delegado Carlos Henrique Sousa, que era o superintendente da PF no Rio de Janeiro e agora virou o diretor-executivo da corporação, espécie de número 2, mas com foco administrativo. Sousa disse que não houve nenhuma interferência durante sua gestão.
“Não houve nenhuma espécie de interferência nos trabalhos desenvolvidos pela Polícia Federal no Estado (Pernambuco), assim também como não houve enquanto estava no Rio de Janeiro”, disse ele.
Assim como Saraiva, Carlos Henrique Sousa disse que nunca manteve qualquer interlocução direta com o presidente ou pessoas próximas dele.