Raízen (RAIZ4): VP ressalta a demanda do SAF e brinca; ‘Precisamos incentivar o consumo de McDonalds’
A vice-presidente de estratégia e sustentabilidade da Raízen (RAIZ4), Paula Kovarsky, comentou sobre o potencial do Brasil no crescente mercado de SAF (combustível de aviação sustentável), à medida que o mundo olha cada vez mais para a transição energética. A fala ocorreu durante a 25ª Conferência Anual do Santander.
Atualmente, a maior parte do SAF (combustível de aviação sustentável) produzido no mundo vem a partir dos óleos vegetais via Ácidos Graxos e Ésteres Hidroprocessados (HEFA, em inglês). Além dessa via, existe a produção via alcohol-to-jet (ATJ), com uso do etanol para produção do SAF.
Kovarsky explica que ainda não existem tecnologias do SAF para voos de longa duração e reforça que o setor aéreo, que tem nele um consumidor com um poder de compra e um nível de educação acima da média, deveria caminhar mais rápido na direção da descarbonização. Estima-se que o setor aéreo responda por 2% – 3% dos gases de efeito estufa (GEE).
“A alternativa são os biocombustíveis drop-in (podem ser utilizados nos motores atuais), que possam ser misturados no jet e no querosene de aviação (QAV) para reduzir as emissões. O HEFA conta com uma tecnologia mais avançada, com plantas maiores, na casa de 600-700 mil toneladas. Dito isso, eu acredito que a próxima onda é do ATJ, ainda que a tecnologia esteja 2 ou 3 anos atrasada”, diz.
A Raízen foi a primeira empresa no mundo a receber a certificação internacional ISCC CORSIA Plus, que comprova que o etanol produzido no parque de bioenergia Costa Pinto, em Piracicaba (SP), cumpre os requisitos internacionais para a produção de SAF.
Os desafios para produção de SAF
Para o HEFA, a VP de estratégia e sustentabilidade da Raízen enfatiza que o desafio fica por conta da oferta de matéria-prima. Para ela, a produção pelo HEFA deve estacionar em 30 bilhões de toneladas. Vale lembrar que o Brasil se comprometeu a reduzir suas emissões de carbono em 50% até 2030.
“Costumo brincar e dizer que precisamos incentivar o consumo de McDonald’s para termos mais óleo de cozinha e fazer mais SAF. Se imaginarmos que 25% do SAF será ATJ, seria algo em torno de 9 – 10 bilhões de litros, sendo que o Brasil produz 30 bilhões. Esse número representa uma demanda adicional de 1/3 da nossa produção, uma oportunidade e potencial gigantesco para o etanol de milho e cana-de-açúcar, ou mesmo para créditos de carbono”, explica.
De acordo com a Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata), o SAF pode contribuir com cerca de 65% da redução de emissões necessária para o transporte aéreo atingir a neutralidade de CO2 em 2050.
“Se pensarmos que 2% da demanda de produtos petroquímicos no mundo vão ser produzidos a partir do etanol, são outros 10 bilhões de litros, se imaginarmos também que a Europa avança pouco em blend, são outros 10 bilhões de litros, sendo assim, pegamos toda demanda de etanol do Brasil. Com isso, a discussão sobre demanda acaba sendo quase que irrelevante. Precisamos agir rápido e ter outras alternativas de suprimento”.