AgroTimes

Raízen (RAIZ4): O fôlego do etanol de segunda geração acabou? O que fez a empresa despencar quase 90% na bolsa desde o IPO

03 nov 2025, 8:00 - atualizado em 31 out 2025, 16:46
raizen-raiz4
A principal promessa da Raízen, e grande diferencial à época da estreia na B3, era o etanol de segunda geração (E2G)

A Raízen (RAIZ4), que nasceu de uma joint venture entre Cosan (CSAN3) e Shell em 2011, foi responsável pelo maior IPO do ano de 2021, movimentando cerca de R$ 6,9 bilhões e sendo precificada a R$ 7,40.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Mas, desde então, a companhia vem enfrentando desafios na bolsa. Desde março de 2022, a ação opera abaixo do preço do IPO e, agora, já desabou quase 90%, sendo negociada abaixo de R$ 1. 

O que explica este tombo? 

  • CONFIRA: Está em dúvida sobre onde aplicar o seu dinheiro? O Money Times mostra os ativos favoritos das principais instituições financeiras do país; acesse gratuitamente

Grandes expectativas com o etanol de segunda geração (E2G)

A principal promessa, e grande diferencial da companhia à época da estreia na B3, era o etanol de segunda geração (E2G), biocombustível feito a partir dos resíduos da cana comum (de primeira geração) e do açúcar.

Esse biocombustível ganhou muita atenção por seu apelo ESG. Afinal, o produto conta com uma pegada de carbono 80% menor que a da gasolina e 30% menor que a do etanol de primeira geração. Por conta disso, ele poderia ser vendido no mercado com um prêmio de até 70% sobre o valor do E1G.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Outra vantagem do E2G é ser feito com resíduos, ou seja, ele não compete com a produção de alimentos, o que também é considerado positivo pelo viés ESG.

Além disso, a Raízen conseguiria produzir 50% a mais sem precisar aumentar um hectare sequer com cana-de-açúcar.

O que mudou no mundo?

No entanto, a chegada do pós-pandemia promoveu uma mudança global nas prioridades de empresas e consumidores no que diz respeito à sustentabilidade. Somou-se a isso a alteração no patamar dos juros globais.

Na visão de Lucas Villela Boacnin, gerente de novos negócios da Argus, empresa de dados sobre commodities, houve também uma redução no ritmo das discussões sobre descarbonização com a volta de Donald Trump à Casa Branca e os incentivos à exploração de combustíveis fósseis, com o slogan “Drill, baby, drill”.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

“Esse movimento mexeu com toda a questão de crédito para produtos renováveis. Os renováveis ainda dependem muito crédito e hoje são mais caros que os derivados do petróleo, principalmente agora que a cotação do óleo está mais baixa. Isso afetou muitos biocombustíveis e commodities, não só o E2G”, afirma Boacnin.

A nova postura política dos EUA restringiu a importação pelo país de matérias-primas e produtos renováveis. Além disso, o atual shutdown do governo norte-americano paralisou parcialmente a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, que define regras federais e sobre créditos de carbono. Com isso, muitas discussões foram adiadas até março do ano que vem, uma incerteza que afeta todos os combustíveis voltados à descarbonização.

Segundo Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research, não é que o tema ESG deixou ser importante, mas o cenário de juros altos e aperto financeiro fez as empresas reverem suas prioridades e tornou mais difícil a compra de combustíveis com prêmio, como é o caso do E2G.

“A demanda acabou ficando abaixo do esperado, assim como o retorno sobre o capital alocado nesse projeto. A elevação dos juros, assim como o baixo retorno sobre os investimentos sustentáveis, acabaram colocando o balanço da companhia em uma situação delicada — embora ainda solúvel”, explica Quaresma.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

A situação das usinas da Raízen

Do total levantado no IPO, quando a Selic era de 5,25% e os investimentos eram menos custosos, 80% dos recursos seriam destinados pela Raízen para a construção de 20 plantas de E2G e 39 plantas de biogás até 2031.

A companhia, no entanto, está bem longe desse patamar. Atualmente, a Raízen possui três plantas de E2G em operação, todas localizadas no interior do estado de São Paulo: em Guariba (Usina Bonfim), Barra Bonita (Usina Barra) e Valparaíso (Usina Univalem).

A empresa também avança na construção de duas novas unidades: uma na Usina Vale do Rosário, em Morro Agudo, e outra na Usina Gasa, em Andradina — ambas igualmente situadas no interior paulista.

No dia 17 de janeiro de 2025, anunciou o fim da operação da sua planta-piloto (Costa Pinto) de E2G localizada em Piracicaba, no interior paulista.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

No segundo trimestre da safra 2025/2026 (2T26), a produção de E2G atingiu 43 mil m³, um crescimento de 186% na comparação com o 2T25, resultado do avanço operacional nas usinas Univalem, Barra e Bonfim.

Ainda há esperança para o E2G?

Na visão do gerente da Argus, o E2G não perdeu força. Pelo contrário, ele acredita que ainda existe uma demanda considerável, especialmente na Europa, pela forma como os mandatos ambientais e regulatórios são estruturados.

“Na Europa há muita restrição no uso de matérias-primas de primeira geração ou crop based, que são aquelas que podem competir com comida, como é o caso do etanol de primeira geração. O E2G não cai nesse problema”.

“Eu acredito que esse prêmio pago pela Europa para o E2G vai se confirmar, mas isso depende da capacidade do Brasil de advogar, porque esses mercados acabam sendo protecionistas e moldam toda sua regulação para proteger o mercado interno”, afirma o especialista.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Boacnin reforça que os combustíveis de descarbonização mais avançados, como o caso do SAF (Combustível Sustentável de Aviação), ainda dependem de regulações que apoiem seu uso. Ele afirma que, a partir de 2030, o mundo deve ver um gatilho para demanda, com novos mandatos formais para uso do SAF.

A Raízen poderia produzir etanol de milho?

Outro fator que mexe com o setor de etanol é o avanço expressivo do biocombustível feito a partir do milho, com custos até 40% menores que o da cana-de-açúcar.

Recentemente, a Petrobras (PETR4) manifestou interesse em retornar para o mercado de etanol, mas descartou oficialmente o interesse de se tornar uma parceira da Raízen, que produz exclusivamente etanol de cana.

Na visão da Empiricus, novos investimentos estão basicamente interrompidos até que o balanço da companhia seja equalizado. “O etanol de milho é uma questão importante para o setor, por ser uma alternativa competitiva ao etanol de cana. Entretanto, o endividamento precisa ser reduzido antes que a Raízen considere entrar no segmento.”

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

A tentativa de turnaound da Raízen

No final do ano passado, a Raízen trocou seus principais executivos e começou uma reestruturação, amparada em corte de custos e também na venda de ativos.

Em outubro de 2024, a Cosan, holding que controla a Raízen, anunciou Nelson Gomes, antigo diretor presidente do grupo, substituindo Ricardo Mussa como CEO da Raízen.

No primeiro trimestre da safra 2025/2026 (1T26), a relação dívida líquida/Ebitda ajustado da Raízen estava em 4,.5x, um aumento expressivo ante os 2,.3x do 1º trimestre de 24/25 (1T25). Já a dívida líquida ficou em R$ 49,21 bilhões, um crescimento de 55,8% no mesmo comparativo.

Apesar da dívida elevada, Quaresma destaca que a companhia já fez o trabalho de alongamento desse passivo, com poucos vencimentos neste ano-safra, sendo a maioria concentrados a partir de 2027 e 2028.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE


A Raízen está executando um plano de desinvestimentos de ativos, que pode levantar entre R$ 10 bilhões e R$ 15 bilhões nos próximos 18 meses. Desde o final do ano passado, já levantou mais de R$ 3 bilhões, com destaque para 55 usinas de geração distribuída, Usina Santa Elisa e do Leme.

Porém, em sua última divulgação de resultados, a Raízen reconheceu que, para fortalecer a estrutura de capital e acelerar a desalavancagem, está, ao lado de seus acionistas controladores, “avaliando ativamente uma potencial capitalização”.

Em setembro, a Cosan anunciou um aporte de R$ 10 bilhões do BTG Pactual e da Perfin.

Segundo o CFO Rodrigo Araujo, porém, os recursos da transação serão totalmente alocados para fortalecer a estrutura de capital da Cosan, e não serão utilizados para capitalizar a Raízen.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Na visão da analista da Empiricus Research, o aporte basicamente resolve a questão de alavancagem da holding, além de melhorar a governança das subsidiárias.

“Os novos acionistas contam com um extenso histórico de sucesso no setor de infraestrutura brasileiro e que também participarão da gestão da Raízen, podem ajudar a acelerar o processo de turnround e desalavancagem”.

Como os analistas veem a ação?

De nove recomendações de bancos e casas de análise sobre Raízen registradas no terminal do TradeMap, cinco são de compra e quatro, de manutenção.

Apesar do momento atual, BTG Pactual, XP Investimentos e Safra, por exemplo, seguem com suas recomendações de compra para a ação.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Em outubro, o Safra reduziu seu preço-alvo para as ações da RAIZ4 de R$ 2,90 para R$ 1,40, mantendo recomendação outperform (equivalente à compra).

Embora a Raízen tenha avançado em seu processo de turnaround e demonstrado uma alocação de capital mais disciplinada, ainda existem preocupações, segundo o banco.

“Entre elas, a possível diluição em caso de aumento de capital, a pressão contínua da queda nos preços do açúcar e o aumento da oferta de etanol de milho”, afirmam Conrado Vegner e Vinícius Andrade, analistas do Safra.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Compartilhar

WhatsAppTwitterLinkedinFacebookTelegram
Repórter
Formado em Jornalismo pela Universidade São Judas Tadeu. Atua como repórter no Money Times desde março de 2023. Antes disso, trabalhou por pouco mais de 3 anos no Canal Rural. Em 2024 e 2025, ficou entre os 100 jornalistas + Admirados da Imprensa do Agronegócio.
pasquale.salvo@moneytimes.com.br
Linkedin
Formado em Jornalismo pela Universidade São Judas Tadeu. Atua como repórter no Money Times desde março de 2023. Antes disso, trabalhou por pouco mais de 3 anos no Canal Rural. Em 2024 e 2025, ficou entre os 100 jornalistas + Admirados da Imprensa do Agronegócio.
Linkedin
Quer ficar por dentro de tudo que acontece no mercado agro?

Editoria do Money Times traz tudo o que é mais importante para o setor de forma 100% gratuita

OBS: Ao clicar no botão você autoriza o Money Times a utilizar os dados fornecidos para encaminhar conteúdos informativos e publicitários.

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies.

Fechar