R$ 54 milhões por uma vaca: a história por trás do animal mais caro do Brasil
A pecuária brasileira acrescentou mais um capítulo ao seu repertório de números grandiosos. O ativo da vez é uma vaca — e não qualquer vaca. Donna FIV CIAV, matriz Nelore de dez anos, acaba de alcançar a avaliação recorde de R$ 54 milhões, o maior valor já registrado no segmento.
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O resultado veio em um leilão realizado em Foz do Iguaçu, no qual 25% de sua propriedade foram arrematados por R$ 13,5 milhões. O lance não apenas superou com folga o recorde anterior, como também consolidou Donna no topo de um mercado pautado por genética superior, eficiência produtiva e forte competição entre criadores de elite.
A pergunta inevitável permanece: como um animal chega a valer mais do que um imóvel de alto padrão ou um jato executivo?
A resposta se resume a um conceito central, ainda que cheio de nuances: genética.
Por que Donna vale tanto?
O valor de Donna não está associado à produção de carne ou ao volume de leite. Segundo Hyberville Neto, da HN Agro, o preço reflete sua capacidade de transmitir características genéticas raras, especialmente atributos ligados a carcaça e rendimento, fatores decisivos para a qualidade e o valor da carne que chega ao consumidor.
O histórico da matriz confirma essa avaliação:
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bezerras de Donna já alcançaram até R$ 1,3 milhão em leilões especializados;
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sua consistência genética lhe rendeu o título de Melhor Matriz do Ranking Nacional Nelore 2023/2024.
E o destaque não para por aí. O recorde anterior também era da família: sua mãe, Parla FIV AJJ, foi avaliada em R$ 27 milhões no início do ano. No universo do Nelore, pedigree é destino — e Donna carrega duas referências do setor: Parla e o touro Bin Ben da Santa Nice.
Quando genética vira ativo financeiro
O leilão que projetou Donna a R$ 54 milhões é apenas a face mais visível de um setor que movimenta cifras bilionárias. O Brasil detém uma das maiores cadeias de carne bovina do mundo, movimentando cerca de R$ 987,36 bilhões em 2024, o equivalente a 8,4% do PIB, segundo dados setoriais.
Nesse ambiente, a busca por genética superior se tornou uma corrida estratégica. Só na ExpoZebu 2024, principal vitrine da pecuária nacional, foram movimentados R$ 200 milhões em 39 leilões. Já a Expogenética, em agosto, registrou R$ 124,3 milhões, R$ 38 milhões acima do ano anterior.
A lógica, segundo Hyberville Neto, é direta: quem controla a genética mais valorizada produz mais, melhor e com maior eficiência econômica. Isso vale para matrizes, touros, prenhezes, embriões e, por consequência, para todo o rebanho que deriva dessa linha.
Donna é um exemplo clássico desse modelo: uma matriz tratada como ativo reprodutivo premium, cuja genética gera receita direta e indireta — muito além da produção de carne ou leite.
A trajetória que explica o recorde
O desempenho de Donna nos últimos anos ajuda a entender sua valorização acelerada:

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Recordista em vendas de prenhez em 2023;
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Eleita Melhor Matriz do Ranking Nacional Nelore 2023/2024;
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Destaque da ExpoZebu 2024, com 33% da propriedade vendidos por R$ 15,48 milhões;
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Na ExpoZebu 2023, um terço de seus direitos foi comercializado por R$ 5,16 milhões, projetando valor total de cerca de R$ 15,48 milhões na época;
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Valorização expressiva: de R$ 15 milhões estimados no ano passado para os R$ 54 milhões atuais.
Os compradores da nova fração — Nelore Huff e Nelore Traia Veia — se somam a nomes tradicionais do setor, como Casa Branca Agropastoril, Agropecuária Mata Velha e Nelore LMC.
Animais desse porte são frequentemente negociados em condomínios pecuários, modelo no qual cada cota dá direito à exploração genética, divisão de embriões, prenhezes e participação em eventos e premiações.
Os outros “ativos milionários” da pecuária de elite
Antes de Donna, a elite do mercado era comandada por matrizes igualmente valorizadas:
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Parla FIV AJJ – R$ 27 milhões;
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Carina FIV do Kado – R$ 24 milhões;
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Viatina-19 FIV Mara Móveis – R$ 21,5 milhões.
Todas pertencem ao grupo restrito de matrizes tratadas como “blue chips” da pecuária: animais que funcionam como referência de desempenho e lastro de valorização.
O que impressiona, entretanto, é o salto: Donna vale o dobro do recorde anterior, um movimento raro até mesmo entre investidores experientes do setor.