Coluna da Yolanda Fordelone

Quer viver de rendimentos? Só investir não vai salvar sua pele

26 maio 2023, 10:00 - atualizado em 26 maio 2023, 10:10
Finanças pessoais
Viver do rendimento das aplicações e ter independência financeira não é algo trivial que se consegue só investindo bem; entenda (Imagem: Unsplash/Emil Kalibradov)

Tenho me aproximado cada vez mais da independência financeira – isto é, viver do rendimento das minhas aplicações – e posso afirmar: só investir melhor não salva a sua pele.

Tudo bem, se você tomou a decisão de sair da poupança, já está melhor que os quase 50 milhões de brasileiros que ainda mantêm dinheiro nessa aplicação, segundo dados da Anbima. Por outra ótica, também está melhor que 70% das pessoas que nem ao menos guarda dinheiro no fim do mês.

Mas se ilude quem acredita que só guardar e investir basta. Para ter sucesso financeiro, é preciso ter foco em outras duas áreas das finanças: ganhar melhor e gastar pouco.

Sou mão de vaca por natureza de maneira que o pilar de gastar pouco nunca foi um grande desafio pra mim. Para além de gastar menos do que se ganha, o grande segredo nesse quesito é ficar atento ao padrão de gastos que não deveria superar o seu aumento de renda.

O normal é que conforme a vida avance você ganhe mais responsabilidades e queira se recompensar com mais confortos. Vem a casa própria, os filhos, os cursos e mais viagens. O problema é quando os gastos evoluem de maneira mais rápida do que o aumento de salário.

Cria-se um problema duplo: você precisa trabalhar não só para sustentar os gastos atuais, mas também para juntar mais para o seu projeto de independência financeira. Afinal, se acostumou a viver com muito.

Somente gastar pouco, no entanto, não se sustenta sozinho. Se você ganhar mal e ainda investir mal o pouco que sobra, levará uma vida (ou duas) para juntar um bom patrimônio.

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Investir melhor

Foi então no auge dos meus 20 e poucos anos que resolvi passar a investir melhor meu dinheiro. Não só economizava cada centavo, como direcionava para investimentos além da poupança – no começo, sobretudo, em renda fixa.

Era uma conta simples: mesmo com os ganhos de estagiária e de início de carreira, se tudo se mantivesse constante, aos 30 estaria milionária.

De fato, investir bem multiplicou as economias, mas não foi o suficiente para o projeto de independência. Por maior que fosse a rentabilidade e meu custo de vida, ainda faltava colocar mais gasolina no que essencialmente faria meu patrimônio crescer: gerar renda.

Ganhar mais

O pilar de melhorar a renda parece óbvio, mas também tem pegadinhas.

Certa vez, quando eu trabalhava em um aplicativo de organização financeira, estava conversando com um usuário, colhendo seu feedback. Era um médico com dois empregos e ganhos de cinco dígitos na época.

Era uma renda altíssima. Ainda assim, não se orgulhava de, mês após mês, pagar juros de cheque especial simplesmente por uma questão de desorganização. Trabalhava tanto que não tinha tempo de verificar em qual conta havia saldo. Simplesmente passava no débito em um dos seus cinco cartões e depois descobria em qual banco havia saldo para cobrir os juros.

Ou seja, ganhar bem não é o suficiente, como o caso em questão demonstra. Contudo, é o pilar fundamental para que seu projeto seja realizado.

Durante três anos, tive três empregos – atuava na comunicação de uma fintech em horário comercial, dava aula de economia em uma faculdade à noite e aos sábados e gravava conteúdos para meu canal de finanças na madrugada e aos domingos. Foram meus “anos de cão”, como um amigo gosta de chamar.

Há quem opte por ter mais de um emprego, alguns recorrem a freelas, outros ainda fazem renda extra vendendo itens não usados. Não importa a maneira lícita que você resolve atuar para aumentar seus ganhos. Em tempos de preços elevados na gôndola do mercado e na bomba do posto, pensar em mais de uma fonte de renda é importante.

Não nego que seja uma tarefa difícil equilibrar os três pratos ao longo da vida. Há épocas de desemprego, de prejuízo nos investimentos e de imprevistos. Se não tirar 10 em todas as matérias o tempo todo, tudo bem. Ao tirar ao menos 7 na maioria dos anos já estará mais próximo do seu projeto pessoal de independência financeira.

*Yolanda Fordelone é jornalista e economista. Já atuou em redações de jornal, fintech e faculdade de economia. Atualmente cria conteúdos no canal Econoweek, além de compartilhar sua rotina financeira no Instagram (@yofordelone) .