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Quer ser vacinado na Venezuela? É melhor ser leal ao Estado ou nada feito

14 abr 2021, 14:42 - atualizado em 14 abr 2021, 14:54
Venezuela Vacinas
Embora todos os venezuelanos tenham carteira de identidade nacional, nem todos possuem o “Carnet de la Patria” (Imagem: Bloomberg)

A Venezuela tem limitado o acesso a vacinas contra a Covid-19 a pessoas que tenham o cartão de subsídios do estado, o que exclui muitos opositores do governo da campanha de vacinação.

Quando o país começou a imunizar a população idosa na semana passada, disse que estava selecionando beneficiários de um registro usado pelo governo de Nicolás Maduro para monitorar a lealdade dos eleitores e conceder subsídios estatais.

Embora todos os venezuelanos tenham carteira de identidade nacional, nem todos se cadastraram para obter o cartão de subsídios do estado, conhecido como “Carnet de la Patria”, que é desproporcionalmente concedido a pessoas que dependem de ajuda estatal e têm maior probabilidade de serem leais ao governo de Maduro.

O uso do registro tem sido criticado por especialistas médicos, ONGs e pela oposição, já que o banco de dados de cerca de 20 milhões de pessoas não cobre toda a população de 28 milhões. Nos últimos anos, o governo tem usado repetidamente o cartão para condicionar o acesso a programas de alimentação, subsídios de combustível e benefícios de assistencial social.

O cartão é desproporcionalmente concedido a pessoas que dependem de ajuda estatal e têm maior probabilidade de serem leais ao governo de Maduro (Imagem: Manaure Quintero/Bloomberg)

“Para uma estratégia de vacinação, temos que partir de um registro que inclua 100% da população venezuelana”, disse Julio Castro, epidemiologista de Caracas que assessora a oposição. “Usar o Sistema Patria para decidir quem é vacinado ou não, em nossa opinião, é discriminatório”, disse em entrevista de rádio esta semana.

O Carnet de la Patria é “um mecanismo de controle eleitoral”, disse Rafael Uzcátegui, que trabalha para a ONG de direitos humanos Provea. “Muitas pessoas sabem que é um mecanismo de controle eleitoral e não querem fazer parte dele.”

“Nem na ditadura mais cruel do mundo existe discriminação para ter acesso a uma vacina”, disse o líder da oposição, Juan Guaidó, em conferência de imprensa em 9 de abril.

O Ministério da Saúde da Venezuela não respondeu a um pedido por escrito de comentários.

O país começou a vacinar profissionais de saúde em fevereiro, logo depois de receber as primeiras doses da Rússia e da China, embora muitos trabalhadores da linha de frente ainda não tenham sido imunizados. O governo não divulgou nenhum dado oficial sobre o número de pessoas vacinadas.

A Venezuela tem atualmente 175.812 casos de Covid-19, de acordo com dados do governo. Com as infecções batendo recordes diários neste mês, os hospitais do país, precários e sem recursos, estão quase lotados.