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Quer saber o tamanho da quebra da cana? Se prepare para não saber nunca ao certo

03 ago 2021, 15:42 - atualizado em 03 ago 2021, 18:28
Levantamento da produção de cana está entre os mais difíceis do agronegócio brasileiro (Imagem: Victoria Priessnitz)

Com tamanho volume de produção de cana, a característica das lavouras, um sistema de levantamento dependente de informações dos agentes e um modelo de comercialização particular, nunca se saberá ao certo a produção mais próxima da realidade da cultura. Daí o mercado já se acostumou com as diferenças de análises que facilmente chegam na casa de milhões de toneladas.

Nas últimas semanas, com as geadas, tem para todos os gostos as previsões de quebra. De 50 a 100 milhões de toneladas.

Já havia dificuldade de uma régua só pela quebra estimada pela seca de 2020, poucas chuvas no verão e novamente estiagem de março em diante. Com as geadas de fim de junho, depois as de julho e agora as últimas, ficou mais confuso.

E não se chegará a nenhum número definitivo e com o tempo o mercado trabalhará com os dados que a Unica divulgará, a cada 15 dias, com informações das usinas associadas no centro-Sul.

Só para efeito de comparação, a produção de cana estimada na safra passada chegou a 4,5 vezes o total produzido pela segunda principal cultura em volume, a soja, que ficou em 132 milhões de toneladas aproximadamente.

Semi-perene

Mas com a soja, o levantamento de campo é mais fácil operacionalmente, assim como do milho e outros setores de ciclo curto.

Nesse ponto, reside a grande dificuldade nas previsões da cana-de-açúcar, segundo o consultor Ricardo Pinto, da RPA Consultoria.

“É uma cultura semi-perene e as fases de crescimento são diferentes para cada cana, ou seja, entre cana cortada no começo, no meio e no fim da safra, safra esta que é de 9 meses, bem longa”, diz, fazendo um contraponto com “as culturas de ciclo curto, como grãos, que têm fases bem definidas, em semanas, para toda uma região”.

A concentração produtiva, com cada vez mais da chamada “cana própria” dos grupos usineiros, é outra dificuldade inerente à cadeia.

Apesar de a produção de soja e milho, por exemplo, ser infinitamente mais capilarizada por CPFs ou CNPJs, tal horizontalização confere menos dependência de informações de poucos agentes. E a comoditização dos preços internacionais do produto in natura deixa os produtores mais ativos.

Por conta desse perfil, como cana não é vendida crua no mercado, tem que ser processada para virar algo comercializável, em açúcar e etanol – em mercado verticalizado -, acentua ainda mais a dificuldade de precisão mínima de levantamento de dados, por mais que haja metodologia para se saber com quantos paus se faz uma canoa. Mas para isso, precisa-se dos números certos.

Com outras culturas nas quais se pulveriza as vendas do grão cru, as rubricas acabam sendo mais reais. Só o corte com exportações, em volume, já é um balizador de produção. Nesse ponto entra até o café, como cultura perene, embora de regiões mais concentradas.

No ciclo passado, se encontra diferenças em milhões de toneladas de acordo com várias fontes, embora o índice praticamente oficial do setor, da Unica, tenha dado 605 milhões de toneladas.

No atual, já estamos entre 540 e 580 milhões/t.

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