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AgroTimes

Quem tem medo do Plano Safra?

30 jun 2025, 15:22 - atualizado em 30 jun 2025, 15:42
Plano safra crédito rural
(iStock.com/cglade)

Estamos nos momentos cruciais da divulgação do Plano Safra 2025/2026. Tivemos uma segunda (30) movimentada e a expectativa é de uma “super terça” animada no mercado, com a divulgação dos valores para médios e grandes produtores. A pergunta que não quer calar é: Qual Plano Safra teremos para o período 25/26?

Ocorre que o suspense desses dias, principalmente com a derrubada das alterações no IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) pelo Congresso Nacional no final da semana passada, em reação ao “bater de cabeças” sem fim do Governo Federal, na figura, principalmente, do nosso eminente Ministro da Fazenda, famoso por propor aumento de taxas ao invés de exercer o básico da gestão das contas públicas, nos aponta, ao menos, uma direção para trabalhar em nossa coluna dessa semana.

Claro que após as entrevistas do ministro e de outros integrantes do governo de plantão aos meios de comunicação e as tantas #hashtags lançadas pelos robôs de sempre e por àqueles não tão robóticos assim, mas que não se cansam de dar azo e verniz de popular a uma política de privilégios rentistas que esse governo representa e faz questão de assinar ao esgarçar o orçamento público, ficaram mais claras as possibilidades em torno do Plano Safra.

Esboço e realidade do Plano Safra 25/26

Vamos às expectativas e confirmações até então:

  1. Agricultura Familiar: Na linha do surrado discurso contra as elites, o Governo Federal, tem centrado esforços na divulgação do Plano Safra da agricultura familiar – como se agricultura brasileira não fosse uma só, diga-se de passagem – noticiando nesse 30 de junho que ele envolverá R$ 89 bilhões em linhas. Um valor global superior ao do Plano Safra anterior em cerca de 17%. As taxas do Pronaf – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – ficaram por volta dos 3% ao ano, caindo para 2% quando o cultivo for orgânico, para financiar a produção de alimentos básicos. Outro destaque, na linha de sempre de atuação do discurso do partido oficial, é o decreto do Programa Nacional de Redução de Agrotóxicos, o Pronara, que visa fomentar práticas mais resilientes e saudáveis de agricultura;
  2. Volume total de recursos: Se espera algo em torno de R$ 600 bilhões, o que significaria, segundo algumas fontes de mercado, um incremento, global, de cerca de 25% em termos de volume – somando-se os dois montantes, da agricultura familiar e das demais culturas – porém, se considerarmos as linhas adicionais de LCA (Letras de Crédito do Agronegócio) via BNDES e as questões que podem obstaculizá-las – segundo dito aqui nas nossas duas últimas colunas -, sinceramente, estaríamos tratando quase do mesmo volume de recursos disponibilizados via Plano Safra anterior para esse Plano Safra 25/26;
  3. CPRs serão as estrelas: Ainda nessa linha, com toda a celeuma em torno da tributação dos novos títulos do agronegócio da MP n. 1.303/25, o Governo Federal, espera que as CPR (Cédulas de Produto Rural), representem cerca de 50% do total dos recursos disponibilizados a juris livres (valores de mercado);
  4. Equalização dos repasses de juros controlados: Por fim, a grande dúvida fica por conta da disponibilização dos recursos controlados e da disponibilidade orçamentária para se acomodar com uma Selic de 15% ao ano, com a linhas de repasses das exigibilidades. Quanto será o número efetivo diante de um orçamento debilitado e mal administrado pelo Ministério da Fazenda. A ver nas próximas horas.

Dito isso, ainda podemos inferir que as CPR de operações comerciais como o barter e demais transações, ainda devem realizar o seu papel que as levou – junto com os Fiagros, Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs), Certificados de Recebíveis do Agronegócio – CDCAs – ao volume total de cerca de R$ 1,2 trilhões em maio último, se a agenda fiscal do governo não causar mais ruídos ainda no mercado, claro.

Cenário desafiador para quem produz em abundância

Podemos dizer que o novo Plano Safra não traz tantas novidades assim, muito ao contrário ao que o governo e seus representantes têm se esforçado em divulgar ultimamente.

Ademais, esperamos que o massacre de sempre a quem produz e paga seus tributos em dia, mesmo com o encarecimento dos custos de produção, do crédito ao mesmo tempo que se mantém protegidos dos aumentos de custos financeiros e da tributação quem arbitra financeiramente as taxas básicas de juros em suas carteiras e balanços – o que só confirma a tônica de Lula 3, que, pelo visto, dobrou a meta de irresponsabilidade fiscal de Dilma 2 – não repercuta na produtividade da próxima safra para continuarmos a performar no campo.

Prático, Heitor, Cícero e o “Lobo Mau”

Ao mesmo tempo, podemos dizer que tais ruídos inapropriados às vésperas da divulgação do Plano Safra 25/26, como temos dito daqui, tornou inevitável para este colunista a comparação da situação vivida pela sociedade brasileira, em especial pelo agronegócio, com a fábula dos três porquinhos, por isso a pergunta do título da coluna. Quem tem medo do Plano Safra?

Os personagens estão aí para quem quiser ver.

O Prático, já sabemos quem é, está na cara de todos. Ele é o empreendedor do campo que trabalha de sol a sol, chuva a chuva, seca a seca, investe, toma recursos, emprega, administra riscos de toda ordem, preços que não controla, paga impostos em dia para alimentar 1 bilhão de pessoas no Brasil e ao redor do mundo, proteger o meio-ambiente global, garantir o orçamento fiscal e com seu suor ajudar a segurar o câmbio e o orçamento público em patamares minimamente adequados.

A consequência disso é que, com o aumento da produtividade a cada ano, assegura-se para o país comida farta, preços adequados (e controle inflacionário, portanto), além de divisas de exportação e empregos em toda a cadeia ampla do agronegócio.

Por outro lado, Cícero e Heitor, tentam lhes imputar a pecha de “Lobo Mau”, a despeito do esforço hercúleo em produzir com tenacidade e competência, contribuindo decisivamente com o sustento da economia nacional e com o meio-ambiente regulado e saudável, conforme reconhecido desde a COP-28 de Dubai.

Já o “Lobo Mau” da fábula esfrega as mãos e diz que vai assoprar com força para quem quiser escutar. Rugindo e bufando ele ladra, mas no final a casa de tijolos para em pé, por anos e anos de construção cuidadosa, através das políticas públicas brasileiras e dos grandes homens que nos legaram essas políticas e marcos regulatórios do campo.

Desnecessário este colunista aqui explicar de quem se tratam Cícero, Heitor e o grande vilão, o “Lobo Mau”, não? Basta ser uma criancinha que entende das fábulas para compreender que eles não triunfarão, mesmo que não gostem de trabalhar, nem respeitem as regras do jogo em nome de interesses que nunca são e nunca serão os do povo brasileiro.

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André Ricardo Passos de Souza, é sócio-fundador do PSAA - Passos e Sticca Advogados Associados -, com MBA em Finanças e Mercado de Capitais pela MP Consultoria/Banco BBM, LLM em Direito do Mercado Financeiro e de Capitais pelo IBMEC, bacharel em direito pela UERJ. Professor nos programas de pós-graduação da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Conselheiro Fiscal da Beneficência Portuguesa de São Paulo.
andre.passos@moneytimes.com.br
André Ricardo Passos de Souza, é sócio-fundador do PSAA - Passos e Sticca Advogados Associados -, com MBA em Finanças e Mercado de Capitais pela MP Consultoria/Banco BBM, LLM em Direito do Mercado Financeiro e de Capitais pelo IBMEC, bacharel em direito pela UERJ. Professor nos programas de pós-graduação da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Conselheiro Fiscal da Beneficência Portuguesa de São Paulo.

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