Economia

Quem tem medo das metas de inflação? Veja porque mercado desaprova revisão

13 fev 2023, 15:52 - atualizado em 13 fev 2023, 15:52
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Elevar as metas de inflação é a carta na manga de Lula para driblar a autonomia do Banco Central. (Imagem: Mehaniq)

O futuro das metas de inflação no Brasil é incerto. Há semanas, o presidente Luis Inácio Lula da Silva vem criticando a política monetária adotada pelo Banco Central, que está mantendo a Selic em 13,75% ao ano desde agosto.

A autonomia do Banco Central impede que Lula force uma redução imediada na taxa básica de juros, mas ele tem uma carta na manga: aumentar as metas de inflação.

Na teoria, se a meta fica mais alta, a inflação do país – que está em 5,79% – estaria mais próxima do teto ou do centro e a Selic poderia ser reduzida. As metas de inflação para 2023 e 2024 são de 3,25% e 3%, respectivamente.

No entanto, na prática, a história é bem diferente. O Itaú projeta que o Banco Central pode elevar a taxa Selic para um patamar de 15% caso o presidente insista na ideia de mudar a meta de inflação de 4,5% em 2024.

Revisão das expectativas

A possibilidade de elevações nas metas de inflação não é bem recebida pelo mercado, que entende que a mudança da meta pode levara a inflações ainda mais altas e Selic restritiva por um tempo maior. Mas pior: coloca em cheque a credibilidade da política monetária.

Com isso, o mercado está revendo suas projeções para a economia brasileira. No Relatório Focus desta semana, as expectativas de inflação para este e os próximos anos subiram.

A previsão do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ao final deste ano, passou de 5,78% para 5,79%. Já para 2024, a projeção passou de 3,93% para 4,00%; enquanto para 2025, a projeção subiu de 3,50% para 3,60%.

A Selic também foi revisada, apontando para uma taxa de juros mais alta e por mais tempo do que o esperado inicialmente. A Selic prevista para 2023 foi elevada de 12,50% para 12,75%. Para 2024, a projeção foi elevada de 9,75% para 10%.

Já o Itaú manteve as suas projeções para a taxa básica de juros – de 12,50% e 10% para 2023 e 2024, respectivamente – não alertou que se as incertezas sobre os regimes monetário e fiscal não forem revertidas, o risco é de taxas mais elevadas.

A projeção do banco para o IPCA, por outro lado, avançaram: em 2023, passou de 5,8% para 6,3%; para o ano que vem, as expectativas passaram de 3,7% para 4,2%. “O principal motivo para a revisão altista veio da incorporação da desancoragem das expectativas de inflação tendo em vista as discussões sobre mudança de metas”, diz em relatório.

Rafaela Vitória, economista-chefe e head do departamento de Research do Inter, destaca que aumentar a meta nesse momento retira a confiança do mercado na política monetária e encarece seu custo.

“Essa desancoragem de expectativas pode resultar em inflação maior no curto prazo, pois as empresas, esperando que a inflação suba no futuro, antecipam reajustes de preços hoje”, afirma em relatório.

No entanto, Lana Santos, economista e sócia da Acqua Vero, aponta que a revisão altista da projeção de inflação para 2023 e 2024 é muito mais um reflexo da deterioração dos preços em janeiro, especialmente comunicação, serviços e alimentação.

“Além disso, o posicionamento do atual governo, favorável às políticas mais expansionistas com o aumento do gasto público, tende a pressionar a expectativa de inflação”, aponta.

Metas de inflação: muda ou não muda?

No entanto, apesar da discussão acalorada em relação às metas de inflação, esse é um tema que pode nem chegar à pauta da reunião do CMN desta semana.

Segundo o consultor Thomas Traumann, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, conseguiu chegar a um acordo com Lula de adiar o debate sobre as metas e não apresentar uma proposta já na primeira reunião do conselho.

“Haddad convenceu Lula a adiar o debate sobre metas para depois do anúncio da nova âncora fiscal, em abril. Os papeis apresentadores pelo ministro indicavam que mesmo uma mudança de meta para 2023 não implicariam em um corte da Selic”, destaca em sua newsletter Modal Político.

O ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta, também já afirmou que o governo não fará, por enquanto, uma orientação sobre a meta de inflação ao CMN.

 

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