‘Quem ganha é o produtor’: os efeitos de Donald Trump para soja, milho e outras commodities do Brasil
Entre os efeitos da retomada de Donald Trump à Casa Branca, diversos analistas apontam para um Estados Unidos mais protecionista, uma possível nova guerra comercial com a China e a perspectiva do aumento das taxas de juros. Mas como isso deve afetar às commodities?
No mercado da soja, para o curto prazo, o analista da Safras & Mercado, Luiz Fernando Gutierrez, não vê nada de concreto, mas a grande questão fica para 2025. No final do dia, a expectativa é de um cenário mais favorável para o produtor brasileiro.
“A dúvida fica por conta de uma guerra comercial com a China e possíveis retaliações do país asiático, que já taxou a soja norte-americana. Quando isso ocorreu em 2018, fomos beneficiados. Com a demanda migrando dos EUA para o Brasil, o que fez naquela ocasião exportarmos volumes recordes e os prêmios dispararem, mais que compensando as quedas das cotações de Chicago. Este é um cenário que pode acontecer de novo”, comenta.
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Já para o milho, no médio e longo prazo, o analista da StoneX, Raphael Bulascoschi, aponta que a China já vem reduzindo suas compras dos EUA, buscando em outros mercados como o Brasil e Ucrânia atender sua demanda para importação.
“Muitos países passaram a produzir mais milho depois da guerra comercial de 2018. A China também veio aumentando seus estoques domésticos, o que pode também ser encarado como uma antecipação desse cenário. Sendo assim, os impactos para o país asiático devem ser menores do que ocorreu no primeiro mandato do Trump. O Brasil, por sua vez, pode expandir suas exportações para China, que já vem crescendo nos últimos anos”, diz.
Os reflexos de Trump para açúcar e etanol
Para Marcelo Di Bonáficio, também analista na StoneX, não há impactos diretos no açúcar em termos de oferta e demanda. Caso os EUA se torne mais protecionista, isso pode trazer um suporte para os preços em reais, o que estimula ainda mais a produção de açúcar.
“No geral, mesmo essa análise de dólar é subjetiva porque os demais fundamentos do açúcar (maior disponibilidade pela recuperação de produção em players asiáticos e saldo global superavitário) acabam compensando”.
Os EUA estão entre os cinco maiores importadores globais de açúcar, com um um sistema de cotas anuais, às quais são aplicadas uma taxa baixa e as importações fora dessa cota costumam ter uma taxa altíssima (acima de 70% nos preços atuais).
Segundo ele, mude esse sistema, com aumento de taxa, podem ocorrer mudanças nas dinâmicas de trade flow. “Mas isso é muito improvável, existem zero indícios de que vai haver essa alteração, não há qualquer menção a isso”.
Quando ao etanol, o analista enxerga que é muito cedo para vermos impactos, já que esse é um mercado que acaba sendo mais influenciado por políticas internas, estando mais descolado do preço do açúcar.
“Para afetar o etanol, teríamos que primeiro ver algum desdobramento no setor de energia global, para depois afetar a política da Petrobras (PETR4) na gasolina e influenciar por fim alguma dinâmica do etanol. Ou seja, muita coisa precisa acontecer e num prazo mais longo, o que é precipitado afirmar”, vê.