Quem ganha com a Itaú e XP juntos? Empiricus e Eleven comentam impactos para o mercado e investidores
E agora, investidor? A XP Investimentos, que se posicionou no mercado financeiro como independente e conseguiu a liderança em um modelo de negócios antagônico ao bancário, flerta com a venda de uma participação “minoritária” – fala-se em 49% – para o Itaú. Ou seja, a empresa que pregava o “desbancarize-se” estará ao lado do maior banco privado do país.
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Isso tudo acontece em um momento novo para as corretoras. A XP está a um passo de abrir o seu capital na B3 por meio de um IPO e outras, como a Genial (Ex-Geração Futuro), do Banco Plural, e o BTG Pactual, têm campanhas publicitárias nacionais enaltecendo a independência e versatilidade na hora de aconselhar investimentos. De novo, em uma postura contrária à dos “bancões”.
“Eu não consigo ver um modelo tão disruptivo no mercado brasileiro como o da XP. Ela é inegavelmente um competidor importante para os bancos, que vivem há anos um ambiente de altíssima concentração e baixa competição. Se olharmos para o mercado americano, a Charles Schwab é um benchmark a ser respeitado”, ressalta Adeodato Volpi Netto, estrategista-chefe da consultoria Eleven Financial.
Valores
Segundo o Estadão, no IPO, a avaliação da XP estava sendo projetada entre R$ 12 bilhões e R$ 15 bilhões. A Exame.com falou em R$ 6 bilhões por um pedaço de 49,5%. Em nota divulgada hoje, a XP confirmou a intenção de vender uma participação minoritária, mas disse que irá continuar com o seu plano da venda de ações na B3. Isso, segundo cálculos da Empiricus Research, aponta para um valuation de 25 a 30 vezes os lucros.
“Com Itaú negociando a 10 vezes os lucros, a transação seria imediatamente ‘non accretive’ para o banco. Ok, ok. Entendo o argumento de que é estratégico, de que vai matar a concorrência. Mas lembre-se que o Bradesco, supostamente, também mataria a concorrência ao comprar a Ágora, que aliás virou uma corretora ruim após a aquisição pelo bancão – à época, a Ágora era bem maior que a XP. Se você tira um concorrente do jogo, outro nasce no lugar se, de fato, existe um espaço de mercado a ser preenchido”, afirma Felipe Miranda, estrategista-chefe da Empiricus Research.
Quem ganha?
Miranda vê o BTG e a Easynvest como potenciais ganhadores neste processo. O primeiro poderá avançar como uma alternativa digital fora dos bacos de varejo. A Easynvest, fortalecida pela venda de uma participação para a Advent, “poderá se apropriar do discurso da desbancarização, anteriormente proferido com assertividade e precisão pela XP”, explica.
O investidor, aponta a Empiricus, sai perdendo nessa. “Mais uma vez, para nossa tristeza, quem vai pagar a conta é a pessoa física, que perde aquela que vinha sendo a única alternativa crível, viável e com impacto material em relação aos bancos”, conclui.