Plano Safra

Queda nos tomadores do crédito rural indica mais oferta de recursos privados no futuro

08 jan 2020, 11:10 - atualizado em 08 jan 2020, 11:29
Custeio de safra esta entre os destinos que o sistema privado deverá atender cada vez mais (Imagem: REUTERS/Ueslei Marcelino)

Dos recortes mais detalhados das contratações do Plano Safra 19/20 não destacados, chama a atenção a tendência de cada vez menos produtores acessando os recursos, mesmo que o montante tomado cresça. E isso remete às perspectivas esperadas para a safra 20/21, ou mais ainda ao ciclo 21/22.

A oferta de financiamento privado deverá crescer, tanto com o sistema financeiro mais propenso em aceitar a demanda do agronegócio, quanto pelo aumento do barter nas relações com tradings, revendas e indústrias. Esta modalidade é espécie de escambo, quando as empresas antecipam recursos ou insumos para os produtores contra a entrega do produto na colheita ou dos recebíveis da comercialização.

Para Antônio da Luz, economista-chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), a MP do Agro (outubro 2019) e a queda da taxa Selic para 4,5% são os principais pontos de estímulo.

De junho a dezembro, o Plano Safra liberou R$ 108,5 bilhões (mais 5% em custeio e 19% em investimentos sobre igual período de 2018), com 1,2 milhões de contratantes. Nos mesmos primeiros seis meses da temporada 18/19, foram 1,333 milhões de contratos, nas estatísticas do Banco Central.

O economista da Farsul debulha os números por ano-comercial. De janeiro a outubro, o volume de dinheiro colocado nas mãos dos produtores cresceu “apenas” 3,1% e o número de contratos recuou mais de 8%.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Expulsos do crédito

Os demandantes de crédito oficial caem por todos os períodos que se analise.

“Cada vez mais os produtores são expulsos do crédito rural”, afirma. O crédito subsidiado concentrado nas mãos de poucos agentes repassadores – que mantêm exigências demasiadas como garantias – e ficando cada vez mais caro que recursos com taxas livres, está diminuindo e mudando o panorama tradicional do custeio (maior parte dos recursos) e investimentos no campo.

E uma boa dose de inadimplência pela dificuldade de renegociações das últimas safras, como defende também Jânio Zeverino, consultor da AgroEasy.

A MP do Agro, como adiantou da Luz, e que mudou a Lei 8427, dá “tratamento igualitários a todos os bancos”, portanto a possibilidade de aumento da oferta de financiamento deverá se dar até pelo aumento de agentes no mercado.

Em paralelo, o cenário de aumento de investidores em títulos, como as CPRs, por exemplo, também crescerá, tanto porque o sistema financeiro vai precisar para atender a procura direta do agronegócio, quanto porque as companhias que operam o barter vão demandar mais recursos para financiar seus parceiros, adiciona do especialista da Farsul.