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Queda na demanda por etanol mói indústria de cana-de-açúcar do Brasil

17 abr 2020, 10:02 - atualizado em 17 abr 2020, 10:02
Usinas Indústria Etanol Bicombustível
No Brasil, onde a maioria dos carros pode rodar com gasolina ou etanol, o setor foi atingido fortemente (Imagem: Reuters/Paulo Whitaker)

As empresas brasileiras de açúcar e etanol estão entrando em modo de sobrevivência, reduzindo as operações de colheita e buscando linhas de crédito para resistir à queda na demanda de combustível causada pela pandemia de coronavírus.

As restrições governamentais ao movimento e às empresas para conter a propagação do vírus têm prejudicado a demanda global. No Brasil, onde a maioria dos carros pode rodar com gasolina ou etanol, o setor foi atingido fortemente.

O país é o segundo produtor mundial de etanol atrás dos Estados Unidos, com produção de 35 bilhões de litros no ano passado.

As vendas de etanol na região centro-sul do Brasil caíram 20% na segunda quinzena de março, segundo a associação da indústria Unica.

Dada a crise, algumas empresas decidiram atrasar as operações de colheita.

Outros estão correndo para expandir a capacidade de armazenamento de etanol, à medida que as usinas buscam linhas de crédito adicionais e mais caras e reduzem alguns cuidados com o canavial, o que pode prejudicar a produção de cana-de-açúcar do próximo ano.

As empresas brasileiras de açúcar e etanol estão entrando em modo de sobrevivência (Imagem: Pixabay)

“Esperamos vender apenas 30% ou 40% do volume normal em abril, e talvez 60% do normal em maio”, disse Fabio Montechi, diretor financeiro da Santa Isabel, empresa com duas usinas no Estado de São Paulo que moem cerca de 6 milhões de toneladas de cana por ano.

A companhia está construindo um tanque adicional para armazenar etanol e está montando uma linha de crédito rotativo.

O Itaú BBA, banco de investimento controlado pelo maior banco privado brasileiro, o Itaú Unibanco (ITUB4), estima que até 30% das empresas brasileiras de açúcar e etanol estão com dificuldades financeiras e podem ter que parar as operações.

“Todos os anos, essas usinas com condições de capital difíceis produzem mais etanol no início da colheita, para vender o combustível e levantar dinheiro para pagar os custos da colheita”, disse Pedro Fernandes, diretor de agronegócios do Itaú BBA, acrescentando que a queda na demanda por etanol dificultaria esse modelo de negócio.

Os preços do etanol hidratado caíram 31% este ano em São Paulo, segundo o centro de pesquisas Cepea/Esalq, tendo caído de 2,04 reais por litro para 1,39 reais por litro.

Os preços do açúcar atingiram uma mínima de 1 ano e meio esta semana, à medida que as usinas brasileiras se preparam para produzir mais açúcar , impulsionando essa oferta.

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“Golpe no fluxo de caixa”

O Itaú BBA estima que até 30% das empresas brasileiras de açúcar e etanol estão com dificuldades financeiras e podem ter que parar as operações (Imagem: REUTERS/Paulo Whitaker)

Mesmo antes da crise do coronavírus, algumas usinas de açúcar brasileiras ainda lutavam para se recuperar de um longo período de preços subsidiados da gasolina entre 2012 e 2016, quando o governo tentou controlar a inflação.

Mais de 80 usinas pediram proteção contra falência durante ou logo após esse período.

A fábrica de Itajobi, no Estado de São Paulo, é uma das que estão com problemas financeiros.

O diretor do Itajobi, Henrique Dalkirane, disse que a unidade começou a esmagamento de cana no final do mês passado. A usina deve moer 2 milhões de toneladas de cana nesta temporada, mas está lutando para pagar as contas, disse ele.

“É um golpe direto para o fluxo de caixa”, disse Dalkirane, acrescentando que para cada queda de 10 centavos no preço do etanol, as receitas anuais caem 10 milhões de reais.

Recentemente, a empresa reestruturou sua dívida para estender os vencimentos para o pagamento.

Grupos maiores como Raízen, São Martinho e Bunge BP Bioenergia provavelmente resistirão às quedas (Imagem: Reuters/Paulo Whitaker)

Agora, disse Dalkirane, a usina pode parar a colheita e qualquer pagamento de serviço de dívida é improvável neste ano.

Grupos maiores como Raízen, São Martinho (SMTO3) e Bunge BP Bioenergia provavelmente resistirão às quedas, fazendo o máximo de açúcar possível e estocando etanol para vendas posteriores, disse Fabio Meneghin, analista de etanol da Agroconsult.

Mas isso não é uma opção para todos. Fernando Perri, diretor do Grupo Farias, que tem cinco usinas de etanol no Brasil, disse que sua empresa está adiando a colheita por pelo menos um mês para ver se os preços melhoram, em vez de produzir etanol que não é vendido.

“Corremos o risco de acabar deixando a cana no campo, mas acho que é melhor do que rodar a usina apenas para encher tanques de etanol”, disse ele.