Coluna do Daniel Abrahão

Queda do Ibovespa é oportunidade? Veja 6 pontos para (ainda) ficar otimista com a Bolsa

06 jul 2023, 16:00 - atualizado em 06 jul 2023, 16:02
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“O desempenho dos ativos brasileiros, no primeiro semestre de 2023, foi sólido, apesar de um início de ano fraco”, destaca o colunista (Imagem: Tuane Fernandes/Bloomberg)

O segundo semestre de 2023 apresenta-se com um cenário positivo, apesar do Ibovespa já ter registrado uma alta de aproximadamente 20%, desde suas mínimas.

Muitos questionam se o mercado já precificou o cenário positivo que se vislumbra, especialmente no que diz respeito às taxas de juros mais baixas. Ainda existem motivos, ao longo do texto você verá que dá para acreditar que o rali pode se estender por um período maior.

O desempenho dos ativos brasileiros, no primeiro semestre de 2023, foi sólido, apesar de um início de ano fraco. Diversos fatores contribuíram para o resultado positivo, tais como: a melhora das perspectivas, a diminuição dos riscos políticos e fiscais e as expectativas de cortes de juros num futuro próximo.

O Ibovespa encerrou o semestre com uma valorização expressiva de 7,6%, em reais; e 18,7%, em dólares, superando as ações globais. Além disso, o real também se fortaleceu em relação a outras moedas globais. As taxas de juros também apresentaram uma tendência de queda ao longo da curva DI.

Apesar da perspectiva positiva para o Brasil no segundo semestre, devemos destacar alguns riscos. Há a possibilidade de uma recessão no exterior, que poderia impactar os preços das commodities.

No entanto, será que a Bolsa Brasileira está totalmente precificada?

O rali ocorreu de forma desigual entre os setores da bolsa

Apesar do rali recente, o mercado financeiro brasileiro apresentou um desempenho desigual entre os setores, especialmente considerando a permanência significativa da maior ação do Ibovespa.

Ao analisar os dois setores mais relevantes para o Brasil, Bancos e Commodities, observe-se que o setor bancário teve um desempenho superior ao Ibovespa, com um retorno acima dos 20%. Isso se deve, em parte, aos resultados resilientes do setor, com destaque para o desempenho do BBAS3, que registrou um retorno de 46,8%.

Por outro lado, o setor de Commodities, que representa uma parcela significativa do Ibovespa, teve um desempenho inferior em relação ao índice. Isso ocorreu mesmo com a alta das ações de PETR3 (37,7%) e PETR4 (43,0%).

O baixo desempenho do setor de commodities foi influenciado principalmente pela queda de 26,2% nas ações da VALE3. Isso indica que a tão esperada recuperação econômica da China após a pandemia da COVID-19 tem força perdida, com fraquezas evidentes, especialmente no setor de infraestrutura.

Histórico mostra potencial positivo para a Bolsa durante ciclos de corte de juros

Analisando o histórico, é possível observar que as ações brasileiras tendem a apresentar resultados satisfatórios durante os ciclos de redução da taxa de juros. Os dados dos últimos 20 anos demonstram que ainda há espaço para a Bolsa continuar subindo durante esses períodos de flexibilização da política monetária.

Nos últimos seis ciclos de corte de juros, em cinco deles, o índice Ibovespa retornou com positividade. A mediana de retorno do Ibovespa foi de 35,4%, enquanto o índice MSCI Brasil (em dólares) apresentou uma mediana de retorno de 26,0%.

Apesar dos retornos positivos observados nos meses anteriores ao início dos ciclos de flexibilização da política monetária, como se deu no primeiro semestre e de 2023, o Ibovespa também registrou ganhos após o primeiro corte de juros. Nos três, seis e doze meses seguintes ao início da queda da taxa Selic, o Ibovespa apresentou uma mediana de retornos de +5,6%, 18,3% e 14,9%, respectivamente.

Esses dados históricos reforçam a tendência de desempenho favorável da Bolsa brasileira durante os períodos de corte de juros, indicando um potencial positivo para o mercado acionário nesse contexto.

Potencial de aumento nos fluxos de capital estrangeiro na Bolsa

Embora o acumulado do ano já tenha apresentado uma entrada positiva de capital estrangeiro na Bolsa, totalizando R$11,2 bilhões, os dados mantidos têm sido inconsistentes até o momento. No ano passado, por outro lado, foi registrada uma entrada recorde de quase R$120 bilhões, mesmo em um cenário menos favorável em comparação ao que se esperava para o segundo semestre de 2023.

No entanto, há expressões de um sentimento mais positivo dos investidores estrangeiros em relação ao Brasil. Caso o cenário interno continue eficiente, é possível um retorno mais expressivo do capital estrangeiro daqui em diante, o que pode contribuir ainda mais para a recuperação das ações brasileiras.

Fluxos institucionais aguardam retorno ao mercado

Os investidores institucionais locais têm se mantido afastados do mercado até o momento. Uma combinação de sentimentos negativos em relação ao risco envolvido nas ações e saques de clientes nos últimos meses ocorreu em várias saídas de capital por parte desses investidores.

Somente em maio começou a ser observada uma mudança, com os fluxos paralelos finalmente se tornando positivos após quase um ano de saídas de capital. No entanto, em junho, os fluxos voltaram a ser negativos.

Caso haja um aumento no apetite ao risco e os clientes voltem a assumir riscos, o retorno do capital dos investidores institucionais para as ações brasileiras será um fator importante de suporte para o mercado. A retomada dos fluxos institucionais representaria um impulso significativo para o mercado financeiro, fornecendo uma fonte adicional de investimento e esperança para a estabilidade e valorização das ações.

Posições vendidas próximas dos máximos históricos

Um dado importante, e às vezes negligenciado, são as posições vendidas em aberto no mercado, muito próximas do máximo histórico, totalizando mais de 100 bilhões.

Embora algumas dessas posições vendidas tenham sido fechadas nos últimos tempos. A possibilidade dessas posições serem desfeitas ao decorrer dos próximos meses tem um potencial de injetar bilhões na Bolsa Brasileira.

Valuation das ações brasileiras continua descontado

As ações brasileiras ainda apresentam uma avaliação consideravelmente baixa. O índice Ibovespa está sendo negociado a um índice Preço/Lucro (P/L) projetado de 8,2x, o que representa um desconto de mais de 30% em relação à média histórica de 11,0x.

Além disso, quando comparado às ações globais, o Brasil também é considerado barato. O índice MSCI ACWI, que engloba ações de mercados globais, possui um P/L projetado muito mais elevado, de 15,6x.

Em conclusão, é crucial reconhecer que os movimentos do mercado são imprevisíveis e a volatilidade é uma característica intrínseca, como de praxe. Diante das informações atuais, há diversas possibilidades em jogo.