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Queda de 9,7% no PIB e outras 4 previsões do Itaú sobre o coronavírus

20 mar 2020, 12:37 - atualizado em 20 mar 2020, 12:37
Trabalho coronavirus
Cenário de filme: para o Itaú, economia vai despencar até junho (Imagem: REUTERS/Pilar Olivares)

O Itaú Unibanco (ITUB4) revisou seu cenário para a economia brasileira, incorporando o impacto da pandemia de coronavírus sobre 2020 e 2021. O quadro que emerge é de uma forte recessão no segundo trimestre, que deve comprometer o desempenho geral deste ano.

A boa notícia (se é que se pode dizer assim) é que a expectativa de alta do PIB, para o ano que vem, disparou – em parte, influenciada pela base mais baixa de comparação.

Veja, a seguir, cinco impactos do coronavírus na economia brasileira, segundo o economista-chefe do Itaú Unibanco, Mario Mesquita, e sua equipe.

1. Queda de 9,70% no PIB do segundo trimestre e recessão no ano

O Itaú Unibanco projeta uma queda de 9,7% para o PIB do segundo trimestre, na comparação com o primeiro trimestre (e já com ajustes sazonais). É bom lembrar que o início do ano também não oferece motivos para entusiasmo – a alta esperada para o primeiro trimestre é de apenas 0,3%.

O banco acredita que o efeito da pandemia será temporário. Assim, a atividade econômica dispararia no terceiro trimestre. Apesar de prever uma alta de 11,9% no período, o ano ainda terminaria com uma queda acumulada de 0,7%, ante a estimativa inicial de avanço de 1,8%.

Em 2021, a previsão é de alta de 5,5%, ante a projeção original de 3%. O desempenho, contudo, tem pouco a ver com o mérito da economia brasileira, e muito mais com a baixa base de comparação herdada deste ano.

“O crescimento elevado do PIB de 2021 se deve, portanto, primariamente, ao carrego estatístico favorável após a contração do PIB no 2T20”, afirma o relatório.

2. Dólar a R$ 4,60

O Itaú Unibanco avalia que a taxa de câmbio sofrerá um “overshooting” ao longo do ano, diante das incertezas do mercado em relação à pandemia. A estimativa inicial do banco era de um câmbio de R$ 4,15, mas o novo número é de R$ 4,60.

Restrições: movimentação reduzida de pessoas vai atrapalhar a economia (Imagem: REUTERS/Rahel Patrasso)

A conjugação de medo do coronavírus com o tradicional voo dos investidores para ativos de baixo risco manterão a pressão sobre dólar nos próximos meses. Para 2021, o banco mantém a expectativa de R$ 4,15.

3. Inflação de 2,90% em 2020

A queda do petróleo (um efeito indireto do coronavírus) e as restrições de circulação de pessoas devem conter a inflação nos próximos meses. Para o Itaú Unibanco, a conjuntura exercerá um “impacto desinflacionário” no curto prazo.

Assim, a expectativa de inflação baixou de 3,30% para 2,90% neste ano, e de 3,50% para 3,30% em 2021. O banco recomenda, contudo, cautela. Isto porque, embora a situação favoreça a queda de preços, pode haver pressões no sentido contrário, como a alta do dólar e a escassez de alguns produtos.

4. Rombo de R$ 230 bilhões nas contas públicas

A decretação do estado de calamidade pública, aprovada pelo Congresso nesta semana, prevê o aumento dos gastos públicos para conter os efeitos econômicos do coronavírus. Embora seja uma preocupação legítima, isso significará um déficit fiscal maior que o previsto em 2020.

Por isso, o Itaú Unibanco elevou sua projeção para o déficit fiscal de 1,1% para 3,1% do PIB, neste ano (o equivalente a um rombo de R$ 230 bilhões), e de 0,6% para 0,8% no ano que vem.

O banco estima que 0,7% do déficit virá das medidas de combate ao coronavírus, e 1,3%, da queda de receitas decorrente da freada da economia e da baixa do petróleo.

5. Selic a 3,25% até dezembro

Após o corte de 0,5 ponto promovido pelo Copom nesta semana, baixando a taxa básica de juros (Selic) para 3,75% ao ano, o Itaú Unibanco espera uma nova redução. O banco lembra que a nota do Banco Central afirma que um novo corte pode ser contraproducente, mas Mario Mesquita e equipe não o descarta.

Os analistas argumentam que o cenário inflacionário está mais favorável, em parte, devido à forte queda da atividade econômica causada pelo coronavírus. “Haverá espaço para reduções adicionais da taxa de juros”, diz o banco, que adverte que isso não precisa ocorrer, necessariamente, na próxima reunião do Copom, prevista para maio.