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Quebra no RS põe em risco produção de soja do Brasil acima de 150 mi t em 2022/23

14 fev 2023, 14:23 - atualizado em 14 fev 2023, 14:23
Soja
A soja que foi plantada mais cedo no Rio Grande do Sul é que a “não tem mais reversão”, disse o vice-presidente da entidade gaúcha, Décio Teixeira (Imagem: REUTERS/Ueslei Marcelino)

A seca que persiste no Rio Grande do Sul continua limitando o potencial produtivo da soja no Estado e, caso as chuvas prometidas para fevereiro não se confirmem, o Brasil corre o risco de não conseguir atingir o recorde de colheita acima de 150 milhões de toneladas amplamente esperado pelo mercado para a safra 2022/23, conforme membros do setor ouvidos pela Reuters.

O governo federal estima produção de 152,88 milhões de toneladas do grão para esta temporada, alta de 21,8% após a quebra ocorrida justamente por estiagem no Sul no ano passado. Na perspectiva da estatal Conab, a safra gaúcha estaria em 18,98 milhões de toneladas, número acima do que preveem produtores e analistas.

No cenário mais pessimista, a Associação dos Produtores de Soja do Estado do Rio Grande de Sul (Aprosoja-RS) já trabalha com a possibilidade de uma quebra que resultaria em uma colheita em torno de 12,6 milhões de toneladas.

“Nós estimamos 40% de perda sobre o potencial inicial de 21 milhões de toneladas”, disse à Reuters o vice-presidente da entidade gaúcha, Décio Teixeira.

Ele lembrou que na temporada anterior a produção do Estado não chegou a 10 milhões de toneladas de soja.

“A diferença é que ano passado ficamos com mais de 60 dias sem chuva. Esse ano a chuva veio, mas de maneira muito esparsa e em doses homeopáticas”, afirmou.

“Estamos contando ainda com a chuva prometida”, acrescentou ao dizer que ainda há muita incerteza até o final da safra atual.

A soja que foi plantada mais cedo no Rio Grande do Sul é que a “não tem mais reversão”, disse ele, mas as demais lavouras que estão em desenvolvimento ainda podem se recuperar.

Do município de Carazinho (RS), o produtor rural e diretor da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) Paulo Roberto Vargas contou que nesta temporada há agricultores que vão colher bem e outros que terão resultados péssimos. No ciclo anterior, o desempenho foi majoritariamente negativo para todos.

“As melhores lavouras estão nas regiões mais para o nordeste do Estado e norte, e as piores são parte da região norte, em direção ao oeste, para onde só vai piorando”, disse ele.

Em sua região, que fica no planalto gaúcho, a produtividade do milho está entre 50 e 60 sacas por hectare, contra até 200 sacas/hectare em anos de safra cheia. Na soja, a média atual é de 40 sacas/hectare, versus 70 sacas em anos positivos.

A maior safra de soja já colhida no Brasil foi em 2021/22, com 139,4 milhões de toneladas, segundo dados da Conab.

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Entre os especialistas as projeções ainda são diversas em relação ao tamanho da quebra no Rio Grande do Sul, mas já há quem descarte uma produção nacional acima a 150 milhões de toneladas, embora considerem o número de 12,6 milhões de toneladas da Aprosoja-RS para o Rio Grande do Sul baixa demais.

“Estamos em processo de revisão de estimativa. O RS certamente terá um corte importante nessa revisão, mas acredito que não tão grande a ponto de chegarmos ao número da Aprosoja-RS, não por enquanto, pelo menos”, disse a analista da AgRural Daniele Siqueira.

“Acredito que podemos ficar com a produção nacional em torno de 150 milhões de toneladas ou ligeiramente abaixo disso.”

O analista da Safras & Mercado Luiz Fernando Roque afirmou que ainda trabalha com uma expectativa mais parecida com a da Conab para a produção gaúcha de soja, mas “em se confirmando perdas maiores, é possível que tenhamos uma safra inferior a 150 milhões” no país.

O diretor da AgResource, Raphael Mandarino, disse que todos os cenários são possíveis, mas ressaltou que o incremento de produtividade nos demais Estados produtores pode compensar o Rio Grande do Sul, evitando a colheita de uma safra nacional abaixo de 150 milhões.

Já o sócio da Cogo, Carlos Cogo, trabalha com quebra de 35% para a produtividade do Rio Grande do Sul, caindo de 21,6 milhões potenciais para 14 milhões em 2022/23.

Em um melhor cenário entre os analistas ouvidos pela Reuters, o especialista da Céleres Enilson Nogueira disse que ainda projeta a safra nacional em 154 milhões de toneladas, com 17-18 milhões vindos dos produtores gaúchos.