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Quebra de safra atingirá exportação de suco de laranja do Brasil, diz Itaú BBA

10 dez 2020, 20:46 - atualizado em 11 dez 2020, 9:28
Laranja
Ainda tem que dar tudo certo com o clima para que essa projeção não piore (Imagem: REUTERS/Paulo Whitaker)

A safra de laranja 2020/21 da principal região produtora do mundo, situada no cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo/Sudoeste Mineiro, deve cair 30,36% ante a temporada passada, estimou nesta quinta-feira o Fundecitrus, o que deverá impactar as exportações brasileiras de suco em 2021, avaliou um analista do Itaú BBA.

A redução na colheita devido a uma severa seca, que representa a maior quebra anual para a cultura desde 1988, deixou a safra estimada em 269,36 milhões de caixas, de acordo com a fundação de pesquisa do setor.

“Em função das condições climáticas extremamente adversas, com altas temperaturas, baixa precipitação e má distribuição das chuvas, esse é um dos anos mais difíceis que a citricultura já enfrentou”, disse o gerente-geral do Fundecitrus, Juliano Ayres, em nota.

O consultor de agronegócios do Itaú BBA, Cesar de Castro Alves, disse que a perda estimada pelo Fundecitrus não causa estranhamento, já era esperada, conforme noticiou a Reuters em outubro.

“Ainda tem que dar tudo certo com o clima para que essa projeção não piore”, acrescentou ele.

Com isso, a expectativa é que as vendas externas de suco de laranja do ano que vem estarão comprometidas.

“A exportação já está rodando menor do que o ano passado e também tem um viés para continuar assim… Pensando em ano calendário, os embarques estarão comprometidos, principalmente na segunda parte do ano que vai pegar uma oferta de suco vinda dessa safra (2020/21)”, explicou Alves.

Ele também disse que há um elemento novo no mercado que é a percepção de aumento no consumo da bebida decorrente da pandemia do novo coronavírus, que pode ajudar a enxugar os estoques globais.

“O mercado internacional já deveria estar reagindo com preços mais elevados, não deve demorar muito mais para isso acontecer… Daqui, é para cima”, estimou, citando que no momento os estoques de suco não estão tão apertados no mundo, mas a perspectiva é que uma reação nas cotações aconteça em breve.

O diretor executivo da associação nacional de exportadores de suco CitrusBR, Ibiapaba Netto, disse que, até o momento, a grande produção da bebida na safra passada, de mais de 1,2 milhão de toneladas, garante o abastecimento para exportação, porém, o próximo ciclo ainda está em aberto.

“Agora, todos os olhos se voltam para a próxima safra e os estragos que essa seca pode ter sobre a produção de 21/22”, afirmou, ressaltando que quando a lavoura passa por problemas climáticos muito severos, há um longo caminho para que ela volte a produzir, o que pode ter impacto sobre a próxima temporada que, em tese, seria de ciclo positivo.

Seca vs Safra Atual

Um cenário desfavorável para a ocorrência de chuvas já era esperado devido à possibilidade de formação do evento climático La Niña, que foi confirmado em setembro, disse o Fundecitrus.

“Mas outros fenômenos atuaram simultaneamente, e o La Niña foi muito pior do que o último, ocorrido em 2017: além de deixar o clima mais quente e mais seco, entrou em atividade mais cedo, quando apenas 30% da produção de laranja tinha sido colhida”, observou a fundação de pesquisas do setor.

À medida que o La Niña se intensificou, a chuva foi diminuindo em relação à média histórica. De maio a agosto, o volume acumulado estava 14% menor e chegou a menos 41% no acumulado de setembro a novembro.

Em todo o período, a precipitação média no cinturão foi de 337 milímetros, cerca de 150 milímetros a menos que o normal e 32% inferior à média histórica, de acordo com dados da Somar Meteorologia, citados pelo Fundecitrus.

“Os danos provocados variaram de região para região, inclusive entre os talhões de uma mesma fazenda. Nas regiões mais secas, foram observadas com maior frequência árvores com sintomas de estresse hídrico, como intenso desfolhamento, secagem de ramos e frutos pequenos, murchos e com pouca quantidade de suco”, afirmou a nota do instituto.

O tempo seco e as chuvas irregulares recentes no Brasil também têm preocupado outros setores, como produtores de café, soja, milho, entre outros.

Segundo o Fundecitrus, a quebra de safra só não foi maior porque 60% das laranjeiras produtivas ficaram menos exposta à seca: parte das variedades precoces, colhidas antes da pior fase da estiagem; laranjas Pera Rio e variedades tardias de pomares irrigados; e essas mesmas variedades nas regiões de Itapetininga e Avaré, onde as condições climáticas foram um pouco melhores.

“As condições climáticas desfavoráveis, somadas à maior concentração de frutos de segunda florada, diminuíram também o ritmo da colheita, que em novembro alcançou 58% da produção contra 74% no mesmo período no ano passado”, acrescentou.

O peso médio dos frutos foi revisado para 156 gramas, ante as 159 gramas estimadas em maio, 8% menor do que a média das últimas cinco safras.

A projeção da taxa de queda de frutos subiu de 17,3% para 21,1% na média entre todas as variedades, atingindo o maior patamar desde quando a pesquisa foi iniciada, em 2015, informou o Fundecitrus.

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