Que economia o próximo Paulo Guedes vai encontrar em 2023?
Daqui dois meses, os brasileiros vão às urnas para decidir quem será o próximo presidente do país. Entre os preferidos nas pesquisas, estão o ex-presidente Lula (PT) e o atual, Jair Bolsonaro (PL).
Independentemente de quem vença a corrida eleitoral, a verdade é que a equipe econômica e o futuro Paulo Guedes terão muito trabalho para fazer.
Metade dos últimos quatro anos foi marcada por pandemia, guerra, crise das commodities, inflação global e, agora, a possibilidade de recessão nos Estados Unidos e Europa – que já deixaram a economia fragilizada. Para piorar, foram aprovadas propostas de emenda constitucional que ampliaram o risco fiscal brasileiro.
Kamikaze para uns, Bondade para outros
O Congresso liberou a PEC das Bondades, que instaura Estado de emergência para que o governo possa oferecer novos benefícios sociais em ano de eleição – algo proibido pela legislação.
Com isso, foi possível ampliar o Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600, dobra o valor do vale-gás e ainda criar um voucher de R$ 1.000 para caminhoneiros e taxistas. Ao todo, a União vai desembolsar R$ 41,2 bilhões.
Para Mario Rubens, economista e professor de MBAs da Fundação Getulio Vargas (FGV), a PEC acaba sendo uma bolha fiscal imensa para o próximo governo.
“As ações da proposta são paliativas, vão durar quatro ou cinco meses. E esse tipo de medida que fura o teto de gastos, sem muito controle e planejamento, acaba gerando dois problemas: o fiscal e o social”, afirma.
O futuro presidente também pode optar por transformar o Auxílio Brasil mais robusto em um benefício permanente. Tanto Lula quando Bolsonaro já sinalizaram que querem manter os R$ 600 para o ano que vem.
Essa mudança causaria um impacto adicional estimado entre R$ 50 bilhões e R$ 60 bilhões no orçamento de 2013, reduzindo o espaço para outras despesas.
O que esperar de 2023
Com o risco fiscal elevado, o ano que vem já começa com um impacto na atração de investimentos, afetando o câmbio e o Ibovespa.
“Para o câmbio, o cenário é mais complicado, por que a gente tem um cenário externo muito abalado pela guerra na Ucrânia e juros altos nos Estados Unidos”, aponta Jhonatan Hoff, coordenador de cursos na Faculdade da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (FIPECAFI).
Em um cenário de crise, onde os Estados Unidos mantêm a taxa de juros elevada, é natural que haja uma fuga de capital de economias emergentes e fragilizadas para os investimentos em países mais seguros.
A mudança cambial afeta as dívidas do governo. Os últimos dados divulgados pelo Tesouro Nacional apontam que a Dívida Pública Federal subiu 2,51% em junho, para R$ 5,846 trilhões, e a disparada do dólar foi um dos fatores que contribuiu para aumentar o endividamento do governo.
Isso também afeta o Ibovespa (IBOV), que acaba perdendo investidores. E o mercado financeiro já vem acompanhando esse movimento: só no primeiro trimestre, a bolsa brasileira desvalorizou 5% e perdeu a marca dos 100 mil pontos.
“Mesmo os cenários mais positivos apontam para um crescimento reduzido, com o Ibovespa chegando até 105 mil ou 110 mil pontos”, afirma Jhonatan.
Não é só o Brasil
Vale destacar que os Estados Unidos e a Europa estão à beira de uma recessão, enquanto a China tenta equilibrar desaceleração econômica e política de covid zero. Significa que, no ano que vem, será preciso não só lidar com questão econômicas internas, mas também com uma economia global desafiadora.
O grande problema é que China e EUA são os principais parceiros comerciais brasileiros e mudanças nas exportações e importações podem atrapalhar a nossa balança comercial, além de afetar o produto interno bruto (PIB).
E o mercado já projeta um arrefecimento do crescimento econômico brasileiro: o Fundo Monetário Internacional (FMI), por exemplo, revisou o nosso PIB de 1,4% para 1,1% em 2023.
Outro problema que o próximo presidente não vai conseguir escapar é a inflação. Por mais que ela esteja começando a apresentar sinais de baixa, a taxa continua alta – e bem acima da meta de 3,5% para 2022, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual.
E, enquanto a inflação se mantiver alta, o Banco Central deve segurar a Selic acima dos 13% ao ano. Isso encarece o crédito e interfere no crescimento econômico.
Se tem um ponto positivo é a taxa de desemprego, que atingiu o seu menor patamar para o segundo trimestre desde 2015.
Para Gabriel Komatu, especialista em investimentos e sócio-diretor da Komatu, o que mais atrapalha no momento é a falta de previsibilidade – enquanto não sair os resultados de quem será o próximo presidente, fica difícil para o mercado prever os próximos passos.
“O principal ponto que a próxima equipe econômica precisa trabalhar é a confiança. É preciso passar segurança econômica e jurídica para investidores estrangeiros e nacionais”, afirma.
Confira quem são os futuros Paulo Guedes e quais as propostas econômicas dos candidatos.
*Colaboração Juliana Américo e Matheus Caselato
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