Quatro dicas importantes antes de começar a investir na bolsa
Com as recentes quedas do mercado acionário, tanto no Brasil quanto no exterior, fica claro alguns equívocos cometidos pelos investidores — em especial, os iniciantes.
Para ajudar na jornada, que acredite não será tão fácil quanto parece, elenco quatro pontos fundamentais para auxiliá-lo. Todos eles baseados no bom senso.
Reserva de emergência
Você só se torna um investidor após constituir a reserva de emergência, que nada mais é que um colchão de liquidez para imprevistos.
Os eventos não esperados são mais recorrentes do que imaginamos. Quem poderia prever uma pandemia em 2020, com sérios danos de saúde para a população e forte impacto na economia global. Nem mesmo o mais pessimista conseguiu imaginar um acontecimento de tamanha magnitude.
Como abordado por Morgan Housel: “devemos usar as surpresas do passado para admitir que não temos a menor ideia do que pode acontecer no futuro”.
E na vida pessoal esses eventos inesperados, ou até mesmo já previstos, mas sem uma data específica, são corriqueiros, tais como: perda do emprego, redução da renda, nova profissão, afastamentos, mudança de cidade, acidentes, gastos com saúde, entre outros.
Por isso, é essencial ter alguns meses de gastos fixos mensais guardados para possíveis emergências. O número de meses varia de acordo com o indivíduo. Qual a estabilidade do emprego? Conta com quantas fontes de renda? É solteiro ou casado? Possui filhos? Mas, de modo geral, 6 a 24 meses podem ser suficientes.
A reserva de emergência deve priorizar dois dos três pilares dos investimentos — que são seguranças, liquidez e rentabilidade. O foco aqui deve estar em segurança e liquidez.
Afinal de contas, o dinheiro deve ficar disponível para resgate imediato e não sofrer com as oscilações de mercado. Os investimentos pós-fixados (indexados ao CDI) de liquidez diária ou Tesouro Selic são os mais recomendados. O intuito é garantir o poder de compra, ou minimizar o efeito inflacionário ao longo do tempo.
Ciência do objetivo
É conveniente e oportuno ter uma clara avaliação do objetivo do investimento. Pois cada um demandará uma classe de ativo.
Se a pretensão, por exemplo, é trocar de carro no prazo de 1 ano, não é adequado fazer a alocação em ações. Nesse período pode ocorrer uma forte desvalorização dos papéis e corroer parte do recurso destinado a esse fim.
Agora, se o plano é para aposentadoria daqui a 25 anos, a exposição à renda variável passa a ser uma ótima opção, já que apresenta maior expectativa de retorno no longo prazo.
Os objetivos de curto e médio prazo requerem ativos de nenhuma ou baixa volatilidade, e objetivos de longo prazo são compatíveis com ativos de maior risco e maior perspectiva de retorno futuro.
Em resumo, quanto menor o intervalo de uso projetado do recurso, maior deve ser a exposição à renda fixa. E quanto mais distante a previsão de uso, maior pode ser a exposição à renda variável.
Caso o resgate previsto seja de curtíssimo/curto prazo, é coerente estar 100% exposto em ativos sem volatilidade, e o investimento em bolsa é recomendado para prazo superior a dez anos.
Avaliação do perfil de risco
A análise do perfil de risco possibilita criar o portfólio de investimentos condizente com o nível de aceitação de volatilidade e, até mesmo, da necessidade de enfrentar os movimentos do mercado.
Alguns aspectos devem ser considerados, dentro eles: idade, prazo do investimento, grau de conhecimento técnico, capacidade de suportar as oscilações das ações e histórico como investidor.
Em momentos de euforia, ou seja, em mercados de alta, as pessoas costumam sobrevalorizar o seu perfil de risco. Na prática, se tornam mais propensas a um perfil mais agressivo do que possuem. Já com os mercados em declínio, o contrário acontece. Elas tendem a adotar um perfil mais conservador.
Sendo assim, é preciso fazer uma avaliação racional e dizer a verdade para si mesmo, ou, pelo menos, não mentir. Tente ao máximo se afastar do momento atual do ciclo econômico e do mercado para chegar próximo do real perfil de risco.
Conhecimento técnico
Um caminho conhecido é mais fácil de ser percorrido do que um desconhecido. Compreender o mercado financeiro no sentido técnico aumentará a confiança diante das suas flutuações e facilitará, também, nas tomadas de decisões.
O entendimento dos riscos, da dinâmica das classes de ativo, da relevância da diversificação e da proteção cambial, dos ciclos econômicos, das questões tributárias; possibilita uma exposição mais agressiva sem, necessariamente, elevar o risco.
O conhecimento sobre esses aspectos contribui para a formação da carteira de investimentos.
Ninguém pode saber tudo, mas é possível trabalhar para entender em um nível básico sólido os pontos mais relevantes da área.
Considerações finais
Feita a avaliação das orientações abordadas, você poderá decidir de maneira mais assertiva qual a porcentagem adequada à renda fixa e à renda variável — e terá um portfólio alinhado aos seus objetivos, suas necessidades e a capacidade de absorver risco mantendo a qualidade de vida.
O conhecido “embrulho no estômago” dos investidores tem como causa, normalmente, a alocação excessiva em bolsa. A volatilidade da carteira é controlada pela renda fixa, pois possui maior previsibilidade.
Investir é simples, mas não é fácil. O verdadeiro aprendizado estará no campo de batalha. A experiência, que será adquirida no caminho, levará a maturidade necessária como investidor. Algumas lições precisam ser vividas antes de serem compreendidas.
Por fim, as dicas mencionadas servem de norte e fazem parte da esfera de competência pessoal. A atenção precisa ser voltada ao que está sobre o seu controle. A intenção foi colaborar no sentido de minimizar ou evitar o arrependimento futuro e facilitar o processo.