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Qual o impacto do coronavírus na indústria de criptoativos?

23 mar 2020, 15:49 - atualizado em 23 mar 2020, 16:53
bitcoin
Neste artigo, veremos como a pandemia do coronavírus está afetando cripto e quais são as futuras consequências para a indústria (Imagem: Pixabay/pattymalajak)

Não importa em que parte do mundo você está: você vai sentir o efeito da pandemia do COVID-19.

Embora o impacto dessa crise afete a nossa vida pessoal, também afeta profundamente a indústria. Turismo, viagem e fabricação estão entre os mais atingidos, mas cada setor está sofrendo o impacto da pandemia, inclusive cripto.

Menores preços, menos capital

Quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a propagação do coronavírus como pandemia, os ativos de risco começaram a cair.

O mercado acionário teve um de seus piores dias em mais de uma década, enquanto commodities, títulos corporativos e o mercado imobiliário também sofreram. Não foi diferente com os criptoativos.

O preço do bitcoin (BTC) caiu agressivamente — junto com as ações — e a maioria das altcoins (criptomoedas alternativas ao bitcoin) sofreram ainda mais. Embora criptoativos tenham conseguido recuperar algumas de suas perdas, a queda de seus preços afeta bastante os projetos menores.

A maioria dos projetos de altcoins financiam seu desenvolvimento por meio da venda de suas criptomoedas ou seus tokens para pagar desenvolvedores e outros contribuidores.

Em 2018, cada DASH valia US$ 1 mil. Porém, com a recente queda de mercado, agora está sendo negociado apenas a US$ 67, mostrando que até projetos populares foram afetados pela recente crise (Imagem: Facebook/Dash)

Dash, o popular projeto de criptomoeda, por exemplo, opera uma empresa autônoma descentralizada (DAO, na sigla em inglês) em que membros da comunidade votam sobre propostas que são financiadas usando DASH.

Isso significa que, quando o preço de um DASH vale US$ 1 mil, assim como em janeiro de 2018, o projeto tinha mais fundos à sua disposição do que tem agora, em que DASH está sendo negociado a US$ 67.

Embora DASH seja um grande projeto que conseguiu enfrentar a tempestade, para menores projetos de cripto, com capitalizações de mercado abaixo de US$ 50 milhões, outro “inverno cripto” poderia ser o fim, já que sofrerão para pagar por desenvolvimento e iniciativas de marketing.

Embora o bitcoin esteja bem-posicionado para se beneficiar de injeções monetárias de bancos centrais e do ambiente de taxas zero, o mesmo não pode ser dito para menores projetos cripto.

Por conta da pandemia, fechar negócio e trazer investidores para o projeto se tornaram ainda mais difíceis nessas últimas semanas (Imagem: Freepik/macrovector)

A arrecadação de capital ficou ainda mais difícil

Desde que o mercado de ICOs entrou em colapso, startups de blockchain estão buscando por investidores para arrecadar fundos. Porém, por conta do coronavírus e da incerteza que vem com ele, isso se tornou ainda mais desafiador nas últimas semanas.

Embora empresas de capital de risco ainda estejam aplicando capital, reuniões presenciais se tornaram impossíveis e investidores estão analisando piamente antes de investir.

Gustav Christopher Wagner, fundador e CEO da Blockfacts, fornecedora de dados do mercado, afirmou o seguinte à Brave New Coin:

“Desde que a propagação do coronavírus virou uma crise global, reuniões com possíveis investidores migraram para conferências pela internet. Felizmente, empresas de capital de risco estão dispostas a participarem de reuniões virtuais e também de firmar rodadas de financiamento. Porém, aumentou o escrutínio sobre seu modelo de negócios”.

Além do cancelamento de voos, eventos e aulas no mercado tradicional, também houve o cancelamento de grandes conferências recorrentes do mundo cripto (Imagem: Pixabay/geralt)

Cancelamento de conferências sobre cripto

Quando o novo coronavírus começou a se espalhar para além da China, ficou claro que não era mais um problema nacional. Logo que o vírus se espalhou para outros países, a primeira leva de conferências de blockchain foi cancelada.

Até o início de março, todas as conferências foram canceladas. Logo, não há nenhuma previsão para que esses encontros aconteçam.

Já que a indústria de criptoativos era repleta de conferências nos últimos anos, uma pausa pode não ser ruim para a comunidade mas, para os organizadores, é um grande prejuízo.

Felizmente, para organizadores e ferrenhos participantes de conferências cripto, ainda existe a opção de realizar um evento virtual. Foi exatamente essa a opção escolhida pelos organizadores da grande conferência Consensus por conta da pandemia.

Em vez de realizar o evento em um hotel em Nova York, a edição deste ano vai ser uma experiência virtual distribuída.

homeoffice
A indústria cripto é uma das mais bem equipadas para lidar com a comunicação entre diversos fusos horários, mantendo a produtividade e gerenciando equipes de forma remota (Imagem: Unsplash/@teddygraphics)

Home office? Tudo bem! Em cripto, é um dia normal de trabalho

Vendo pelo lado positivo, o “home office” foi acolhido desde o primeiro dia por muitas startups de blockchain e projetos de cripto por conta de sua natureza distribuída.

Assim, a migração global para o trabalho remoto não é um problema técnico para a maioria das empresas de cripto.

A indústria cripto é, sem dúvidas, uma das mais bem equipadas para lidar com a comunicação entre diversos fusos horários, mantendo a produtividade e gerenciando equipes de forma remota.

Embora funcionários de outras indústrias estejam tendo dificuldades de se ajustar, a maioria das startups de cripto já estão trabalhando remotamente.

stablecoins
Stablecoins são moedas com preço fixo, bem mais estáveis do que criptomoedas normais, já que seus valores são fixados a outros ativos, como o dólar americano ou o ouro (Imagem: CB Insights Research)

Venham, stablecoins!

O uso de stablecoins aumentou nas últimas semanas. Essas criptomoedas lastreadas principalmente em dólar viram fundos chegarem conforme negociadores e investidores moveram seus fundos para ativos estáveis quando os ativos de risco entraram em colapso.

As duas principais stablecoins lastreadas em dólar, Tether USD (USDT) e USD Coin (USDC), viram influxos significativos. Até mesmo stablecoins menores, como Binance USD (BUSD) e Paxos Standard (PAX) tiveram fluxos de caixa e subiram no ranking de criptoativos (em capitalização de mercado).

Jeremy Allaire, CEO e cofundador da Circle, emissora da USD Coin, tuitou:

“[USD Coin] vem aumentando a demanda de mercado nos últimos dias, atingindo novos recordes de alta: de US$ 568 milhões em circulação. É fascinante ver a ‘fuga para ativos mais seguros’ no mercado macro de cripto, mas também a demanda por liquidez em dólar de alta qualidade para os mercados”.

“A demanda por dólares de internet — digitais, rápidos, globais, seguros e baratos de se usar — deve aumentar significativamente. Pessoas e empresas vão querer uma arquitetura onde possam realizar e receber pagamentos com menos risco de contraparte e mais segurança”, acrescentou ele.

Testando a potência do setor DeFi

O mercado de finanças descentralizadas (DeFi) foi atingido como resultado da correção no mercado de criptoativos direcionada pelo coronavírus.

De acordo com dados compilados pelo site DeFi Pulse, o valor total de fundos trancados nos protocolos DeFi caiu cerca de 50%, de seu nível recorde de alta de mais de US$ 1,2 bilhão na metade de fevereiro para US$ 633 milhões hoje.

A queda no “valor de mercado” do setor DeFi pode ser atribuída à migração dos investidores em protocolos DeFi para o dinheiro físico. Porém, uma falta de confiança na estabilidade das aplicações DeFi também podem ter influenciado no declínio do valor de mercado.

Sob a ótica de como o protocolo da MakerDAO falhou em manter suas atividades de sempre durante a “quinta-feira sombria”, certo ceticismo pode ser justificável.

Ainda não se sabe quais serão os efeitos a longo prazo na indústria de criptoativos. Resolver a situação atual e voltar para uma sensação de normalidade é o que, provavelmente, a indústria cripto, e a maioria das indústrias em queda, mais precisem por enquanto.

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