Qual é o tamanho do problema da Americanas (AMER3)?
O anúncio de inconsistências contábeis de aproximadamente R$ 20 bilhões que culminaram na renúncia de Sergio Rial joga a Americanas (AMER3) no olho do furacão.
Em comunicado divulgado ao mercado nesta quarta-feira (11), a companhia informou que, em análise preliminar, foram detectadas inconsistências em lançamentos contábeis redutores da conta fornecedores realizados em exercícios anteriores, incluindo o exercício de 2022.
Entre as inconsistências, há a existência de operações de financiamento de compras em valores da mesma ordem acima nas quais a companhia é devedora perante instituições financeiras e que não se encontram adequadamente refletidas na conta fornecedores nas demonstrações financeiras, afirmou a Americanas.
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Segundo a varejista, ainda não é possível determinar todos os impactos de tais inconsistências na demonstração de resultado e no balanço patrimonial da companhia.
Tempestade perfeita da Americanas
Fernando Ferrer, analista da Empiricus Research, diz que a Americanas enfrenta a tempestade perfeita.
O momento operacional “muito ruim” e o ambiente macroeconômico nada favorável jogaram a ação da companhia para baixo, concedendo a ela o título de um dos piores papéis do Ibovespa em 2022 (perdendo apenas para o IRB).
Agora, além da expectativa de manutenção do quadro negativo da economia doméstica, o surgimento de grandes dúvidas sobre o impacto dessas inconsistências (com chances de fraude), Ferrer levanta a possibilidade de um cenário “bastante danoso” para a reputação do grupo.
Segundo Ferrer, apesar da falta de informações mais claras, o mercado pode esperar uma reação muito negativa no pregão desta quinta. Um aumento de capital também deve acontecer logo mais.
“Hoje, a empresa tem um valor de mercado de R$ 11 bilhões. Quando olhamos o patrimônio líquido, de R$ 14,7 bilhões, e essas inconsistências de R$ 20 bilhões, se a gente tiver um write-off de tudo isso, a companhia teria patrimônio líquido negativo. Então, precisaria que fizesse um aumento de capital – inclusive, os controladores deveriam participar disso – para cobrir esse rombo, caso ele de fato exista nesse tamanho todo que estamos supondo”, afirma o analista.
A reação negativa pode não ficar só na Americanas, acrescenta Ferrer.
“Pode respingar em outros papéis que os controladores tenham”, ressalta, citando a Ambev (ABEV3), que tem a 3G, cujos sócios são acionistas de referência da Americanas, como dona.
Os ADRs (American Depositary Receipts) da cervejaria (ABEV) recuavam cerca de 3% no after market da Bolsa de Nova York.