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Qual é a melhor reserva de valor: bitcoin ou ouro?

05 jun 2021, 11:00 - atualizado em 04 jun 2021, 15:08
A narrativa de que o bitcoin é um ativo de reserva de valor que compete com o ouro continua a capturar a imaginação dos investidores. Porém, depois de uma queda de 50% no preço, o bitcoin perdeu seu brilho? (Imagem: Unsplash/executium)

Um dos principais motivos pelos quais investidores compram bitcoin (BTC) é porque acham que este irá armazenar valor e que irá aumentar de valor ao longo do tempo. Neste artigo, analisamos alguns argumentos contra e a favor.

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Bitcoin: um novo tipo de ouro ou algo melhor?

Ao longo de 2020, o bitcoin era frequentemente descrito como “o ouro digital”. A principal criptomoeda do mercado refletia a trajetória do metal precioso e começou a surgir como uma possível reserva de riqueza conforme a economia global fracassava durante o cenário da pandemia do coronavírus.

Após a queda de todos os mercados em março de 2020, o bitcoin foi o primeiro ativo a se recuperar de forma significativa (veja mais no gráfico abaixo) e, desde então, teve um desempenho superior ao ouro (XAU), a títulos e ações, mesmo após a queda de 50% no preço em maio.

(Imagem: CaseBitcoin)

Todos os investidores iniciais de bitcoin que adquiriram e armazenaram o ativo como uma reserva de valor se deram bem — alguns se deram muito bem.

Nos 4525 dias desde que o primeiro bloco de bitcoin foi minerado, apenas aqueles que adquiriram bitcoin entre 2 de fevereiro e 23 de maio de 2021 tiveram prejuízo.

Mas e aqueles investidores que compraram bitcoin no auge de seu ciclo de alta recente? É provável que irão considerar a recente queda para US$ 30 mil como algo incomum para um ativo de reserva de valor.

Porém, investidores nessa situação devem lembrar que a volatilidade é o preço que você paga pelo desempenho. Também devem se confortar pelo fato de que, a longo prazo, detentores de bitcoin nunca terão perdido seu dinheiro.

“Ninguém que comprou bitcoin e o armazenou por mais de quatro anos (200 semanas) perdeu dinheiro, NUNCA” (Imagem: Twitter/PlanB)

O ouro digital não está imune aos eventos macro do mercado

Após o recente aumento no sentimento de aversão ao risco, por conta de um aumento no número de casos de coronavírus em todo o mundo, mercados globais foram abalados.

Uma série de acontecimentos negativos, desde Elon Musk suspendendo o suporte da Tesla para pagamentos em bitcoin à China sugerindo a possibilidade de proibir a mineração cripto, resultaram em uma grande liquidação nos mercados cripto.

Conforme o bitcoin teve um ótimo ciclo de alta no início do ano, seu preço atingiu um auge de US$ 64.346,09 em 16 de abril.

A série de drásticos retrocessos fizeram com que o preço do bitcoin chegasse a US$ 30 mil, resultando em uma liquidação de US$ 8 bilhões. Não era a ação de preço que os investidores esperavam de um “ativo defensivo” e uma reserva estável de riqueza.

(Imagem: TradingView)

O bitcoin pode se tornar o ouro 2.0?

A recente volatilidade do bitcoin sugere que seu status de alternativa de proteção viável ao ouro ainda está em fluxo. Porém, muitos investidores influentes, como Paul Tudor Jones e Stanley Druckenmiller, continuam a ver o bitcoin evoluir em um ativo parecido com um ouro digital.

Bitcoin e ouro: risco vs. resiliência no século XXI

Em entrevista ao The Hustle, Druckenmiller explicou por que investiu US$ 20 milhões em bitcoin.

“Quando o bitcoin deu o primeiro passo, acho que de US$ 50 para US$ 17 mil, fiquei espantado. Queria comprá-lo todos os dias. Estava subindo e, apesar de eu não ter pensado muito, eu não conseguia aceitar o fato de que estava subindo e eu não o tinha”, disse ele.

Druckenmiller também já descreveu o bitcoin como uma “solução em busca de um problema”. Agora, ele considera bancos centrais como o tal problema.

“Descobri o problema: quando apresentaram a lei CARES [‘Lei de Auxílio e Assistência ao Coronavírus e Segurança Econômica’], o presidente Powell começou a cruzar todos os tipos de limites do que o Fed poderia ou não fazer. O problema era que Jay Powell e os bancos centrais do mundo enlouqueceram e tornaram o dinheiro fiduciário ainda mais questionável do que já era quando eu costumava armazenar ouro”, explicou Druckenmiller.

Do ouro ao bitcoin:
o que aprendemos com a crise de 2008?

Enquanto isso, um novo relatório do Goldman Sachs argumenta que o bitcoin poderia ser melhor compreendido como cobre digital.

A empresa de investimentos disse que, apesar de o bitcoin estar passando por uma ampla adesão institucional, muitos investidores ainda tentam entender por que um ativo digital tem valor e consideram o mercado de criptomoedas como uma bolha especulativa.

No relatório, Zach Pandl, colíder da estratégia de câmbio do Goldman Sachs Research, argumenta que, embora o bitcoin se prove como um bom investimento ao longo do tempo, essa perspectiva é muito limitada:

O bitcoin é um meio que está começando a atender as funções do dinheiro — principalmente como uma reserva de valor. Virtualmente, qualquer coisa pode servir a esse propósito contanto que ganhe ampla adesão social, e o bitcoin teve um progresso significativo nesse caminho.

Segundo Pandl, para entender o bitcoin, é melhor começar com o ouro:

O ouro possui uma função única no sistema financeiro global. É tanto uma commodity útil como um ativo de reserva de valor parecido com o dinheiro. Porém, diferente dos meios monetários convencionais, não é emitido por um governo e não denomina quaisquer transações em bens ou ativos.

O ouro, de acordo com Pandl, atua como um instrumento monetário alternativo para estados adversos do mundo — quando investidores estão incertos sobre a segurança de ativos convencionais ou dinheiro fiduciário em geral (devido ao risco de inflação ou confisco).

Já que o ouro possui um fornecimento quase fixo, seu valor nominal tende a subir na proporção da inflação em grandes mercados. Essas propriedades de correlação e reserva de valor permitem que o ouro tenha um papel de diversificação muito útil em portfólios.

O bitcoin como o ouro da geração digital

Como a tendência é que tudo se torne cada vez mais digital e rápido, o bitcoin poderá ter sucesso entre a nova geração que já está acostumada com as tecnologias (Imagem: Pexels/karolina-grabowska)

Pandl disse que a hora do dinheiro digital chegou:

Qualquer meio alternativo precisaria ser seguro, armazenado de forma privada, ter um fornecimento fixo ou quase fixo e ser transferível — e, idealmente, estar fora do sistema tradicional de pagamentos.

Em nossa sociedade moderna e globalizada, onde uma parte significativa da interação social e do comércio acontece on-line (principalmente entre os mais jovens), também precisará ser digital.

Porém, mais importante ainda, precisaria ter o potencial de ampla adesão social — qualquer coisa pode ser dinheiro contanto que tenha essa possibilidade.

Assim, o bitcoin é um meio alternativo e plausível de reserva de valor ao ouro e, no momento, o melhor candidato entre as criptomoedas de estrutura similar devido à sua ampla adesão social (ou seja, sua “marca”).

Por que o bitcoin é tão comparado com o ouro?

Futuros desafios

De certa forma, pode ser adequado considerar o bitcoin como uma moeda nascente que está sendo monetizada em tempo real. Isso certamente explicaria a volatilidade tanto para cima como para baixo, com a expectativa de que isso diminua quando o ativo atingir adesão completa.

É claro que o bitcoin possui inúmeros desafios a longo prazo que podem impedir essa adesão e resultar em ainda mais volatilidade. Esses desafios incluem sua pegada energética, a competição com as altcoins e a ameaça da regulamentação.

Em equilíbrio, uma reserva de valor tão volátil como o bitcoin não seria muito útil, sugere Pandlr.

Entretanto, criptoativos estão nos primórdios; é melhor pensar nos preços atuais como uma certa probabilidade de que o bitcoin e outra moeda/token poderá atingir maior adesão no futuro, quando seu preço poderá estar extremamente mais alto.

Assim, pequenas mudanças nessas probabilidades podem resultar na alta volatilidade de preço atualmente. Investidores em bitcoin especulam que, no futuro, irá obter aceitação quase universal como um dinheiro não soberano, com altos rendimentos (e alta volatilidade) ao longo do caminho.

Nesse sentido, o bitcoin pode, sem dúvidas, emergir como um ativo viável de proteção e uma alternativa ao ouro no futuro — um ativo amplamente utilizado ao redor do globo.