Putin e Xi prometem amizade, mas conversas não rendem avanços na Ucrânia
Xi Jinping e Vladimir Putin saíram nesta terça-feira com palavras calorosas de amizade entre China e Rússia e críticas conjuntas ao Ocidente, após dois dias de conversas, mas sem nenhum sinal de avanço diplomático em relação à Ucrânia.
A visita de Xi a Moscou –há muito saudada pelo Kremlin como uma demonstração de apoio de seu amigo mais poderoso– contou com muita bonomia demonstrativa. Os dois líderes se referiram um ao outro como amigos queridos, prometeram cooperação econômica e descreveram as relações de seus países como as melhores que já tiveram.
Uma declaração conjunta incluiu acusações familiares contra o Ocidente –como as de que Washington estaria minando a estabilidade global e a Otan invadindo a região da Ásia-Pacífico.
Sobre a Ucrânia, Putin elogiou Xi por um plano de paz proposto no mês passado e culpou Kiev e o Ocidente por rejeitá-lo.
“Acreditamos que muitas das provisões do plano de paz apresentado pela China estão em consonância com as abordagens russas, e podem ser tomadas como base para um acordo pacífico quando estiverem prontos para isso no Ocidente e em Kiev. No entanto, até agora nós não vemos tal prontidão da parte deles”, disse Putin.
Mas Xi quase não mencionou o conflito, dizendo que a China tinha uma “posição imparcial” sobre ele.
A cúpula, a maior demonstração de diplomacia de Putin desde que ordenou a invasão da Ucrânia há um ano, foi parcialmente ofuscada em Kiev, onde o primeiro-ministro do Japão, Fumio Kishida, fez uma visita não anunciada e se encontrou com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy.
Último líder mundial a fazer essa jornada para mostrar solidariedade à Ucrânia, Kishida visitou Bucha, nos arredores da capital Kiev, deixada repleta de mortos no ano passado após a retirada das tropas russas. Ele colocou uma coroa de flores em uma igreja antes de observar um momento de silêncio e reverência.
“O mundo ficou surpreso ao ver civis inocentes em Bucha mortos há um ano. Eu realmente sinto uma grande raiva pela atrocidade ao visitar este mesmo lugar aqui”, disse Kishida.
Washington denunciou o momento da visita de Xi a Moscou, que aconteceu apenas três dias depois que o Tribunal Penal Internacional de Haia emitiu um mandado para a prisão de Putin por acusações de crimes de guerra de deportação ilegal de crianças ucranianas.
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse que a visita em tal momento equivale a dar a Putin “cobertura diplomática” para as atrocidades. Moscou nega a deportação ilegal de crianças, e diz que as recebeu para proteção.
Putin e Xi assinaram um acordo por uma parceria “sem limites” no ano passado, apenas algumas semanas antes de a Rússia invadir a Ucrânia.
Desde então, Pequim se recusou a culpar Moscou pela guerra, e condenou as sanções ocidentais à Rússia, mesmo que a China tenha lucrado ao garantir descontos para petróleo e gás que a Rússia não vende mais para a Europa.